Seus olhos avermelhados penetravam os meus, como se eles pudessem ver dentro de minha alma.Mantive a serenidade e verifiquei se ainda me encontrava no mesmo local quando adormeci. Para minha satisfação, sim. Como se eu soubesse que sempre possuí esse domínio, concentrei minha audição para longe, em direção ao convento, em busca da irmã Hilda. Eu ouvi. Todas as freiras estavam apreensivas e à minha espera. Torci o rosto, reconhecendo a tolice que cometi. Como pude adormecer justamente na floresta? E, além disso, durante à noite?
Minha atenção retornou ao lobo, e aqueles olhos exerciam um encanto hipnótico. Este lobo é Drácula! Sinto em minhas veias que este lobo é Drácula e ele veio me buscar.
- Se pensa que vou ter piedade de um cão, está enganado. Para mim, será fácil enfiar uma flecha em seu coração e... - interrompi-me ao perceber a ausência de minha balestra. - Onde você a colocou?
O lobo, evidentemente, não respondeu verbalmente; no entanto, ergueu-se, espreguiçou-se e dirigiu-se para a mata.
A besta presumia que eu a seguiria para qualquer lugar que fosse, mas deteve-se ao perceber que eu já estava de pé e correndo na direção oposta a ela: em direção ao convento. Era a minha balestra que eu estava deixando para trás, mas o chapéu em minha cabeça era, de longe, o mais valioso para mim. Péssima escolha, lobinho.
Ou talvez não tanto. Como pude esquecer o quanto estava exausta? A corrida era lenta, desajeitada. A criatura poderia me alcançar sem esforço, mas optou por não fazê-lo. O lobo permaneceu lá, sentado, aguardando que me afastasse.
Era difícil acreditar que isso estava acontecendo. Claro que mais cedo ou mais tarde nos encontraríamos novamente, afinal, tenho a marca dele em meu pescoço. Só não imaginava quando, pois em minha mente, preferiria que fosse nunca.
Aproximei-me da frente do convento e fui surpreendida pelo que vislumbrei. Todas as freiras empunhavam uma estaca em suas mãos, formando uma espécie de exército. Um exército de freiras, uma visão curiosa. O portão encontrava-se fechado e, desta vez, quem liderava não era a freira mais anciã como nos momentos de missa, mas sim Hilda.
- Hilda, ele está lá. - anunciei ofegante, com as mãos nos joelhos e em seguida apontando para a mata - É um lobo, e acredito que está vindo aqui... - cessei.
Havia algo muito estranho acontecendo aqui. Encarei algumas daquelas religiosas, detendo-me em Hilda.
- Morgan, vou abrir estes portões, mas é essencial que compreenda... Se você não conseguir adentrar, devo expressar que precisa partir. Quero dizer que, caso você seja agora uma vampira, não teremos mais segurança em sua presença.
- Eu sou eu. - falei, como se tudo o que ela dissesse fosse carecido de sentido.
- Você esteve na presença dele! - Hilda gritou, repreendendo-me.
- Não sou uma vampira! - gritei com mais intensidade.
- Então, - respondeu de modo claro e alto. Olhou uma última vez para suas companheiras atrás dela, pedindo confiança, e então abriu os portões. - me prove.
Repentinamente uma insegurança apossou-se de mim. E se eu não conseguir adentrar? Avancei dois passos. Tudo bem, reconheço que não sou uma vampira, no entanto, e se... Prossegui com mais dois passos, encontrado-me diante do portão. Hesitei. Empenhei-me para mais um passo.
Encontrava-em nas dependências do convento, ao lado de Hilda. As demais freiras precipitaram-se para fechar o portão, uma ação que, dadas as circunstâncias, revelava-se inútil. A minha mentora destes últimos dias segurou meus ombros e observou-me atentamente, como se me examinasse. Consciente da minha palidez e aspecto doente, ela tomou minha mão esquerda, retirou minha luva e fitou seriamente aqueles dedos desprovidos unhas, quase apodrecendo.
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Conde Drácula: Boca de Sangue
VampireA jovem romena Morgan encontrou uma floresta distante de sua casa após sair da mesma. Porém, mal imaginara que se tratava de uma região assombrada pelo famoso vampiro, Drácula. Para o azar da jovem, viver em um vilarejo pequeno e distante de tudo de...