A Última Batalha

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Front Ocidental, 11 de Novembro de 1918, 10:43.

O dia do Armistício da Alemanha, a guerra finalmente iria acabar, muitos soldados e civis europeus ficaram contentes com a notícia.

Alguns bebiam, outros gritavam e choravam de felicidade, mas para alguns soldados no front, ainda era necessário sobreviver mais 17 minutos contra uma ofensiva alemã ordenada pelos comandantes em uma última tentativa de conquistar território.

James Thornefield, um tenente britânico estava entre esses azarados.

- Tenente! Tem um monte de alemães filhos da puta vindo!

Correndo pela trincheira estava o tenente e um cabo, John Garp.

- Alemães malditos.- A voz de James não apresentava o mesmo nervosismo de John, uma ausência de medo.
Pegou a sua última granada restante, segurando o rifle com uma mão e jogando contra o grupo de três soldados que os perseguiam.

- Quanto tempo falta, Cabo?

- 15 minutos e meio!

- Cristo, vamos ter que dar um jeito.

James avistou um soldado se aproximando pelo front, e deu um disparo certeiro entre os olhos, uma morte instantânea, engatilhou a arma novamente e se posicionou.

- Cobre a retaguarda, não vai passar nem um desses desgraçados pelo front.

- Sim, Senhor!

E então se seguiram dez minutos, James disparando bala após bala com seu Lee Enfield, recarregando, e repetindo isso para manter os soldados inimigos longe, John as vezes precisava disparar em soldados que chegavam na trincheira por outros lados, eventualmente uma bala acertou o ombro do cabo.

- AGH! FILHO DA-

James rapidamente pegou a pistola M1911 de seu coldre e se jogou para trás, disparando três vezes contra o alemão que atingiu John, e então foi checar sua condição.

- Pode andar?

- Urgh...cacete, acho que consigo ainda.

O Tenente largou o rifle, apoiando o cabo em seu ombro e segurando a pistola com a mão livre, e começou a vagar pela trincheira tão cautelosamente quanto pode.

- Só mais quatro minutos e isso acaba, aguente, Cabo.

Se deparando com mais dois soldados alemães que tentaram conversar, James sequer chegou a hesitar ao disparar contra a cabeça de ambos.

- S-Senhor, acho que eles queriam conversar?

- Se eu parasse para escutar se querem me matar toda vez, o último som que eu ia ouvir seria o do disparo da Mauser ou seja lá que merda eles usam.

O caos ainda reinava nos últimos minutos, como uma feroz besta rugindo ao ser cercada, o som de disparos e explosões constantes deixava todos um tanto desnorteados.

Faltavam três minutos, James se deparou com não um, não dois, mas três jovens soldados da Alemanha, com os olhares desesperados que eram tão comuns naquela guerra, jogou John dentro de um dos bunkers da trincheira para que os soldados não mirassem nele, e começou a disparar.

Os soldados alemães responderam de imediato, um deles foi baleado no pulmão, outro no coração e um na cabeça.

James respirou fundo, e soltou o revólver, sentiu sua força se esvair e ao olhar para baixo, viu seu corpo repleto de sangue e furos, caiu de joelhos e se apoiou na parede da trincheira, ficando com suas costas apoiadas nela, e sentado.

John havia conseguido sair do bunker, avistando seu superior com quase uma dúzia de ferimentos de bala em seu corpo, e rapidamente perdendo a vida enquanto respirava dolorosamente.

- Tenente James!

Se abaixou, e segurou a mão de James que mal conseguia observar oque estava na sua frente, e muito menos apertar de volta a mão do Cabo.

Seus pensamentos se voltaram para sua casa, a Inglaterra, Londres.
Lembrava-se de sua mãe, assando tortas para ele e seu irmão comerem, seu pai lendo o jornal The Times, tudo isso antes da guerra acontecer.

Mas mesmo se voltasse, não haveria nada disso mais, tanto seu pai quanto seu irmão haviam sido enviados para o Front, e morreram, sua mãe havia pego Varíola, e com sua força de vontade enfraquecida, não resistiu.

James era apenas um flagelo do jovem que havia sido, sem família, sem esperanças, que apenas sabia guerrear agora.

Com as últimas forças que tinha, levou sua mão ao rosto de John, e forçou as palavras a saírem de sua boca como um sussurro fúnebre.

- Viva...

E então, o brilho de seus olhos desapareceu.

James Thornefield morreu, às 10:57 do dia 11 de Novembro de 1918, lutando bravamente para proteger seu companheiro e seu país.

Coração de ChumboOnde histórias criam vida. Descubra agora