𝐕𝐢𝐥𝐥𝐚𝐢𝐧𝐬 - 𝐓𝐰𝐢𝐬𝐭𝐞𝐝 𝐖𝐨𝐧𝐝𝐞𝐫𝐥𝐚𝐧𝐝 𝐱 𝐃𝐞𝐬𝐜𝐞𝐧𝐝𝐞𝐧𝐭𝐬

Capítulo 11

Aqueles olhos rubis gigantes a encaravam de forma gentil. Novamente estava de cara com aquele ser estranho de cabelo tingido. Se lembrou das palavras de Evie e pensou no que a garota estranha poderia querer com ela uma hora dessas. Talvez vingança pelo o que fez Silver passar.

— Olha, não foi minha intenção…– Começou a se desculpar logo. – Ele parece ser bonzinho, eu não queria que aquele cara brigasse com ele.

— Ora, eu sei que ele é bonzinho! Todos os meus garotos são! – Uma voz brincalhona. Uma voz masculina para a surpresa de Mal, aquilo não era uma garota? –  Prazer em conhecê-la, sou seu Vice-líder, me chamo Lilia Vanrougue!

Estendeu a mão. Mal não entendeu muito bem o que o Vice-líder estava querendo com ela. Normalmente, na ilha dos perdidos, quando alguém iria ao seu encontro dessa forma, nunca era coisa boa.

— O que você quer?– Perguntou.

— Ora… Não foi você que acabou de brigar com Malleus? É a Mal, não é?? – Lilia perguntou. – Só vim conferir se está bem…

Mal hesitou em responder, não era comum alguém surgir do além para saber como estava se sentindo. Suspeitou que o vice-líder estivesse no lado de Malleus.

— Estou, mas o seu líder é um mimado acostumado em mandar em todo mundo. Provavelmente só porque cresceu em um castelo.– Estava irritada

Lilia se surpreendeu com a declaração de Mal. Ele não acreditava ter mimado tanto assim o Malleus, apesar de sempre fazer as vontades dele. Não, seu garotinho era um exemplo.

— Mas você também não cresceu em um castelo?

— Eu?Ah não, eu não…Na verdade foi o oposto. – Respondeu em tom melancólico. Lilia ficou curioso para saber – No meu mundo, as coisas aconteceram diferentes…Minha mãe foi uma pessoa terrível, então foi exilada em um lugar com os piores vilões e sem magia, ou seja eu cresci lá. Com os piores pais do mundo. O Malleus tem muita sorte pela vida fácil.

Lilia pareceu entender a situação, em outros lugares, o rumo da família Draconia foi ao fracasso. Mas ainda assim, Mal o fazia lembrar lembrar um pouco de Malleus, afinal, ambos cresceram presos a algum lugar.

— Criança…Talvez vocês não sejam tão diferentes assim. Ambos tem algo que desejam ter um no outro.

A garota achou engraçado a forma que aquele rapaz falava, parecia alguém velho mas com a aparência de alguém jovem adorável. Lilia ficou feliz ao ver os olhos de quem achava graça, o fazia lembrar de uma velha amiga.

— Ele querer alguma coisa minha?– Estava confusa.

— Eu venho cuidando de Malleus desde antes dele nascer e pelos últimos 178 anos, o conheço bem o suficiente para te dizer que há algo em você que ele gostaria de ter. – Lilia contou. Era uma verdade, ele sabia que Malleus desejava, desde sua infância, não ter a aura sombria que o ronda e afastada a maioria das pessoas.

Mal pensou sobre, como Lilia vinha cuidando de Malleus desde que ele nasceu? Como alguém pode ter 178 anos e se parecer ainda um adolescente. Na ilha dos perdidos, quando era apenas uma criancinha maléfica vivendo pela maldade, escutou uma conversa de duas adultas de orelhas pontudas que falavam sobre como era deprimente saber que já havia existido algumas criaturas mágicas que podiam viver tantos anos sem envelhecer uma ruga se quer.  Concluiu que Lilia e Malleus deveriam ser uma delas, embora ela imaginasse que tais criaturas tivessem a aparência mais semelhante com pequenas bolas de pelo coloridas e felpudas, mas esses dois estavam mais para subespécie de góticos.

Ele deveria ser muito antigo, isso explicava o porquê de falar igual a alguém que já havia vivido por bastante tempo. Talvez o dobro da idade de Malleus.

— Você deve ser muito velho…– Começou a raciocinar. “Ele não é velho demais para Silver?” pensou arregalando os olhos. – Então…você e o Silver…são…um…casal?

Os olhos de Lilia se arregalaram, ele e Silver um casal? Lilia começou a rir loucamente da pergunta de Mal, não era a primeira vez que ouvia a pergunta mas nunca perdia a graça. Embora tivessem um segredo que deveria ser mantido longe dos alunos problemáticos daquela escola, Lilia estava sempre junto de Silver e sendo carinhoso, afinal Silver sempre será seu precioso bebê na visão do pai.

— Eu de fato o amo muito e daria minha vida por ele! – Falou pausadamente enquanto gargalhava. Mal tentava entender como Lilia poderia estar com alguém tão novo. – Mas ele é meu filho precioso e bonzinho, mas você tem a minha bênção se quiser.

Filho? Como Mal saberia daquilo? Eles nem se pareciam. Lilia tinha cabelos pretos e olhos de rubi, enquanto Silver tinha cabelos prateados e olhos de aurora. Se aquilo era verdade, para Mal, Lilia até que não havia feito um trabalho tão ruim  com Silver, ele parecia ter se tornando um bom rapaz. O rosto da garota queimou ao notar o que havia pensado.

—  Você deve ter cuidado bem dele. – Mal falou ainda queimando de vergonha.

— Eu espero! Admito que ainda não sei se estou fazendo certo, mesmo depois de todos esses anos. – Ficou meio pensativo, mas logo seu rosto se iluminou de novo – Mas não me arrependo de pregar peças no Halloween! Mesmo tendo que lavar as roupas de cama de manhã! Silver e Sebek eram dois gatinhos assustados há alguns anos atrás!

Mal riu.

Por um pequeno segundo, pequeno mesmo, pensou em como teria sido sua infância se fosse criada por Lilia, talvez nunca tivesse desejado ser má e teria uma vida diferente. Foi um pensamento rápido, que se foi junto ao vento, sua vida atual era um sonho que nem ela mesma sabia que tinha. Ela tinha Ben e um reino que logo se tornaria rainha, era tudo que jamais pensou em ter. Então porquê se imaginava pequena e recebendo um abraço caloroso, logo após ter ralo o joelho, enquanto Lilia a distraía com pequenas luzes feitas com magia?

— Eu gostaria de tido alguém para cuidar de mim…

Palavras saíram sem que ela percebesse. O garoto de cabelo colorido parecia entender o que ela sentia, a expressão facial que ela fez ao dizer era igual a de Malleus quando estava triste. Nem todos têm uma infância feliz.

— Bom, esse velho aqui não se importa em cuidar de mais uma criança...se você quiser é claro. – Talvez ele estivesse fazendo uma jogada arriscada, mas ele não se importaria mesmo de cuidar de mais uma criança com belos olhos da pessoa que já amou.

— Cuidar de mim? Eu já aprendi isso faz tempo. – Mal se surpreendeu com a proposta.

— Ora, já é  independente, não é? Não precisa que esse pobre garotinho fofo cuide de ti, nem que contem as histórias de guerra, ou que te ensine usar magia corretamente!– Lilia fingiu se lamentar, arrancando mais alguns risos da garota.

— Bom, eu já tenho um livro de feitiços, e a magia no meu mundo já está aposentada há muito tempo.

Lilia entrou em choque, como poderiam ter aposentado a magia? Uma dádiva para as criaturas vivas, capaz de deixar o mundo mais belo com os mais diversos encantos. Como podem privar as pessoas de algo tão maravilhoso? Havia entendido que ela havia crescido sem magia, mas pelo visto continuava sem.

Não era correto um membro da família Draconia viver assim. Então uma ideia veio em sua mente, daria um jeito nisso, subiu em cima do cercado.

— Vamos, criancinha?–  Estendeu a mão.

“Ele não faria isso.” pensou, “ Ele não se jogaria ” novamente. Antes que conseguisse segurar a mão dele, ele já estava caindo para o abismo cheio de espinhos. Não podia deixar que aquilo fosse acontecer.