3° Capítulo

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A noite fria fez com que o sono de Kaya sumisse por inteiro.
Sua mente ainda estava presa as memórias do que havia acontecido na festa.
Não conseguia entender o ódio que Otávio sentia ao praticar tal violência com a filha daquela forma.

As mãos gélidas bateram ainda hesitante no vidro da janela.
Não poderia deixá-lo assumir aquilo.
Estava disposta a arcar com a situação sozinha.

A luz do quarto foi acessa, o homem caminhou até a janela, abrindo a enorme cortina e se surpreendendo ao encontrar o corpo da mulher do outro lado da janela.

Abriu o vidro, observando os olhos sérios de Suna, que o encarava sem pudor, melancólica.

— Agora eu estou mais calma eu quero falar com você. Eu... Eu não...— a voz de Suna embargou, fazendo-a gaguejar. — Me perdoe. Eu sei que estava em desespero e com medo, mas eu não devia ter te colocado nessa situação. Foi errado da minha parte.— a mulher sentiu a garganta arder.

Mesmo que tentasse intervir, seria impossível evitar sua próxima surra.
Seu pai não a deixaria viver, não depois de romper um segundo acordo com os Campana.

— Vá com calma, devagar.— Kaya suspirou, sentando-se no batente da janela.

Suna engoliu em seco, voltando a réunir coragem para conseguir dizer.

— O que eu quero dizer é que vou resolver essa história de noivado. Você não vai ser obrigado a nada, Kaya.— a mulher cerrou os dentes, sentindo a enorme vontade de chorar surgir novamente.

Queria ser forte naquele momentos.
Queria dizer a ele que ela era indigna de sequer imaginar uma proposta de casamento.

— Suna... Eu sei que aconteceu rápido demais, mas eu não estou nervoso por isso. Está tudo bem.— o moreno suspirou, jogando suas pernas pela janela, antes de saltar para fora.

— Amanhã vou resolver isso com meu pai e fazê-lo esquecer disso. Ele...— a voz de Suna sumiu, desviando seus olhos do moreno, que se colocava a sua frente.

O homem vestia um simples moletom e uma camiseta, da cor preta, no entanto parecia mais leve, do que quando o encontrava com ternos e camisas de botões.

— Sabe que não vai adiantar.— Kaya murmurou, conformado, observando a mulher encara-lo com certa aflição.

— Ainda assim... Ele não vai fazer nada com você.— Suna suspirou, sentindo as lágrimas caírem por seus olhos.

Poderia suportar o que fosse, se Kaya não recebesse sequer uma parcela de culpa.
A única coisa que aquele homem fizera foi ajudá-la a esquecer, ao menos um pouco, quem ela era.

— Eu sei Suna... Sei que não é a primeira vez que você é cobrada por coisas que não fez.— a voz de Kaya surgiu um tanto embargada, observando as torrentes de lágrimas caírem pelo rosto fino.

Por algum motivo sentia o coração doer.

— Você não sabe de nada!— Suna cuspiu, irritada, abraçando os próprios ombros.

Queria simplesmente sumir.
A dor em seus braços e suas costas já eram o suficiente, no entanto não era pior que a dor da traição de sua irmã.

Lentamente, o homem aproximou-se, observando-a desviar os olhos.
Conhecia bem o que ela estava sentindo.
A rejeição de seu pai, as palavras duras de sua mãe.
Ele já havia passado por aquilo mais de uma vez.

— Como não? Eu sou um Campana. Meu pai era o herdeiro de minha família, mas o mataram e tiraram tudo de mim. Eu sei o que é ser rejeitado.— as palavras duras de Kaya saiam como um sopro, fazendo com que não soassem tão dolorosas quanto pareciam.

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