Eu entendo você

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Quando acordei no dia seguinte, descobri que todos tinham passado a noite fora. Marilla tinha ido até Charlottetown ver o primeiro-ministro, Anne tinha ido até a casa dos Barry ajudar Minnie May, que estava muito doente, enquanto Matthew procurava um médico.

Durante o caminho para a escola, Diana e Anne puderam finalmente voltar a andarem juntas e estavam muito contentes com isso. Elas me contaram como tinha sido a noite, e como Anne praticamente salvou a vida de Minnie May.

Eu fiquei feliz por elas, pois sabia o quanto sentiam saudade uma da outra. A parte ruim disso tudo é que eu tive que voltar a me sentar com Josie, mas pelo menos ela não comenta mais sobre nós como antes. Acho que já superou o fato de sermos órfãs. É o que eu espero.

{...}

Infelizmente, depois da aula, descobrimos que o pai do Gilbert, que estava doente havia um tempo, tinha falecido. Assim que chegamos em casa, Marilla nos contou e falou que iríamos até o funeral.

Quando chegamos perto de toda aquela gente de preto que contrastavam naquela neve branca, e que conversavam naquele clima terrível e tenso, lembranças vieram à minha cabeça.

Me lembrei tanto do funeral do meu pai, quanto o da minha mãe. Ambos foram horríveis e tristes, como esse. Não consigo nem pensar em como Gilbert deve estar se sentindo, por mais que eu também já tenha passado por isso. Percebi no caminho todo que seguíamos para o quintal de sua casa o quanto ele estava abalado. Mas é claro que estaria! Ele acabou de perder a única pessoa que ele tinha.

Devo confessar que achei um tanto estranho o pai dele, assim como o resto da família, ser enterrado em um espaço na fazenda deles. Sei que é comum, mas ainda deve ser bem incômodo ter seus familiares enterrados tão próximos de você... ainda que, ao mesmo tempo, seja um
tanto reconfortante.

Depois da cerimônia, que acabei nem prestando tanta atenção, fomos para a casa dos Blythe. Muitas pessoas se reuniram lá dentro, e o ar do lugar estava realmente pesado.

Em certo momento, vi Anne saindo da casa e fui até a janela ver para onde ela estava indo. Quando olhei lá para fora, pude ver ela andando ao lado de Gilbert e falando com ele. Continuei os observando até ele se virar para ela, claramente frustrado, e depois ir embora.

Assim que eu o vi se afastando, saí da casa e fui atrás de Anne, que estava parada no lugar com uma cara estranha.

- O que aconteceu, Anne? - perguntei assim que me aproximei.

- Eu... eu só tentei consolá-lo, e ele ficou chateado. - ela respondeu, desconcertada, ainda olhando para a figura dele já longe. De repente, ela pareceu brava e bufou - É por isso que não somos amigos! Quando eu finalmente tento ser gentil com ele, ele se afasta! Desde o início, eu já sabia que não ia com a cara de Gilbert Blythe e estive certa em ter ignorado ele. Como eu fui tola em pensar que poderia conversar com ele e ajudá-lo!

- Anne, tente entendê-lo. Ele acabou de perder o pai. É difícil para ele e aposto que ele não quis ser rude. - Ela se virou para mim e suavizou a expressão nervosa, parecendo estar se sentindo culpada. - O que você falou para ele?

- Eu falei como a cerimônia foi bonita e tentei explicar para ele as vantagens em ser órfão. Eu disse que ele tinha sorte em ter crescido com o pai e de ter lembranças com ele, já que eu nunca nem conheci os meus. Eu não estava querendo fazer isso ser sobre mim, mas foi o que pareceu. Ele ficou ofendido com essa última parte e me perguntou o que isso tinha a ver comigo. Antes que eu pudesse me explicar, ele foi embora.

Anne realmente não media suas palavras, por mais que estivesse com uma boa intenção. Eu sei que ela não fez por mal e só estava tentando confortá-lo, mas dizer que ele tinha sorte? Quase consegui sentir que era eu quem estava escutando aquilo, e pude entender o porquê de ele ter ficado chateado. Mesmo assim, não consigo culpar Anne por isso. Quando olhei para ela, percebi que estava se sentindo culpada e não era aquilo que queria ter dito, e quase quis dar risada da situação que ela se colocou. Ela nunca faz nada com más intenções, mas sua maneira impulsiva pode acabar magoando os outros.

I HATE THAT FRENCH BOYOnde histórias criam vida. Descubra agora