Capítulo 10

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O céu estava em um belo tom de azul escuro e cravejado por estrelas brilhantes. A lua estava alta o suficiente para dizer que o dia já era outro, e os dois jovens, que haviam começado a ler na floresta, estavam adormecidos desde o início da tarde. Muito embora ambos teriam aulas até às quatro e meia da tarde e bastante tempo para conhecer as atividades curriculares do colégio. Diferente dos outros, que passaram as aulas preocupados sem saber onde seus amigos estavam.

Ben abriu os olhos lentamente, acordando de forma lenta para evitar acordar sua querida. Observou em volta, aquelas árvores balançando com o vento, pareciam monstros se movendo. Além da assustadora trilha sonora de corujas e cigarras que casavam perfeitamente com os olhos amarelos e brilhantes na escuridão. Sentiu como se a floresta o observasse, sentiu um frio na barriga igual quando seu pai contava da noite que que voltou a ser humano.

“Quando foi que caímos no sono?” Se perguntou enquanto se levantava, o uniforme do colégio estava com algumas folhas presas e o colete havia começado a desfiar perto dos botões. Suspirou.

Se deu o luxo de admirar quão encantador era o rosto de sua bela namorada adormecida, por alguns minutos, antes de acordá-la.

— Mal…Acorda! – Sacudiu levemente a garota.

Ela acordou um pouco assustada como alguém que havia sido salvo de um pesadelo. Logo percebeu que estava noite e em uma floresta.

— Ah droga! Devem está querendo comer nossos rins. – Mal concluiu.

— Não vou deixar ninguém comer o rim da  minha noiva! – Brincou Ben ao oferecer a mão para Mal se levantar.

Pegou o livro, que estava jogado na grama, aberto em uma página sobre ovos de dragão,   o fechou com não muito cuidado e aceitou a ajuda para se levantar.

— Talvez seja a hora de voltarmos para os nossos dormitórios? – Ben sugeriu. Não era a pessoa mais ansiosa para voltar para o desastre da Ramshackle que a essa altura da noite, o próprio casarão estaria rugindo de frio.

Mal olhou ao redor, algo nos morcegos sobrevoando o céu a diziam que precisava voltar para o dormitório e ter uma boa noite de sono para começar a procurar a saída pela manhã. Sim, era melhor sair logo antes que sua vontade de descobrir mais e mais sobre tudo aquilo continuasse a crescer, já sabia o que queria, diferente do mundo dela, nesse sua mãe era diferente.

Não sabia o que exatamente havia ocorrido de diferente, mas em algum ponto da história tudo começou a ir diferente. Em um ponto da história sua mãe se tornou fraca o suficiente para ser morta por um príncipe encantado e ser revivida e presa em uma ilha sem poder usar sua mágia pela fada madrinha. E eventualmente conheceu seu pai e a tiveram. Uma linda história. Mas aqui, sua mãe era uma rainha, que até que fez coisas horríveis no passado igual a sua mãe, mas…mas porquê o reino continuou? Nesse mundo, a história estava muito distorcida e apagada…ou talvez no dela.

— Sim.

O campus não era totalmente vazio durante a noite, os fantasmas se divertiam durante a madrugada, era possível ver um ou dois alunos andando pela madrugada com alguns lanches da máquina de salgadinhos. A luz dos postes davam um toque de charme especial ao lugar, perto da sala dos espelhos era possível ver ao longe a velha Ramshackle.

Ben respirou fundo ao saber que passaria mais uma noite lá.

— Bom, hora de ir para a mansão mal assombrada…

Mal sentiu pena de Ben. Detestava a ideia de que alguém tão querido para ela ter que dormir em um lugar caindo aos pedaços com desconhecidos enquanto ela iria dormir confortavelmente em um quarto de qualidade. Talvez, talvez seu colega de quarto não fosse se importar em dividir com mais alguém, afinal não parecia ter problemas para dormir e nem mostrou sinal de que iria acordar quando aquela estava com ele. E também ele não reclamou ou contestou em dividir o quarto com ela.

— Não é melhor vir passar a noite na Diasomnia? Meu colega de quarto não parece ser do tipo que se importa.

— Por mim tudo bem.

Foram para a sala dos espelhos. Eram o total de sete, um para cada dormitório diferente, Ben se rendeu por alguns segundos em falar que seria uma boa ideia para Auradon, atravessaram o com emblema de dragão.

Trovões e uma feroz tempestade de raios, como nunca tinham visto na vida, rodeavam o castelo da Diasominia. Correram apressados pelo penhasco até a grande porta, prestes a abrir, escutaram um grito. Não um grito normal, um de raiva, que os fez tremer, tomaram a decisão de espiar pela porta em vez de entrar de imediato.

— COMO VOCÊS DOIS NÃO ACHARAM A GAROTA?!?! — Malleus estava irritado e gritando com Silver e Sebek – NÃO CONSEGUEM CUMPRIR UMA SIMPLES ORDEM?

Silver e Sebek estavam com um rosto de derrota e extremamente cansados. Se sentiam um fracasso por não terem conseguido cumprir as ordens do mestre, se ajoelharam.

— Jovem Mestre…

O líder estava brigando com aqueles dois por uma garota que havia sumido, Mal percebeu que era a garota. Começou a se sentir culpada, não por Sebek e sim por Silver que havia sido gentil e agora estava levando bronca por ela não estar no dormitório. Resolveu abrir a porta e entrar lentamente. Ben foi logo atrás.

O rosto de Malleus se virou para a porta.

— ONDE. VOCÊ. ESTAVA? – Perguntou ferozmente.

— Não é da sua conta.– Revirou os olhos e cruzou os braços.

Respirou fundo, ele era melhor do que uma adolescente. Ou pelo menos tentava se convencer. E era sim da sua conta, ele era o líder do dormitório e um de seus membros estava desaparecido e sem rastros ou meio de comunicação.

— Eu sou o seu líder. Então sim.

— E isso te dá direito de mandar na minha vida?

Um raio partiu o céu.

Ben percebeu que a situação estava começando a ficar um pouco mais calorosa que deveria.

— Não fale assim com o Jovem Mestre! – Sebek gritou e tentou atacar Mal. Silver o segurou.

— Fica longe da minha namorada!– Ben gritou, puxou Mal para perto na tentativa de deixá-la protegida.

Malleus enfim notou a presença do intruso, agora fazia sentido, ela havia ido matar tempo para ficar com a paixonite adolescente dela.

— Há, agora tudo faz sentido. Dois pombinhos apaixonados! – Malleus estava começando a falar de modo que fazia lembrar a avó. Arrogante e ameaçador. – Silver e Sebek! O devolvam ao dormitório Ramshackle.– Ordenou.

Os dois começaram a escoltar, embora aquilo tenha sido contra a vontade de Ben, e talvez até deles mesmos, mas estavam cansados demais para demonstrar vontade ou gentileza.

— Pelo visto você está acostumado em mandar em todo mundo…– Mal comentou. O leve rancor por ele ter tido uma vida melhor transpareceu.

— E você a sair fazendo o que quiser. – Retrucou. Sentiu uma leve inveja por isso.

Malleus usou magia para se teletransportar para o seu quarto, deixando Mal sozinha no salão do dormitório.

Começou a vagar pelos escuros corredores, que eram iluminados por leves chamas verdes nas paredes, em busca do quarto. Como sempre, era silencioso, e o único barulho eram os passos estressados da garota.

Passos acompanhavam o dela como se quisesse disfarçar sua presença, mas ao tempo eram atrasados demais para não serem notado, quase como se fosse de propósito. Alguém estava fazendo isso de propósito, alguém estava tentando deixá-la assustada de propósito. Olhou para atrás e não havia ninguém, ou pelo menos ninguém pudesse ser visto, as chamas começaram a se apagar uma a uma.

A sequência de chamas se apagando estava chegando perto de Mal, ela correu para a sacada do castelo, onde estava iluminada pela luz da Lua. Teve a impressão de ter visto um vulto. E de repente, o clima se acalmou, as chamas se acenderam novamente, sentiu alívio.

“Eu deveria ir dormir logo” pensou. Se apoiou na cerca de concreto. Era melhor esperar Silver voltar para encontrar o quarto do que ficar perdida por aí.

Uma leve brisa encostou em sua pele. Agora ao seu lado havia uma figura familiar.

𝐕𝐢𝐥𝐥𝐚𝐢𝐧𝐬 - 𝐓𝐰𝐢𝐬𝐭𝐞𝐝 𝐖𝐨𝐧𝐝𝐞𝐫𝐥𝐚𝐧𝐝 𝐱 𝐃𝐞𝐬𝐜𝐞𝐧𝐝𝐞𝐧𝐭𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora