"Você achou difícil respirar? Você já chorou tanto que ficou até dificil de enxergar na escuridão, sozinho? E ninguém se importou, pois não havia ninguém lá"
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Eu costumava gostar de acordar.
Quero dizer, antes de tudo isso acontecer.
Agora, acordar é o meu maior temor.
É na hora que acordo que eu olho para o lado e vejo que Rebecca não está ao meu lado.
São nessas horas que eu sinto a minha cama vazia, que eu percebo que ela não está segurando a minha mão enquanto me observa dormir, e é quando eu noto que já não posso mais tirar fotos dela e acariciar suas bochechas macias.
Já fazem duas horas que eu acordei e continuo encarando o teto, ignorando a sensação de estar sendo observada por ela.
A minha mãe há pouco veio até o meu quarto e trouxe o café da manhã, que continua intocável ao meu lado. Não faço questão de saber o que é.
Enquanto ela colocava a comida na cama e deixava um beijo em minha testa, eu encarava o fantasma de Rebecca atrás dela, me olhando com a mesma expressão quebrada de ontem.
Será que sua face estava assim quando ela enfiou a faca em si mesmo? Enquanto ela estava trancada, agonizando no banheiro ou enquanto o seu sangue escorria pelo chão? Será que ela se sentiu feliz? Aliviada? Arrependida?
Não sei se eu quero saber.
Só tomo coragem para levantar quando a ouço colocar algo em cima da minha mesa. O meu quarto continua uma completa bagunça, mas eu vejo que seu fantasma tenta colocar tudo em seu devido lugar. Quando minha mãe veio mais cedo ela agradeceu por eu ter arrumado a minha mesa, mas eu não fiz absolutamente nada. Talvez eu ainda esteja sonhando, mas agora que estou mais calma, eu a vejo.
Ela não é apenas uma alucinação, e eu não entendo o porquê de não estar assustada com isso.
- Eu não sou. - Ouço a sua voz que tantas vezes fez as borboletas em meu estômago se debaterem, escapar pela boca pálida e seca.
Eu não me surpreendo. Na verdade, eu sinto como se estivesse completamente anestesiada, incapaz de sentir qualquer coisa que seja. É isso o que é estar de luto? Sequer ter vontade de mexer um músculo do corpo, apenas por lembrar que aquela pessoa que um dia te fez feliz simplesmente deixou de existir?
É curioso. Mas não estou gostando da experiência.
- É claro que não é. - Eu rio com sarcasmo. Sento-me na cama e passo a mão pela minha cabeça. - Se você estava com tanta vontade de desaparecer do mundo, por que continua aqui?
Questiono, controlando o meu tom de voz para que não saia alto o suficiente para os meus pais se convencerem de que eu estou desenvolvendo algum tipo de inicio de esquizofrenia ou algo assim.
- Eu não queria desaparecer do mundo, amor. - Ela murmura, olhando para o chão. Rebecca veste uma roupa branca que eu não lembro de vê-la vestida antes, mas isso é o detalhe menos importante no momento, por mais que ela esteja mais linda do que nunca.
O beijo da morte é realmente questionável.
- Então o que você pensou quando pegou aquela faca e rasgou o seu próprio peito, Rebecca? O que você achou que aconteceria?! - Pergunto, encarando-a de punhos cerrados.
O fantasma abaixa a cabeça e encara as próprias mãos brancas. - Eu só queria que a dor parasse de vez. Apenas isso.
A minha respiração está novamente acelerada e o meu nariz ardendo. Droga, isso é uma merda. A morte é uma merda. A depressão é uma filha da puta. O padrasto de Rebecca é qualquer coisa, menos um ser humano, e agora é impossível não sentir ainda mais raiva dele.
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O céu ainda está azul // freenbecky
FanfictionJá adianto que a fic é o puro suco da depressão e tristeza. ᴀᴅᴀᴘᴛᴀçãᴏ