26- pai e filha

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Os raios da manhã atingem meu rosto em cheio e a claridade acaba me fazendo acordar, com isso acabo percebendo que estou sozinha no quarto. Visto uma roupa que Meredith deixou para mim na ponta da cama e caminho até o banheiro para fazer minha higiene. Ando até a cozinha e ainda não encontro Meredith em lugar nenhum. De repente ouço o som da porta sendo destrancada e aberta e vejo a loira com várias sacolas nas mãos.

-- Bom dia! -- Ela diz tentando fechar a porta mas sem sucesso.

-- Bom dia! -- Digo caminhando até ela e ajudando com as compras, ela diz um obrigado silencioso e caminha até a cozinha para guardar as coisas.

-- Pensei em fazer algo bem gostoso para o café da manhã, mas digamos que minha cozinha tem ingredientes de uma solteira que mora sozinha. -- ela diz ainda concentrada em sua tarefa.

-- E o que seria?

-- Ovos e leite. Não daria nem para fazer um bolo! -- Rimos juntas.

-- Poderia ter me acordada pra te ajudar com isso...

-- Você estava dormindo tão linda, fiquei com dó de atrapalhar. -- Ela se aproximou e selou nossos lábios em un selinho demorado. -- Mas agora que acordou pode me ajudar a cozinhar.

Ela me entregou um avental e começou a me mostrar os ingredientes que vamos usar para preparar o café da manha. Enquanto nós cozinhamos juntas, ela me conta sobre o seu dia. O cheiro da comida começa a se espalhar pela casa e começamos a sentir nossos estômagos roncando. Quando finalmente terminamos de cozinhar, nos sentamos à mesa e apreciamos a deliciosa (e até exagerada) refeição que acabaramos de preparar juntas. Depois de comermos, decidimos passear pela cidade. Meredith tranca a casa e pega seu celular e logo saímos para uma caminhada.

Durante nosso passeio conversamos banalidades e rimos o tempo inteiro, o clima estava ameno entre nós. Observamos vitrines de lojas e até paramos para tomar um sorvete mesmo que ainda não tivéssemos almoçado. Meredith pega seu celular e começa a registar os pequenos momentos entre nós, tiramos fotos das paisagem uma da outra e até algumas nossas fazendo careta, estava tudo tão bom que parecia até um sonho.
Quando estávamos voltando o meu celular toca.

Era minha mãe. Ela nunca me ligava.

-- Alô? -- Ela começou a chorar do outro lado da linha e falar coisas desconexas. -- Mãe se acalma... O QUE? -- Meredith me olhava confusa -- Ok, Ok, eu vou até aí, não se preocupa.

Era o pai, ele havia sofrido um grave acidente de carro e que ele estava no hospital, minha mãe não conseguia me explicar direito e eu também não forcei pois sabia que o quanto ela estava frágil naquele momento. Eu fiquei em choque, meio sem saber o que fazer. Meredith mesmo sem saber exatamente o que estava acontecendo, me abraçou, minha angústia era visível.

-- Meu pai... -- Tentei falar mas senti um nó se fazendo na minha garganta.

-- Não precisa me explicar agora. -- Disse por fim fazendo um carinho em mim. -- Onde ele está?

-- No hospital. -- Minha voz mal saía.

-- Ok... -- Ela segurou minha mão. -- Vamos trocar de roupa e você me explica o caminho tudo bem? -- Nada respondi, apenas balancei a cabeça em concordância.

Meredith me ajudou a me trocar e falei por alto qual era o hospital, por sorte ela sabia onde ficava, então pude permanecer em silêncio por todo o trajeto. Eu e meus pais não éramos mais tão próximos, mas não podia deixar de sentir a aflição por saber que meu pai estava em um hospital. O caminho de acordo com o relógio foi rápido, mas em minha cabeça se passou uma eternidade. Quando finalmente passamos pela entrada do hospital e vi minha mãe, corri para abraça-lá e ela se permitiu chorar no meu colo. Por um momento era como se os papéis estivessem se invertido e ela fosse a filha precisando de um afago, e por mais que também estivesse sentida, permiti a mim e a ela vivenciar aquele momento.
Meredith fazia um leve carinho nas minhas costas enquanto toda aquela cena continuava.

-- Que bom que veio. -- Minha mãe finalmente parou de chorar e falou.

-- É claro que eu viria. -- Disse com um meio sorriso e minha mãe olhou pra a Grey. -- Essa é Meredith, uma amiga. Estava comigo quando você me ligou e me trouxe até aqui.

-- Prazer Meredith.

-- Prazer... -- Disse com a voz baixa.

-- Bom, eu posso ver o meu pai?

-- Ah! Claro querida, venha comigo.

-- Meredith. -- A chamei ficando na sua frente. -- Pode ir pra casa se quiser.

-- Tem certeza? -- Disse meio incerta.

-- Tenho.

-- Qualquer coisa me liga! -- Falou como uma ordem, e isso me fez sorrir. Beijei sua testa e me despedi da mesma.

Enquanto a Grey ia embora eu acompanhei minha mãe e uma médica até o quarto onde meu pai estava internado. Fazia um bom tempo que não o via, e aquela situação com certeza não era um bom reencontro. Como toda família a minha tinha brigas e discussões, mas nunca vi ninguém soltar a mão de ninguém na hora do aperto, fui criada assim. Ele parecia fraco, mas não estava tão mal. Meus olhos se encheram de lágrimas, pelo susto, pelo medo e pela saudade.

...

Running away from loveOnde histórias criam vida. Descubra agora