CAPÍTULO 14: Chuva e terraço iluminado

218 20 4
                                    

O SOL INCENDIAVA as gotas de chuva que caiam em cortinas gélidas. Os dois estavam encharcados, embalados por um cobertor frio que não cessava de forma alguma. No horizonte, aninhado num mar de blocos cinzentos, aparecia um sol dourado, fraco, e cujos raios mal atingiam as calçadas.

Atsushi havia praticamente carregado Ryūnosuke até ali arrastado, envolvendo-o firmemente em seus braços enquanto a chuva grossa os atingia. Os pingos estavam tão pesados que mais pareciam balas de revólver, e agora os dois estavam no terraço de uma casa, num bairro pouco afastado do centro de Yokohama. Akutagawa estava tossindo horrores, aninhado num canto à pouca distância do dele, o tecido de sua capa formando um guarda-chuva pequeno e somente para si. Ele tinha a testa franzida, e encarava as ruas lá embaixo fazia cinco minutos.

— Sabe, eu também estou aqui. E estou na chuva — Atsushi suspirou.

— E você acha que merece um guarda-chuva? — foi a resposta ríspida.

Atsushi levantou do lugar onde estava, se aproximou do garoto de capa e sentou-se ao lado dele. Este, para sua surpresa, não se esquivou, não sei afastou, apenas encarou-o duramente uma só vez e desviou o olhar.

— Talvez... — Atsushi limpou a garganta. — Er... Se eu te der um beijo... ? — ele escondeu o rosto, sentido o calor se espalhar pelas bochechas.

— Mas que merda você tá dizend-

A frase foi interrompida quando Atsushi o deu um rápido selinho, afastando-se logo em seguida. Os olhos arregalados de Ryūnosuke o fitaram, em profundo choque. Foram apenas alguns segundos, a chuva pareceu ainda mais barulhenta e fria enquanto os dois se encaravam em silêncio. Akutagawa foi o primeiro a retomar a conversa.

— Vem pra cá — ele disse, evitando seu olhar. — Vai acabar ficando com pneumonia se continuar parado aí nessa chuva.

Mas foi você quem me deixou na chuva!

Atsushi suspirou, sentindo o coração disparar enquanto de aproximava ainda mais do garoto de capa. Estava tremendo, a roupa fria grudada em seu corpo como se fosse parte de si.

— Está com frio, não é? — Akutagawa perguntou.

— Estou...

Houve uma pausa. Um carro na avenida buzinou alto e o motorista desceu para gritar palavras tolas contra quem quer que fosse, depois foi embora em silêncio.

— Nesse caso, eu vou aquecer você — e Akutagawa o surpreendeu com um beijo lento. Atsushi, embora pego de surpresa, aceitou o gesto e correspondeu em igual intensidade.

Foi um beijo tímido, com gosto de bala de morango industrializada. Akutagawa pousou suas mãos gélidas ao redor de Atsushi, puxando-o para mais perto. Nakajima escorregou e deitou no telhado encharcado, sentindo um arrepio por toda a espinha. Estava chovendo forte agora, os pingos pesados amparados pelo tecido do rashōmon, embora a superficie do telhado em si fosse insistentemente açoitada pela chuva. Ryūnosuke sentiu Nakajima tremular de frio, e logo envolveu os dois braços em volta de seu corpo. Ele o pressionou contra o próprio peito, beijando-o lentamente, as respirações se misturando contra a chuva.

— Posso te aquecer assim? — ele sussurrou em seu ouvido, enterrando o rosto no peito de Nakajima para esconder as bochechas escarlates. Era a primeira vez que estavam tão próximos daquela forma, máximo antes disso foi um breve roçar de mãos.

O garoto acenou com a cabeça, e rapidamente Ryūnosuke o encheu de beijos apaixonados. A chuva diminuiu contra o sol, e agora a garoa azul era apenas um resquício. Ficaram abraçados por um tempo.

— Aku?

— Hm? — ele resmungou, sorrindo levemente. Gostava quando Atsushi o chamava assim.

— Quer descer daqui e ir pra outro lugar? — ele sugeriu. — Podemos ir até a roda gigante de Yokohama, à Ginza ou ao aquário... Eu posso comprar algo pra você.

— Não precisa comprar nada — ele deu um leve sorriso. — Estou bem aqui, com você.

Houve uma pausa, uma pausa da qual o azul foi extinguido completamente, dando lugar à um dourado que incendiava as gotas que caiam em cortina e tudo ao redor. Uma pausa do qual os dois fitaram juntos aquele cenário.

— Está bom do jeito que está — ele sorriu, sua mão encontrando a de Atsushi pela primeira vez.

Dazai, Chuuya: Aqui estamos nós Onde histórias criam vida. Descubra agora