Capítulo 4 - Face a face com o pecado

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Logo depois do amanhecer, Nicole acessou o conteúdo do pen drive e abriu o livro de Candence. E como eram apenas treze capítulos, leu e releu tudo em menos de duas horas. Ela anda de um lado para o outro e resolve sair do quarto.

Jung-Kook está preparando os ovos e o bacon quando a viu sair.
- Bom dia, estou fazendo o café...
- JK, você leu o livro que a minha irmã escreveu, não é?
- Sim, você leu?
- Acabei de ler duas vezes, li procurando nas entrelinhas as pistas que ela disse que estariam lá... Mas não achei nada! Pra mim, não passa de uma história de romance... Muito bem escrita, aliás.
- Candy escrevia muito bem, eu ajudei na edição, diagramação, enfim... Na montagem da obra em si.
- Então você sabe que pistas são essas, não sabe?
- Sinceramente? Não sei. Se ela colocou algo ali só pra você entender, ela não me falou o que era.
- Entendi... Mas, esse livro tem mesmo a ver com as páginas que estão faltando no diário dela?
- Sim, ela fez os rascunhos do livro naquele diário.
- Algo me diz que naquelas páginas tinham mais do que rascunhos.
- É provável, ela vivia escrevendo nele.

Nicole fica calada por dois segundos e o enche de perguntas.
- Vocês se viam com frequência?
- Sim, apesar de que nos últimos dias, isso não estava acontecendo com a mesma frequência de antes. Ela ficou mais próxima do Tae, Candy conheceu a Anne, poucas semanas antes dela...
- Sinto muito.
- Tudo bem, infelizmente o que fazemos acaba sendo trazendo à tona o assunto. Falar dela machuca e ao mesmo tempo é uma forma de mantê-la viva... Isso lhe parece estranho?
- Não, sinto a mesma coisa em relação à Candy. - Pausa - Não sabia que elas haviam se conhecido.
- Como elas não eram amigas íntimas, esqueci de mencionar isso. Candy e Anne dormiam em dormitórios diferentes, mas elas estavam em alguns cursos em comum. Até onde soube por sua irmã, ainda deu tempo delas se tornarem boas colegas de turma.

Nicole sorri, ficou feliz em saber disso. A expressão de Jung-Kook ficou séria de repente, deixando explícito que está incomodado com algo.
- Tudo bem JK?
- Prometi ser sincero e eu serei. Tem mais uma coisa que não te contei, é algo muito pessoal... Acredito que posso confiar em você.
- Pode sim.
- Anne e eu viemos de uma família sul coreana muito tradicional, mesmo ela sendo mãe de uma canadense, os costumes conservadores foram mantidos de forma rígida, já que sua mãe era uma católica fervorosa. Estou dizendo isso para que entenda o dilema que estávamos vivendo na época que ela se foi. - Pausa - O nosso namoro não era convencional, não tínhamos intimidades, se é que me entende.
- Entendo sim, minha família também é assim. Por isso colocaram a Candy neste colégio, como uma espécie de castigo.
- Castigo?
- Aos olhos de nossa mãe, Candy estava prestes à entrar no mau caminho por causa das amizades dela.
- Entendo, a mãe de Anne a matriculou aqui logo depois de assumirmos o nosso relacionamento.
- Tentando impedir que vocês caíssem em tentação.
- Pois é, o plano não deu certo.

Jung-Kook prepara a cafeteira para fazer o café e continua.
- Por estarmos longe, ficou cada vez mais difícil resistir aos nossos desejos. Logo depois dos primeiros três meses dela nesta cidade, vim visitá-la. Estávamos morrendo de saudades e acabou acontecendo, Anne se entregou pra mim. Mantivemos isso em segredo, toda vez que eu conseguia vir, ficávamos juntos sempre que ela conseguia fugir dos olhos daquelas freiras e padres. Até aí tudo bem, um mês antes de sua morte, ela me liga aos prantos. Estava com medo da reação de seus pais... Ela estava grávida. E sabendo como a família dela é, consegue visualizar a pressão que minha Anne estava tendo que lidar.

Nicole fica pasma ao saber que a namorada dele estava grávida quando se matou. Jung-Kook fica emocionado ao lembrar disso e ela fica sem jeito.
- Mesmo assim, ela não se matou... Anne sabia que eu estaria ao lado dela para o que der e vier. Contamos apenas para o irmão dela, e Tae em nenhum momento nos julgou. Pelo contrário, nos apoiou. Ele e eu nunca pensamos em fazer faculdade, Anne de tanto falar que acabou nos convencendo... Claro que com a gravidez, isso teria que ser adiado um tempinho. Por se sentir abraçada por mim e pelo irmão, ela estava mais segura em contar para os seus pais. Estava combinado de eu vir buscá-la para passar as festas de fim de ano com a família dela, com a família reunida, iríamos contar sobre o bebê e sobre o nosso desejo de nos casarmos. Quando cheguei, foi tarde demais... Me deram a notícia de que ela havia se jogado da torre da igreja horas antes.
- Misericórdia, meus sentimentos.
- Os pais dela souberam da gravidez quando foram ao hospital. E para evitar fofocas com o nome de Anne, a pedido deles, este segredo permanece até hoje. - Ele se cala por um tempo e depois desabafa. - Não pode ter sido suicídio Nick, ela não faria isso. - As lágrimas dele a fazem se emocionar também.

Vocação ao Pecado (Lótus) - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora