Eu não sou nenhuma criança

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Mariana's POV

Depois do funeral, fui com os amigos mais chegados e a família para a casa da Tânia. O irmão de 5 anos estava inconsolável, assim como a mãe. Acho que a única pessoa que os conseguia acalmar era o Miguel. Estivemos a contar histórias que passamos com ela e relembramos todos os bons e os maus momentos que passamos com ela.

Quando saí com o Michael já eram 8 da noite. Os rapazes tinham seguido para o hotel depois do funeral e o Michael ia ter com eles.

-Tens a certeza de que não queres jantar cá em casa? - perguntei-lhe assim que chegámos à porta de minha casa.

-Não, mas tenho que ir ter com os rapazes. Eu prometo que amanhã venho ter contigo.

-Porque é que não vou eu ter contigo? Aproveitava a boleia da minha irmã e sempre podíamos passar mais tempo juntos... - disse-lhe, dando-lhe um beijo, abraçando-o.

-Gosto dessa ideia! Mas agora tenho que ir.

Ele deu-me mais um beijo e seguiu para o Hotel, que ficava sensivelmente a 15 minutos de minha casa.

Quando entro, encontro os meus pais na cozinha a acabarem o jantar e a Filipa e o Luís a pôr os pratos na mesa da sala. Pergunto se querem ajuda e eles apenas me dizem para ir trocar de roupa e vir comer.

Subo as escadas e vou para o meu quarto. Tiro o vestido e enquanto procurava algo que vestir, comecei a relembrar o funeral. Acho que nunca tinha visto tanta gente numa igreja, até a Tatiana lá estava, muito provavelmente os pais obrigaram-na. Depois de nós as três cantarmos, só se via gente a chorar ainda mais e a mãe da Tânia veio-nos agradecer por termos sido amigas da filha e por lhe termos feito uma homenagem tão bonita.

Quando finalmente encontro umas calças, reparo que estava outra vez a chorar. Não tentei parar as lágrimas, sei que faz bem deitar tudo para fora. Estive uns bons 5 minutos deitada na cama a chorar, até ouvir alguém bater à porta.

-Querida - era a minha mãe - está tudo bem?

Enxuguei as lágrimas e dei-lhe permissão para entrar. Ao ver-me naquele estado, ainda sem nada vestido, a minha mãe vem sentar-se ao meu lado, abraçando-me. Não foi preciso dizer nada para me acalmar, apenas o facto de estar com ela me acalmou.

Passado algum tempo, já estávamos a jantar, conversando sobre temas superficiais, todos tendo em atenção para não falar em nada remoto a dor ou a perda, e eu já estava a começar a ficar farta. Eu não sou nenhuma coitadinha, com a qual precisam de ter cuidado com o que dizem, e eu estava prestes a dizê-lo quando a Filipa começa:

-Podemos parar o teatro? A Mariana sabe o que estão a fazer e ela não está a gostar. Ela não é nenhuma criança que precisa que lhe expliquem que toda a gente tem que morrer.

-Filipa! - gritou o meu pai - Como é que tu és capaz de dizer isso? A tua irmã...

-Eu nada - intervim - A Filipa tem razão. Acham eu que não percebi que estão extremamente cautelosos com o que dizem? E isso é que me magoa. Eu já sou bem capaz de lidar com a morte, claro que é doloroso, mas eu aguento.

Dito isto, fiz força para não deixar cair nenhuma lágrima e voltei a comer como nada se tivesse passado. O jantar voltou aos poucos ao normal e quando estava a ajudar a minha irmã a lavar a loiça, a minha mãe chama-me e diz:

-Querida, sabes que nós só queremos o teu bem.

-Eu sei, mas escusavam de tentar tanto.

-Tu sabes que não é por mal. Eu estive a pensar e porque é que não convidas o Michael e os outros meninos para virem cá almoçar amanhã? O teu pai vai estar fora, assim como a tua irmã, e como os professores te deram dispensa das aulas, era uma maneira de eu conhecer melhor o namorado da minha filha.

Separados por meio mundo - M.C.Onde histórias criam vida. Descubra agora