Credere Peregrino

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Os olhos de Victor me fitam ansiosos por uma resposta, nada parecido com o olhar frio e morto de alguns segundos atrás.
Curvo o cenho, não prestei atenção na sua pergunta, estava ocupada pensando no passado.
— O conhece, não é?— ele perguntou com uma voz viva.
— Conhecer é uma palavra muito específica, eu fiz um trabalho para ele há algum tempo atrás.
Ele revirou os olhos.
— Dentre nós dois, o conhece mais do que eu.
— Já disse, não o conheço.
— Mas já o viu pessoalmente, não é?—assenti com a cabeça — Sabe o que esses ossos podem significar?
— Não faço a mínima idéia.
— Tem certeza? Temos que saber para onde ir, e esses ossos são a nossa única chance. Conta um pouco sobre sua história.
— Como assim tenho que saber para onde vamos? Eu já sei para onde vou, e é para bem longe dessa droga de táxi.
— Se fosse sair já tinha saído.
— Não saí antes porque estava em choque, mas agora, consigo perfeitamente me lembrar o caminho de casa.
— Por que estava em choque? O que aconteceu?— ele me pergunta ansioso, penso bem antes de responder, é nítido que Victor presta atenção em cada palavra que saí da minha boca na tentativa de tirar algo de mim. Talvez eu deva conta-lo sobre o que aconteceu, mas para mim ele é um estranho, a única coisa que sei sobre ele é o que todos da cidade sabem, ele matou o próprio irmão.
— Não te interessa.
— Então já que quer sair, abre a droga da porta e corra.
— Eu vou assim que essa droga de táxi parar.
— Essa droga de táxi nunca vai parar. Não enquanto não o dissermos para onde ir, enquanto isso ele vai rodar em círculos por toda a cidade.
— Como sabe disso? Talvez você seja um deles.
— Porquê é isso que os taxistas fazem, só vão para o lugar que o passageiro manda.
— Eu não o mandei buscar você.
— Eu sei, fui eu quem mandou buscá-la.
— Para a droga do carro, para agora— bato nos vidros com força, mesmo sabendo que é inútil.—Você está por trás disso, não é?
— Desculpa, eu não quis dizer isso, sou uma marionete assim como você, antes de vir pra aqui tive que chama-la. Você disse que estava em choque antes de entrar, o que houve? — ele me olhou esperando uma resposta — eu sei que é sínico dizer, mas tem que confiar em mim, a única forma de sairmos daqui é compartilhando tudo o que sabemos.
— Se quer que eu confie, conta você sua história primeiro.
Ele deu um suspiro denso e cansado.
— Ele me fez matar meu amigo, só isso.
— Ele também fez você matar seu irmão?
— Ele não me fez matar ela.
— Então a matou porque quis?
— Eu não matei o Pedro— respondeu ele impaciente, dizer o nome do irmão parecia mais angustiante do que engolir mil pregos.
— Está bem, quem sou eu para contradizer.
Ele respirou fundo.
— Ele me mandou algumas cartas, e eu e meu amigo fomos investigar, o que nos levou até as chaves e também a morte dele.
— É essa a sua história?
— De formar resumida, sim.
— Não quero um resumo.
— Não temos tempo.
— Disse que o táxi só vai parar quando soubermos para onde ir, então acho que temos todo o tempo do mundo.
— Está me enrolando só para não contar a sua.
— Talvez.— dei de ombros e ele revirou os olhos. Continuei o encarando e Victor puxou o ar dos pulmões com toda sua força, ele parece cansado, não fisicamente.
— Está bem, eu conto.

Os segredos que os mortos não te contamOnde histórias criam vida. Descubra agora