Eu finalmente estava sendo adotada.
Depois de tanto tempo morando em um lar tóxico, seguido de uma estadia em um orfanato onde as garotas não eram nem um pouco amistosas, eu finalmente estava sendo adotada.
Jamais conseguiria demonstrar em palavras a minha alegria quando soube, mas a minha felicidade não se comparava a de Anne, a garota que iria ser adotada junto a mim. Minha nova irmã.
Ela era um alvo das meninas do orfanato, então finalmente estaria se livrando delas, e de todo o orfanato no geral.
Nossos novos cuidadores moravam na Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, mais especificamente em uma cidadezinha chamada Avonlea.
Estávamos indo de trem, acompanhadas da Senhora Spencer. Sentei-me ao lado de Anne, enquanto a mulher dormia a nossa frente. Fiquei a maior parte do caminho admirando a vista da janela, pensando em como seria minha nova vida.
Em certo momento, olhei para Anne. Ela parecia assustada olhando para um bebê chorando, do outro lado do vagão. Provavelmente um gatilho para uma memória não muito boa. Eu entendia o que ela sentia, então tentei reconfortá-la segurando sua mão. Ela se assustou com o toque, despertando de sua espécie de hipnose, mas logo me olhou com um sorriso sincero e agradecido.
- Prefiro imaginar a lembrar. Por que as piores lembranças permanecem? - questionou ela.
- Talvez porque elas marcam a gente. Como uma cicatriz.
Ela me olhou por um tempo, pensando em minha resposta. Pareceu concordar. Logo, ela soltou:
- "Se todo o mundo odiasse você e a considerasse perversa, mas se sua consciência a aprovasse e a absolvesse da culpa, você não estaria sem amigos". Eu adoro Jane Eyre. E você?
- Eu também. Você se identifica com ela, não é mesmo? - perguntei.
- Sim, bastante. É minha escritora preferida.
Eu sabia o quanto Anne gostava de ler. Ela já havia roubado algum dos livros do orfanato, que a princípio serviam para castigar as crianças.
Depois de um breve silêncio, ela perguntou:
- Por que será que os Cuthberts nunca se casaram? Será que um dos dois teve um romance trágico?
- Não sei. Talvez eles só não sejam bonitos.
Nós começamos a rir baixinho, até a Senhora Spencer, que havia acordado, nos interromper:
- Que coisa mais grosseira de se dizer! Onde estão seus modos, menina? - me repreendeu nervosa.
- Perdão, senhora Spencer.
Paramos de rir, mas quando eu olhava pra Anne de canto de olho eu ria baixinho junto com ela.
{...}
Nós aguardamos o Sr. Cuthbert em um banco do lado de fora da estação Bright River, pois Anne disse que era melhor para o alcance da imaginação.
Deixei a parte da imaginação para ela, pois eu apenas refletia sobre uma série de "serás".
"Será que eles são gentis? Será que vão gostar de mim? Será que eu vou agradá-los?"
Estava tão perdida em minhas suposições que nem percebi quando um homem entrou na estação.
- Ele deve ser o senhor Cuthbert! - avisou Anne, me tirando de meus devaneios.
Nós o aguardamos, que volta depois de um tempo. Assim que o vemos, Anne logo se levanta decidida e vai em sua direção, e eu a sigo.
- O senhor deve ser Matthew Cuthbert, de Green Gables. É um prazer conhecê-lo... - disparou ela, falando de seu jeito energético.
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I HATE THAT FRENCH BOY
FanfictionImagine se, ao invés de um garoto, os irmãos Cuthbert na verdade quisessem dois? E ainda por cima, por conta de um erro de comunicação, duas garotas aparecessem em Avonlea? Uma, sendo nossa tão amada Anne Shirley, e outra sendo Izabel Bianche, uma...