capítulo 7

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"Se eu tivesse apenas sentido o calor do seu toque, Se eu apenas tivesse notado como você sorri quando você cora ou como você enrola seus lábios quando se concentra o suficiente... Eu saberia para que eu estive vivendo por todo esse tempо. O porquê eu tenho vivido" Turning page, Sleeping at last.

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Faz cerca de quarenta minutos que eu sai da delegacia, e eu não sei dizer se me sinto mais aliviada ou mais nervosa.

A caminhada até o meu apartamento não é longa, mas eu preciso parar algumas vezes durante o caminho para respirar, para sentir o ar entrando em meus pulmões, pois já fazem dias que eu não sinto essa sensação dentro de mim. Não que agora eu consiga sentir, mas saber que talvez algo que possa incriminar Seng existe, já faz com que eu sinta uma pontada de esperança crescer minimamente em meu peito.

Eu contei absolutamente tudo o que ouvi do fantasma de Rebecca para a polícia. Não sei se eles irão acreditar em mim, muito menos se o que eu ouvi foi realmente Rebecca ou alguma espécie de receptáculo que a imaginação criou para que eu insira ali todas as dores e deixe de me sentir culpada por tudo que vem acontecendo.

Na última vez que eu paro de andar, já estou passando pela rua dos meus pais. A princípio eu não entro lá, já que estou voltando para o meu apartamento. Quero dizer, eu planejava não entrar, mas algo dentro de mim fez com que eu sentisse a necessidade de atravessar a avenida e adentrar a rua na qual eu vivo desde que me entendo como Freen Sarocha.

Sinto o fantasma de Rebecca me olhar confusa quando mudo a rota, mas ela nada diz, apenas me segue sem se importar com os carros que dirigem em alta velocidade ao atravessarmos a rua, levando em conta que era eles não podem a atingir.

Olho rapidamente para a casa dos Armstrong assim que paro em frente a minha, olhando tristemente para o jardim antes florido que Rebecca cuidava, mas que há algumas semanas ela deixou de se importar, fazendo com que todas as flores e a grama secassem. Heide também não parece se preocupar, levando em conta que a roseira está com uma aparência desertica e seca, como quem não toma uma gota de água há meses.

Todas as janelas e portas da casa estão fechadas, nem mesmo é possível saber se mora alguém ali dentro. Antes aquele lugar costumava ser tão limpo e bem organizado... Me pergunto o porquê das coisas terem começado a desandar desta maneira.

Apenas o porquê.

Eu atravesso o quintal acimentado dos meus pais e bato na porta de madeira, esperando que alguém me atenda. Demora um pouco para que a porta seja aberta, e é a minha mãe quem o faz, seu sorriso antes adormecido, nascendo minimamente em seus lábios, as bochechas levemente enrugadas pela idade se erguendo com o sorriso ao perceber que sou quem estou na porta.

- Não aguentou ficar mais de sete horas longe da mamãe? - Ela pergunta, erguendo os braços enquanto dá espaço para que eu possa entrar.

Eu também ergo um pequeno sorriso para ela, e assim que dou três passos para dentro de casa me afundo no abraço dela, abraçando-a com força e escondendo o meu rosto em seu pescoço quente e perfumado.

Ouço a porta ser fechada atrás de mim e logo em seguida a sua mão um pouco pesada acariciar as minhas costas, sua palma esquerda apoiada em minha cabeça enquanto a deito em seu ombro.

Quando estou perto da minha mãe eu me sinto em pleno conforto, como se estivesse dentro de uma bolha inviolável que não pode ser atingida por nada.

Eu nunca fui de abraçar os meus pais e dizer "eu te amo" para eles, então não sei dizer se eu gosto ou não, mas é certo que o abraço de mãe é o melhor lugar onde uma filha pode estar.

O céu ainda está azul // freenbecky Onde histórias criam vida. Descubra agora