A Mansão Ridley

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Erique está sentado em uma das mesas da biblioteca pública, como sempre, sozinho. Ele está com a cara afundada nos livros, tenho certeza que não está revisando matéria da escola, está lendo sobre suas teorias, nas suas mãos está o livro: "Los Anos Que Controlan el mundo" sim, ele aprendeu espanhol só para ler livros que não são traduzidos.

Caminhei até ele pisando fundo, estou irado, como ele pôde escrever aquela carta, é a cara dele zoar comigo e na maioria das vezes não levo para o pessoal, mas ele exagerou na brincadeira dessa vez, brincou com a morte do meu irmão, talvez realmente tenha sido ele quem escreveu aquelas histórias.

Na minha cabeça se passam vários cenários, a maioria dele pulo no pescoço de Erique e o estragulo, tenho tantas coisas para lhe dizer, a maioria palavrões.

Ele percebe que estou chegando e acena, por um segundo a vontade de estrangula-lo saí do meu corpo.
— E aí, Victor! Tá fazendo o que aqui?
— O que você tem na cabeça?— grito antes mesmo de chegar até a mesa e as pessoas ao nosso redor nos encaram, já estou até vendo a próxima história, "Victor Proslot mata Erique Cezar na biblioteca" não, tenho certeza que seria algo mais criativo e afiado.
— Calma, cara? Do que está falando?— ele responde constrangido.
Respiro fundo para não gritar.
— Estou falando disso aqui— joguei a carta sobre a mesa, e logo depois o selo que havia desgrudado.
Ele leu e depois pigarreou.
— Não fui eu quem escreveu isso.
— Então quem foi?
— E como vou saber?
— Erique, não brinca comigo, eu mau dormir essa noite pensando nisso.— apontei o dedo na sua cara. Me encostei na cadeira quando as pessoas me olharam com reprovação.
— Se sabe que foi eu, o que não é verdade, por que ficou tão preocupado à ponto de nem dormir? Apesar de que sabemos que sua insônia já é constante.
Não respondi, nem mesmo eu sabia a resposta. Apenas recuei envergonhado.
— Sabe que não fui eu quem escreveu isso, sabe que foi outra pessoa.
— Quem poderia ter escrito isso e assinado como Teeddy Rider? Ele não tem nada haver com a história, você mesmo disse que poucas pessoas na cidade se importou com a morte dele, ou nem sabiam da sua existência.
— Alguém pode ter escutado nossa conversa no refeitório.— ele deu de ombros.
Faz sentido.
— Ou— Erique levantou uma das sombrancelhas.
— Ou?
Ele não respondeu, pegou seu celular, estiquei a cabeça tentando ver no que ele mexia, pude vê-lo entrando na galeria.
— Erique, ou o que?
— Me empresta seu selo.— disse ele já o tomando das minhas mãos.
Erique colocou a carta e o selo sobre a mesa, lado a lado, olhou da carta para o celular e vice e versa. Abriu a boca em formato de o.
— Erique, responde! — gritei,  e uma senhora que estava sentada na mesa principal da biblioteca veio até mim, com seus saltos pontudos e barulhentos. A veia na sua testa saltitava.
— Rapazinho, se gritar mais uma vez terá que se retirar.— Rapazinho? Quantos anos ela acha que tenho, 12?
— Desculpa, senhorita! Prometo que não vai acontecer novamente.
— Ela concerta a franja com um sopro e caminha até sua mesa.
Volto meu olhar para Erique, esperando por uma resposta.
— Olha, lembra quando disse que Ridley teve poucas aparições? Certa vez em 1987 ele doou para um hospital e teve que assinar a mão o papel, meu pessoal achou isso e olha só como a caligrafia de parece.
Assim como Erique, olhei da folha para o celular, e do celular para o selo. Realmente a caligrafia parece, mas ainda sim pode ter sido Erique, percebo outro detalhe importante no papel, o hospital em que ele fez a doação é o mesmo em que eu nasci, o Hospital oficial de Santa Carla, no dia 12 de abril de 2006.
— Erique, peço que me diga de uma vez por todas, está carta foi você quem escreveu?— perguntei aflito.
Ele me fitou por certo momento e finalmente as palavras saíram da sua boca.
— Não, juro pela minha vida que não escrevi essa carta, não brincaria com a morte dele.
— Então eu acho que Teddy Ridley saiu dos mortos para me infernizar.— apontei para a data marcada no papel— A data em que ele realizou a doação foi no mesmo dia em que nasci, no mesmo hospital.
Erique tomou o celular da minha mão e me olhou assustado, mas pude ver o anseio em seus olhos por estar mais perto dos segredos da sociedade.
— Victor, não conte isso para ninguém.
— Quem você acharia que contaria? A única pessoa com quem converso é você e minha vó.
— Eu estou falando sério, se Teddy Ridley não morreu, por que fingiria sua morte? Talvez seja um plano dele com a sociedade.
— Por que não pergunta seus amigos detetives?
— Está louco? Não confio totalmente neles, ultimamente tenho suspeitado que algum deles é um espião da sociedade.
— Se não vai pedir a ajuda deles, como vou saber se essa letra realmente pertence à Teddy Ridley?
— Ainda não acredita? Foi você mesmo quem disse que ele voltou dos mortos para te infernizar.
— Foi na hora da adrenalina, mas agora estou em sã consciência. Vou até o hospital para saber mais sobre essa doação ou algo do tipo.
Me levantei e Erique me jogou de volta na cadeira, a senhora lançou outro olhar de advertência.
— Você não vai— gritou ele.

Os segredos que os mortos não te contamOnde histórias criam vida. Descubra agora