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- Pai,porquê você e a mamãe não tem contato com mais ninguém da família? - Falo com dificuldade, e cada palavra dita,o nó em minha garganta aumentava.

Ele me olha pelo vidro do retrovisor. Logo em seguida,olha para o lado e encara minha mãe,parecendo buscar ajuda para me responder. Respira fundo e quebra o silêncio.

- Sabe como é... Temos nossas diferenças. E a verdade é que nenhum deles liga pra gente. - Ele diz de forma seca, tirando uma de suas mãos do volante e coçando a barba.

- Angel,você sabe que o único exemplo que temos de parente é sua tia Alessandra, e ela nem tem nosso sangue. Então não pense nessas coisas, só...deixa pra lá. E aliás...

De repente, um grito estridente é ouvido. Era minha mãe. Ela estava tentando alertar meu pai, parece que alguma coisa estava vindo...Um outro carro na contra mão!

Tento me mover para entender melhor a situação, mas o cinto não permite,e parece que ele me sufoca cada vez que tento me mexer mais.

Eu estava começando a ser envolvida por um silêncio assustador, e apenas ouvia um ruído,muito alto. Esse ruído aumentou quando meu pai tentou colocar a sua outra mão no volante para tentar desviar do que parecia ser nosso fim.

Meu coração era audível,e minha respiração ofegante,eu não sabia o que dizer ou falar...Só não saia som algum.

Tudo escurece. Ouço um som de batida muito forte ecoando dentro de mim.

- Angel!

Acordo.

ANGEL LINHARES

Olho ao meu redor assustada. Eu estava suando. Vejo um rosto conhecido e me acalmo aos poucos. Era Cláudia.

A senhora estava sentada na beira da cama, e percebendo que acordei assustada,começou a me fazer carinho na cabeça.

- Tive que acordá-la. Você estava fazendo sons estranhos,como se estivesse tentando chorar,mas reprimia isso. Foi só um pesadelo,agora está tudo bem. - Ela me abraça.

Não consigo ter outra reação senão apenas aceitar aquele conforto.

O que eu poderia dizer sobre Cláudia? Ela é demais. Uma amiga de longa data da família,nossa vizinha,para ser mais precisa. Por mais que não houvesse toda aquela formalidade de falar todos os dias o quanto a adorávamos, era nítido nosso carinho por ela.

Às vezes ocorriam desentendimentos,mas nada que interrompesse nosso vínculo. E bem... Agora ela está cuidando de mim, até ser resolvido com quem eu irei ficar. Meus pais morreram tem 1 mês. Nossos parentes praticamente não existem,então não poderíamos contar com eles em situações como essa.

Por sorte,está chegando uma das minhas tradições favoritas: Passar as férias na casa da minha melhor amiga,Giulia. Não importa a circunstância,desde de que eu era bebê isso acontece. Sempre passo minhas férias de julho na casa dela. E claro, também passo todo Reveillon,afinal, ela simplesmente mora EM FRENTE a praia de Copacabana.

Ela é uma verdadeira amiga, eu amo ela. Mesmo que a diferença em nossas posições sociais sejam gritantes, nunca atrapalhou nossa amizade.

Amanhece e o pouco de vontade que eu tinha de sair da cama era apenas para rever minha amiga. Tomo meu banho,me visto,arrumo minhas malas...É,acho que não esqueci nada.

Giulia❤️

E aí? Ansiosa??

Claro.
Sempre estou ansiosa pra ver minha melhor amiga.

O PLANO - MIGUEL CAZAREZ MORAOnde histórias criam vida. Descubra agora