Acompanhei aquela nuvem se afastar pelos céus e então compreendi: dentro ou fora desse convento, preciso encontrar a verdade.
Sonhei novamente com o Conde Drácula. Nada extraordinário, apenas o habitual. Aquele sorriso hipnotizador persistente... gostaria de compreender se é apenas mais um dos efeitos da mordida ou algo mais simples?!
Curioso é o fato de agora conhecer duas pessoas - sem ser os de laços familiares ou a vizinhança de minha antiga vila - que, em algum momento, cruzaram caminhos com o meu pai. Isso engloba um vampiro e uma freira. Um tanto peculiar, não acha?
Encontro-me mais uma vez no mesmo quarto dos últimos dias. Estou deitada, enferma. Entretanto, não interprete mal, eu posso me levantar e fazer todas as minhas necessidades básicas sozinha. Quanto à caça? Não, além de Hilda proibir-me, seria uma tarefa difícil mesmo que eu quisesse.
Até o momento não pude conversar com ela e percebo que ela está evitando tal interação. Refiro-me à isso porque a freira presente à beira de minha cama, incumbida de meu cuidado - ou vigilância- é uma figura distinta. É mais jovem, tem olhos esverdeados e traços faciais delicados. Surge em mim uma curiosidade para descobrir a tonalidade dos cabelos por baixo daquele véu azulado.
Eu precisava pensar, pois possuo apenas dois dias para descobrir se há uma maneira para persistir com vida sem a condição de vampira. Em paralelo, preciso buscar a verdade acerca do corpo de meu pai. E se, porventura, ele estiver vivo? A mera hipótese acelera as batidas do meu coração.
Anseio por respostas, imediatamente.
- Por quanto tempo Hilda irá continuar me evitando?- indaguei com uma ponta de ira, sendo um tanto difícil articular as palavras; a garganta, inchada, e os lábios ressequidos teimam em abrir.
- Ah, hum... não sei. Ela me instruiu a permanecer ao seu lado até amanhã. - disse a freira, cuja timidez transparecia na voz, parecendo a de um anjo.
- Ela só pode ter enlouquecido. - bufei.
Silêncio.
- Recordo-me de ter visto você ontem. - falei. - Quase invisível, mas estava lá.
Novamente, silêncio, acompanhado apenas por um fugaz olhar tímido da religiosa.
- Certo. Vou fingir que você é um espírito ao lado da minha cama. - desisti, pois a freira mostrava-se difícil de se dialogar.
Fixei o meu olhar sobre as minhas duas mãos trêmulas; o corpo reagia diariamente a mordida. A falta das unhas nos dedos já não se apresentava como algo tão aterrorizante diante dos meus olhos. O receio surge em mim, pois percebo que estou gradativamente habituando-me com a presença da morte.
A necessidade de encontrar Hilda se torna urgente. Ela não pode simplesmente desistir de mim assim dessa forma, é como se estivesse praticamente me abandonando. E esse abandono planta uma incerteza em minha mente: e se não houver cura? A probabilidade disso é considerável.
Imagina ter que escolher.
Morte ou vampira?
Nada ou tudo?
Hei de me transformar, então, em uma criatura sinistra? Em uma assassina, controlada pelo vício do sangue?
Aflição invade meus pensamentos. O que seria mais sensato escolher? Qual seria a decisão certa? Afinal, o que é de fato certo ou errado?
E como seria me tornar esposa do Conde Drácula?
As incertezas persistem, envolvendo-me como sombras na penumbra.- Se eu disser algo totalmente absurdo, você promete não me julgar? - indagou a freira.
Pisquei algumas vezes para emergir daquela tempestade de pensamentos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Conde Drácula: Boca de Sangue
VampireA jovem romena Morgan encontrou uma floresta distante de sua casa após sair da mesma. Porém, mal imaginara que se tratava de uma região assombrada pelo famoso vampiro, Drácula. Para o azar da jovem, viver em um vilarejo pequeno e distante de tudo de...