23 | Joguinhos.

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Ficamos em silêncio

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Ficamos em silêncio. O beijo me deixa completamente sem fôlego, então acho que eu não conseguiria falar nem se quisesse. "Dar um amasso" me parece uma forma muito fraca para descrever o que estamos fazendo, e tenho certeza de que explorar os lábios dela é como um segredo que eu quero guardar.

Mesmo depois que o beijo fica mais tranquilo, continuamos grudadas, deitadas na grama alta. Eu nos cubro com a minha jaqueta e ela se aconchega em mim, como se soubesse que está segura ao meu lado. Que eu jamais permitiria que algo ruim acontecesse com ela. Que eu enfrentaria o mundo inteiro por ela. Sei que eu talvez precise fazer isso, mas estou preparada.

Ela vale a pena. Nossa, como ela vale a pena.

Sinto os lábios de Jennie em meu pescoço, e ela acaricia meu pulso com o polegar. Aos poucos, o movimento desacelera assim como a respiração dela, e eu a seguro contra meu corpo à medida que ela pega no sono, desejando que o dia nunca termine.

Quero ficar aqui, onde nada pode nos tocar.
No começo não identico o som de vibração, depois percebo que está vindo do bolso dela. Jennie acorda devagar, olhando para mim. Quero poder vê-la acordando pelo resto da vida.

— Ei — sussurro, esticando o braço para tirar um fiapo de grama do ombro dela.

O celular continua vibrando. Jennie afasta o cabelo do rosto e o pega no bolso.

— Droga — resmunga ela, ficando de pé.

— Está tudo bem?

— Aham — responde ela, encarando a tela do celular sem olhar para mim. — Aham, é que...

Ela levanta o rosto e me encara, um momento breve e cheio de eletricidade, então volta a olhar para o celular, passando o dedo pelo aplicativo de mensagens.

— Tenho que ir. Preciso fazer umas coisas.

Não tenho tempo de reagir ou de dizer qualquer coisa. Ela vai embora, seguindo pelos trilhos tão depressa que, se eu quisesse segui-la, teria que correr.

Fico parada ali, observando Jennie desaparecer no entardecer.

O que raios aconteceu?

***

Eu me obrigo a ir para casa. Cada movimento é muito difícil, mas eu consigo. Quando chego ao meu quarto, estou completamente desnorteada.

Toco minha boca, com a sensação de que nada parece real.

Eu não pareço ser real. De repente, faço parte de uma realidade em que sou uma garota que beija daquele jeito. Que beija outra garota. É muito extasiante ter essa experiência — sempre escutei falarem sobre essa sensação, mas de repente aconteceu comigo. Uma história de princesa que encontra outra princesa com quem vive feliz para sempre está girando em minha mente. Meu cérebro não sabe como funcionar depois dos beijos, mas estou tentando.

Por que Jennie saiu correndo? Será que ela está bem? Será que ela recebeu uma mensagem da mãe ou algo assim? Preciso descobrir.

Vou até o computador, e minha boca fica seca quando vejo que ela está on-line.

Li_Manobal: oi

Estou olhando para o usuário dela, esperando uma resposta, mas o status muda para ausente. Esse é o problema em mergulhar de cabeça. Algumas vezes a água é rasa demais e eu não percebo.

Volta.

Tento manifestar meu desejo através da tela; uma mão no mouse, a outra tocando minha boca como os lábios dela tocaram. Ela me beijou. Sem parar, com vontade, como se estivesse com sede depois de caminhar por muito tempo no deserto.

Volta.

Mas agora ela não passa de um status ausente, zombando de mim ao longo da noite toda vez que olho para o computador.

***

Na manhã seguinte, a primeira coisa que faço é ir até o computador. Ela nalmente respondeu. Já era bem tarde da noite, quando eu não estava on-line, como se Jennie tivesse planejado esperar até que eu já estivesse dormindo e não pudesse respondê-la.

JennieKim: oi

JennieKim: não tinha visto sua mensagem, capotei quando cheguei em casa. tô morrendoooo de ressaca

JennieKim: vodca nunca é uma boa ideia.

JennieKim: foi mal por ter sido estranha ontem

Encaro as mensagens, sentindo a empolgação se esvair. Começo a digitar. O que eu deveria dizer? Que ela não precisa pedir desculpas? Que beijar ela foi a melhor coisa que já me aconteceu? Que eu tenho quase certeza de que eu...

Paro de digitar. Preciso pensar, não apenas agir.

Clico no ícone do navegador e abro o LiveJournal dela.

Usuário do LiveJournal: JennieKim
Postagem pública
28 de junho de 2006

[Ouvindo agora: "Over My Head", The Fray]

Minhas garotas são tudo. Falei pra @RosiePosie que precisava muito relaxar e ela e a @Jisooya organizaram uma noite das meninas pra gente e uma festa amanhã! Me mandem mensagem para saber os detalhes ou comentem aqui.

Não sei o que eu faria sem vocês! <3 <3 <3

Jennie.

Eu não deveria ler os comentários; sei que vou me sentir pior, mas clico neles mesmo assim. Quando termino de ler a conversa sobre a "noite das meninas", meu estômago está embrulhado. Parece que Jennie fez aquilo de propósito, como se quisesse substituir a lembrança de estar comigo nos trilhos por uma memória com as amigas de verdade, as amigas que ela não beija até cansar.

É como se eu estivesse sendo apagada. Sinto uma onda de inquietação ao pensar nisso. Não há nada pior do que se sentir invisível, que se eu desaparecesse ninguém sentiria minha falta. Foi o que minha mãe pensou. E ela estava muito errada.

Seguro o mouse com força, mas tento relaxar quando clico de novo na conversa com Jennie. Ela ainda está on-line. Será que está esperando uma resposta? Parte de mim quer alterar o status para ausente só para torturar Jennie como ela fez comigo.

Em vez disso, fico on-line e digito de maneira muito calculada e quase cruel:

Li_Manobal: haha vc é estranha mesmo. Não tenho ideia do que vc tá falando.

E depois, como se eu já não soubesse:

Li_Manobal: o que vc vai fazer hj?

E, mais uma vez, fico sem resposta. Ela volta a ficar ausente.

[Humor: animada]

Fico tonta e sinto meu sangue gelar. Pensei que entrar na onda de Jennie e fingir que nada tinha acontecido faria com que eu me sentisse melhor, mas o tiro saiu pela culatra.

Estou de saco cheio desses joguinhos. Estou de saco cheio de mentir. Principalmente para mim mesma.


🗽

Girls Like Girls | JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora