1° Capítulo

104 7 0
                                    

O sol mal surgirá, ameaçando sequer aparecer naquele dia, no entanto, o homem se apressava em descer as escadas da casa principal de sua família, seguindo em direção a varanda.

O tempo parecia mais escuro que o normal e fechado, ameaçando chover.
Aquele período era o preferido de Kaya.
O lembrava de como dias considerados ruins eram reconfortantes quando tomava-se uma xícara de café ou lia um livro.

Sentou-se em sua costumeira cadeira na varanda, encarando a grama verde do enorme jardim mal cuidado.
Seus dias pareciam iguais.
A mesma rotina, os mesmos assuntos.
Mas algo estava diferente naquela manhã.

— Kaya...— a voz fraca soou, fazendo com que o homem sorrise minimamente sem dentes, reconhecendo-a.

— Você chegou cedo, Alina.— o homem suspirou, observando a mulher caminhar lentamente em sua direção.

Os cabelos negros e o vestido simples da cor preta a fazia se misturar com os funcionários da mansão principal, no entanto, era sua secretária.

— Você pediu algo ontem tão tarde, então imaginei que era urgente.— a mulher de cabelos curtos sentou-se na cadeira a frente de Kaya, retirando seu óculos de sol.

Os olhos do homem recaíram imediatamente na enorme pasta negra que havia sido deixada sobre a mesa.

— Realmente era algo urgente. Então, o que conseguiu?— Kaya perguntou sem enrolação, observando os olhos negros da mulher o encarar curiosos.

— Eu não sei o que você pensa em fazer, mas isso pode alcançar proporções maiores.— a mulher suspirou ao lembrar a situação em que Kaya se encontrava dentro da empresa de seu avô

— Alina, nada pode me assustar. Eu sou um Campana rejeitado. Diga logo o que encontrou.— o mais velho resmungou, tomando uma xícara de café em mãos.

— Certo.— a mulher suspirou, abrindo a pasta que trazia em mãos.— Suna Amara Aslan. A mais velha de duas irmãs do único filho da família Aslan. A mãe deixou a família a vinte anos atrás após o divórcio... Ela estudou economia, mas não exerce a profissão.— Alina explicou ao passar a ler o relatório que havia recebido aquela manhã.

— Economia? Com uma empresa daquele cacife o pai dela poderia ter crescido mais.— a voz de Kaya surgiu um tanto revoltada.

— Infelizmente a família Aslan tem uma tradição antiga que não permite que as mulheres assumam cargos elevados. Não foi diferente com a senhorita Suna. Ela até tentou trabalhar em uma pequena mercearia como gerente, mas quando Otávio soube ele...— Alina respirou fundo, engolindo as palavras.

Aquilo havia sido cruel.
Não conseguia imaginar aquela situação diante de seus olhos.

— Ele o que, Alina? — o homem a olhou, pela primeira vez aquela manhã.

— Ele a espancou no meio da mercearia. A situação se tornou caso de cirurgia, mas ninguém se envolveu.— a mulher explicou, trêmula, observando as fotos contidas no dossiê.

— Ele quase matou a filha e ninguém disse nada?— Kaya resmungou, notando a incredulidade presente nos olhos de Alina.

Deduziu por si só que as violencias com toda a certeza era frequente.
Os olhos de Suna o diziam isso.

— A irmã mais nova dela quem fugiu com Felip.— a secretaria explicou, notando os olhos de Kaya brilharem.

Sabia que o motivo dele pedir tais informações não iria resultar em algo bom, no entanto, não iria contra.
Aquele homem conseguia ser cruel quando queria.

— Interessante. Agora ela vai carregar o fardo de uma honra machada. Se não pode trabalhar, vai ter que esperar por um marido, o que não é provável que aconteça, por causa de Felip.— o homem deu de ombros, levantando-se de sua cadeira.

Sol da Meia Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora