33- traitor

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Acordei com os dedos de Damiano acariciando minha pele.
  — Buongiorno.
  — Buongiorno, belissima. Dormiu bem?
  — Demais. Eu dormi muito?
  — Não muito. Mas você estava cansada. Vem, vamos tomar café.
  Damiano havia preparado torradas e ovos mexidos. Uma melodia martelava em minha cabeça e cantarolei baixinho pra não esquecê-la.
  O dia passou rápido, e no tempo que Damiano se afastava, pus a letra a melodia no papel. Acho que encontrei uma forma de desabafar o que sinto.

  O dia passou rápido, visitamos os pontos turísticos de Roma e pensei nos meus pais. Tirei algumas fotos mas a maioria das recordações ficariam na memória. Passamos novamente em Trastevere, e de lá, fomos andando pra casa. O cheiro das pedras ainda era de chuva recente, algumas barraquinhas vendiam flores, outras aromas em pequenas garrafinhas. Damiano parou na de flores. Logo percebi o motivo. Papoulas. Nunca vi tantas juntas e de cores diferentes. Ele me deu uma de cada.
  Voltamos à caminhada e já estávamos na rua de casa. A noite se aproximava, fazendo com que as luzes amarelas dos postes se acendessem. E naquele momento, de mãos dadas com ele, as três palavras salpicaram em minha língua. Meu coração queimou. Quando abri a boca pra dizer...
  — Ethan perguntou se voltamos.
  — E o que disse?
  — Que éramos amigos.
  Meu coração afundou um pouco. Abrimos a porta e entramos em casa. Damiano foi tomar banho e eu estava ajeitando algumas roupas da mala. O telefone dele vibrou na mesa.
— Damia! Seu telefone.
O telefone vibrou de novo. E de novo. O chuveiro continuava ligado, então fui ver se era algo importante. O celular vibrou mais uma vez. Será que aconteceu alguma coisa?

 Será que aconteceu alguma coisa?

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Nem fudendo. Meu estômago pareceu apunhalado. Guardei as roupas de volta, juntei tudo. Peguei um pedaço de papel e deixei na mesa:
"Eu estava certa. Fomos um grande erro.
Adeus, Damiano"

Tirei o delicado cordão de papoula e coloquei em cima do papel. Deixei a casa sem olhar pra trás. A casa. Damiano. Meu coração.

Esperei as lágrimas, mas elas não vieram. Meu telefone mais uma vez não parava de tocar. Era ele. Desliguei o celular assim que entrei no avião. Diversas coisas se passavam na minha cabeça e meu coração, mas nenhuma veio pro papel. Chorei até pegar no sono. Acordei e já estávamos pousando. Desci do avião e vi Dove. Como?
— Vic me disse que Damiano ligou avisando que você foi embora. Imaginei que tivesse voltado pra casa.
— Quanto tempo está aqui?
— Umas cinco horas. Não sabia que horas você chegaria.
— Como sabia que...?
— Eu sabia. Nós sempre voltamos pra casa.
Nos olhamos e segui para o carro. Coloquei a mala na parte de trás e me sentei na frente, colocando o cinto. O telefone ainda apitava e seu nome acendia na tela.
— O que vocês sabiam? Por que fizeram aquilo? — perguntei, olhando para nada específico em minha frente.
Um silêncio avassalador apossou o carro.
— Vimos em um tabloide italiano, pouco conhecido, que Damiano estava com outra pessoa.
Engulo em seco.
— Não comentaríamos, mas achamos que seria melhor se você saísse um pouco de casa. Não foi nossa culpa as notícias, de jeito nenhum. Não planejamos isso – ela disse, apertando mais o volante — mas preferimos não alertar à você porque você voltaria pra ele.
Lágrimas molham minhas bochechas. Ficamos em silêncio no resto do caminho. Cheguei em casa e ela me ajudou com as malas.
— Vou ficar no studio.
— Eu vou só tomar banho, já venho...
— Não. Quero ficar sozinha agora.
Dove assentiu. E então, me abraçou. Em silêncio.
Tomei um banho demorado e quente. Vesti um short confortável e uma blusa de manga longa. O cabelo estava molhado, mas não me importava. Peguei o caderno e subi para o studio, e lá, passei os próximos três dias.
Saí quando a figurinista apareceu, ontem. Dove estava aqui e tentou me arrastar pra sair quando Lea, a figurinista, foi embora.
— Não, tudo bem. Estou trabalhando em uma música.
— Certo. Amo você.
Subi novamente as escadas e mais um dia inteiro se passou. Mandei mensagem para Paul quando finalizei a última música. Arrumei tudo e fomos pro estúdio. Gravamos duas músicas. Tínhamos um total de quatro autorais e uma que lançaríamos como cover. Songbird.

   Dois dias depois, voltei ao estúdio para gravar o cover e a última música autoral do EP. All Too Well

  Não consegui gravar inteira. Lágrimas brotavam em meus olhos e precisei fazer uma pausa. Dove e Paul se entreolharam.
  — No seu tempo, Penny — Paul encorajou e isso fez com que eu cantasse abrindo meu coração e deixando as lágrimas caírem.
  Quando terminamos o projeto, nos aplaudiram e eu finalmente consegui sorrir. Voltamos pra casa e finalmente saí um pouco do studio. Tomei um banho e quando voltei, ouvi algumas vozes. Tom, Heidi. Bill.
   — E aí, cantora — Tom disse, me abraçando.
  Heidi me abraçou apertado.
  — Mal posso esperar pra ouvir.
  Bill se aproximou e Heidi e Tom se entreolharam.
  — Bom, só passamos pra ver como você tá. Já estamos de saída.
— Tudo bem. Obrigada por virem.
  O casal saiu, me deixando sozinha com Bill.
  — Oi.
  — Dove me contou. Sobre tudo.
  — Eu... eu sinto muito.
  — Me desculpa. Pelo modo que agi sem ouvir vocês. Eu acho que quis uma desculpa pra sair, sem nem perceber que nunca me trairiam assim... pelo contrário.
  Meus olhos marejaram. E Bill me abraçou, e eu ouvi seu coração.
  — Ele tem outra pessoa... foi uma semana. Ele tem outra, Bill — digo e sua bochecha descansa em meu cabelo. Depois de um tempo, falei tudo para meu amigo. Mais lágrimas caíram. Nos sentamos no sofá e pedimos Mc'Donalds, a fim de me distrair. Dove estava na casa dela conversando com Vic. Estou feliz que isso não as tenha afetado.
  — Penny?
  — Hm?
  — O EP já vai lançar?
  — Sim. Depois de amanhã.
  — Ano novo?
  — Sim.
  — Isso foi muito perspicaz — ele diz, e eu sorri.
  Um tempo depois, a voz de Bill era ouvida mais uma vez.
  — Qual o nome? — ele perguntou enquanto se deitou em minha perna.
  — Trastevere. O nome do EP vai ser Trastevere.




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Honey, are u coming? - 1º TEMPOnde histórias criam vida. Descubra agora