Caixa, chaves e...

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Está escuro aqui, às vezes o carro se ilumina quando passamos pelo que suponho ser um poste de luz. Mas tanto a falta de luz, quanto o cheiro de naftalina, me incomodam tanto quanto a sensação que a roupa molhada causa na minha pele. Ou tanto quanto os últimos acontecimentos.
Tenho outros assuntos para me preocupar.
Como por exemplo, que diabos são eles? Eu já vi dois daqueles rostos antes, na hora não passou pela minha cabeça, mas agora pensando bem, já os vi em fotográfias que eu mesma tirei.
Ele disse que "nós" o levaremos até"ela". Mas quem somos "nós"?
Talvez sejamos eu e o taxista.
O banco do motorista e do passageiro é dividido por um vidro preto fumê.
Consigo sentir meu coração desacelerando e minhas mãos pararem de tremer. Fui até a divisória e bati no vidro, não houve respostas.
Bati novamente e ainda sem respostas.
Preciso descobrir onde ele está me levando, deveria ter pensado nisso antes de entrar na droga do táxi.
- Ei, eu sei que está aí! Aonde está me levando?
Dessa vez bati tão forte que meus dedos deram choque com o impacto.
Ainda sem respostas, meu medo se transformou em impaciência que logo depois se transformou em raiva. Fechei os dois punhos e continuei batendo no vidro, que permaneceu intacto, gritei para ele me responder até minha voz acabar. Imagino que o carro seja a prova de som, pois qualquer pessoa à alguns metros escutariam meus gritos.
Não sei quanto tempo se passou, talvez duas ou três horas, depois que aceitei que o vidro da divisória não iria se quebrar tão fácil, percebi que fazia tempo demais que estávamos rodando, isso significa que ele está me levando para fora da cidade, então fiquei mais preocupada, meu objetivo agora seria fugir do carro, e como o esperado, mesmo com meu chutes e murros as janelas do táxi não se quebraram.
- Eu sei que consegue me ouvir.- esforcei para dizer essas palavras, minha garganta ainda dói pelos gritos- Pode responder minhas perguntas?- a voz do silêncio ecoou pelo táxi, mas mesmo assim considerei como um "sim".- Pode me dizer quem eram aquelas pessoas?-Sem respostas, eu finalmente aceitei a minha derrota. Encostei a cabeça no vidro da divisória.
- Eu deveria ter dito a eles que não tinha nada haver com aquilo, deveria ter dito a eles que uma ligação dos mortos me levou até lá.
Encosto a cabeça no vidro da divisória e por fim fecho os olhos, se for para eu morrer que morra dormindo.
Quando os abri novamente percebi que o táxi não estava mais andando, o que serviu de alarme pra que eu desse um pulo do banco. Meu coração gelou quando um pequena fresta do vidro à minha esquerda abriu, vou até ele ansiosa para ver o que me aguarda lá fora.
Consigo ver uma silhueta parada em frente á um poste de luz, ela caminha em direção ao carro.
Me afundo nos bancos e procuro algo para me defender.
A porta se abre e sentado à minha frente está Victor Proslot, o garoto que matou o irmão no segundo ano. Ele está de cabeça baixa, suas mãos e camisa ensanguentadas, pelo visto, ele matou outra pessoa. Sinto um revirar no estômago em pensar que serei a próxima.
Ele encara as chaves em suas mãos por certo tempo, então fita a caixa em meu colo, seu olha sobe até meu rosto.
Seguro a caixa firme, se ele se mover vou acerta-lo com ela, eu posso até morrer, mas não sem lutar.
Victor olhou no fundo dos meus olhos com um olhar morto. Aquele não era o olhar de um assassino.
Colocou as mãos no bolso, e percebo que esse será o meu fim.
Em um movimento rápido tirou um objeto pequeno e brilhante do bolso, um canivete- pensei.

- Abre a caixa- disse com sua mão estendida na minha direção, ele segura uma chave.

Os segredos que os mortos não te contamOnde histórias criam vida. Descubra agora