capítulo dez

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A culpa invadiu seu corpo como um tiro fresco, subindo pelas suas veias e preenchendo sua cabeça com pensamentos pessimistas. Beijar Draco dormindo? Sem o consentimento dele? Que tipo de homem Harry era?

Levantou-se então um tanto desesperado. Arrumou o óculos torto, passou as mãos inquietas pelos fios bagunçados, puxando-os com força até sua testa ficar levemente vermelha. James retirou sua meia do batman e jogou no chão, observando o trajeto da meia cair aos pés do pai com um olhar curioso. Depois juntou as mãozinhas e começou a bater leve palmas, rindo baixinho, totalmente alheio ao desespero do pai, que naquele momento andava em círculos de uma forma nada silenciosa.

— Merda.. porra… — Xingou a si mesmo, arregalando mais ainda os olhos verdes ao ouvir a risadinha fraca do filho. Ah, agora estava xingando na frente do seu próprio filho? — Desculpa. — Balbuciou entristecido. As mãos robustas seguraram o pequeno pacotinho com cuidado, levantando o corpo leve do bebê para cima. James mordiscou o dedo gordinho, olhou para o pai enquanto sorria doce. Harry riu quando um filete de baba deslizou pelo queixo. O moreno limpou o queixo do menino com um paninho, beijando a bochecha gordinha em seguida.

Balançou o corpo do pequeno, acariciando o cabelo ruivo, enroscando levemente os fios ruivos entre os dedos longos, cantarolando uma musiquinha para que ele ficasse mais calmo. Olhou para Draco: o ômega pálido ainda dormia sereno com as longas mechas loiras esparramadas no travesseiro fofinho, a jaqueta já não estava mais em cima de si, e sim pendurada na cama, quase caindo no chão. Potter teve que engolir seco e torcer o nariz, seu cheiro estava impregnado no corpo do menor, isso era excitante demais para seus instintos.

Resolveu sair do quarto. Fechou a porta em silêncio, seu coração batia tão forte no peito que por um momento pensou que fosse pular para fora. Apoiou as largas costas na parede amarela atrás de si, respirando devagar. Tombou a cabeça para trás e fechou as pálpebras, os lábios ainda formigavam com a sensação daquele pequeno, e não tão rápido, selinho. Era como se voltasse aos anos de ouro na escola, onde conversar com Draco já era o suficiente para seu coração pular para fora em completa alegria disfarçada. Ainda podia lembrar das noites em que dormia pensando em Draco, e de alguns sonhos quentes durante a puberdade.

Droga, ele sempre gostou de Draco, como percebeu só agora?

Abriu os olhos, James estava tentando puxar seu lábio inferior. O bebê esbugalhou os olhos quando percebeu que o pai estava o observando.

— Papai é um idiota — Esfregou a ponta do nariz em uma das bochechas gorduchas. James bocejou, batendo os dedos na bochecha esquerda do pai, puxando a pele morena com a pontinha dos dedos, rindo divertido com as caretas. Harry arqueou as duas sobrancelhas, a risada graciosa e escandalosa do bebê era como um colírio para sua alma solitária. — Um idiota confuso. — Arrumou o bebê nos braços. James puxou a orelha do pai em resposta.

Seu filho era o único que o ouvia naquela casa. Ginny não era uma mulher muito paciente, ela até tentava — algumas raras vezes antes de desistir de vez —, contudo não entendia muito bem as confusões do marido. Achava que Harry não conseguia se adaptar a sua vida de adulto, que ele sentia falta dos perigos da adolescência, ou talvez da adolescência em si. Harry só se sentia solitário, muito solitário. Sua esposa não conversava muito consigo, não dividia mais o dormitório com seu melhor amigo e tão pouco falava com Hermione nos dias de hoje, já que a mulher vivia muito ocupada escrevendo seus livros ou participando — e organizando — eventos para caridade no mundo trouxa e no mundo bruxo.

Chegou a um ponto que um dia cogitou em lugar para Duda, só para ter alguém que pudesse conversar.

Apesar de ser famoso e ter muitos fãs no mundo bruxo, não passavam de bajuladores, tudo que Harry falava eles repetiam, como robôs estranhos. O moreno queria alguém para conversar, alguém que pelo menos tivesse uma opinião própria ou discordasse com ele em algo. No fim, seu filho era o único que o escutava, às vezes dormia no meio dos discursos entediantes do pai, mas sempre que Harry virava para ver o filho percebia que ele o olhava com aqueles grandes olhos brilhantes, ouvindo tudo detalhadamente. Mesmo que não entendesse muito bem.

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⏰ Última atualização: Dec 27, 2023 ⏰

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