41 | Possibilidades.

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Vou até o lago no meu dia de folga do restaurante

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Vou até o lago no meu dia de folga do restaurante. Não nutro qualquer esperança de ver Jennie. Vou bem cedo justamente para não correr o risco de esbarrar com ela e os amigos, caso eles decidam nadar ou pegar sol.

Vou até lá porque água não tem apenas a ver com limpeza. Não quero me purificar de Jennie. Isso seria pensar da mesma forma que ela, como se nosso amor fosse sujo ou errado. Odiei me dar conta de que era isso que ela pensava da gente, sem nem mesmo entender que tinha criado uma armadilha para si mesma. Sem entender que estava machucando mais a si mesma do que a mim.

Vou até o lago porque a água tem a ver com renascimento.

Meus dedos tocam a água. É de manhã, então está fria. Não há neblina, mas tem algo de místico no ambiente mesmo assim, com as árvores e as nuvens no lago. A água toca meus calcanhares, depois as batatas das minhas pernas, depois meus joelhos. Hesito, brincando com os dedos na superfície.

Será que tenho coragem suficiente para me amar?

Para deixar Jennie pra trás e torcer para que um dia ela encontre a verdade?

Respiro fundo.

Só tem uma forma de descobrir. Mergulho.

***

Estou abrindo o cadeado da minha bicicleta no estacionamento quando ouço um barulho de motor de carro. Ver aquela minivan estacionando na pequena estrada que dá para o lago é quase como ter um déjà-vu. Tae e Bambam descem do carro, seguidos pelas garotas. Desvio o olhar quando vejo Jennie. Meu cabelo está molhado e gotas escorrem pelas minhas costas. Passo a corrente pela bicicleta. O grupo de Jennie segue o caminho até o lago, mas ela se vira para mim, e nossos olhos se encontram.

Ninguém se esconde. Ninguém desvia o olhar.

Somos apenas eu e ela e o que existe entre a gente, ardendo em chamas. Ela sorri e eu sorrio também. É um sentimento agridoce.

Dou as costas e vou embora. Não olho para trás porque não aguentaria saber se ela está me observando partir.

Depois que saio do estacionamento, atravesso a rua e percorro uma distância considerável do trajeto, até que ouço um barulho de chinelos vindo atrás de mim.

- Lalisa! Espera aí!

Eu me viro e me deparo com Jisoo cruzando o estacionamento.

- Oi - falo. - E aí? Tudo bem?

- Queria te convidar para uma festa lá em casa hoje.

- Jisoo, não precisa fazer isso - digo.

- Mas eu quero - insiste ela.

Ela respira fundo.

- Olha, eu fiquei sabendo que a notícia se espalhou. Sua mãe... - Jisoo faz uma pausa. - Sinto muito. Jennie me contou sobre a sua mãe porque ela estava preocupada de não ter agido da forma certa. Ela queria um conselho. Mas então a Rosé ouviu. Foi assim que o assunto tomou essa proporção. Quero que você saiba que eu jamais falaria sobre esse assunto em tom de fofoca. E Jennie veio falar sobre isso comigo porque... - Ela hesita, umedecendo os lábios e baixando o olhar para os chinelos decorados. - Porque algo parecido aconteceu na minha família.

Sinto meu coração bater forte à medida que a voz de Jisoo se torna mais grave e mais arrastada, como se ela estivesse escolhendo cuidadosamente as próprias palavras. Isso é importante para ela. Jisoo continua:

- Minha irmã estava muito deprimida uns anos atrás e tentou o suicídio. Meus pais conseguiram ajuda, hoje ela é diagnosticada, está medicada e tem uma ótima terapeuta. Está muito melhor. Mas eu sinto muito pela sua mãe, sinto muito pela forma como isso se desenrolou com as outras pessoas. Se alguém tivesse fofocado sobre minha irmã, eu ia sentir vontade de arrancar os olhos dessas pessoas. Entendo se você me odiar, mas queria que você soubesse que Jennie não falou por mal. Ela queria descobrir uma forma melhor de te ajudar, e ela veio falar comigo para garantir que não ia falar merda. E não estou dando desculpinhas, a gente devia ter fechado a porta para que ninguém ouvisse, mas ela... - Jisoo morde o lábio. - Jennie está de volta há uma semana e está bem triste. E muito diferente. Pergunto o que está acontecendo e ela fala que estragou a amizade de vocês. Então eu pensei que, talvez, se eu explicasse...

- Obrigada - interrompo, ainda que delicadamente, tentando processar o que ela disse.

Será que é verdade? Acho que sim. Jisoo teria que ser um monstro para mentir sobre um assunto desses.

- Moro na casa que ficou parada na década de setenta, na rua Luna - diz Jisoo. - Pode vir, mas se não quiser, tudo bem. Você decide.

- Tá bem.

- Espero que você vá. Sei que Jennie vai ficar feliz em te ver.

- E é mesmo o que você quer? - questiono, curiosa.

Será que Jisoo desconfia de alguma coisa? Será que ela já leu nas entrelinhas, nos olhares e nos anseios? Será que ela se importa? Será que ela aprova? Para mim não faz diferença, mas sei que para Jennie, sim.

- Ela é minha melhor amiga - responde Jisoo. - E eu a amo. Você é o tipo de pessoa que sempre está disposta a ouvir e ajudar os outros, e acho que esse é o tipo de pessoa que a gente tem que manter por perto.

- Que bom que ela tem você. - Isso é tudo o que digo. - Tchau, Jisoo.

Subo na bicicleta e vou embora.

Ainda estou pedalando até em casa quando decido: eu vou. Quero provar para mim mesma que consigo fazer isso, que consigo estar perto dela sem quase enlouquecer com cada passo e cada respiração perto dela.

A saída está logo ali, mas todas as possibilidades precisam ser testadas.

Todas as escolhas são repletas de possibilidades.

Todas as escolhas são repletas de possibilidades

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