𝐄𝐋 𝐊𝐀𝐑𝐌𝐀

(46) 𝐌𝐚𝐫𝐫𝐢𝐚𝐠𝐞

Ela estará aqui. Não haveria razão para ela aparecer na festa de casamento do próprio pai.

Acelerei os passos assim que cruzei a porta da casa de Charles, atravessando o hall de entrada em direção às escadas. Pelo canto do olho, vi Vincent virando o corredor, mas não parei.

— Octavia Kurtz. — Hacker gritou atrás de mim e pelo susto eu quase caí. — Você está muito atrasada, garota.

— Sim, eu sei.

— Os seus tios estão quase chegando da igreja.

—  Bem, eu já estou aqui, você está vendo? — Falei zombeteira e o loiro revirou os olhos.

— Seu vestido encontra-se sobre a cama da porta lilás. — Gritou assim que cheguei ao corredor que dava acesso aos quartos.

— Obrigada.

Ao entrar no meu quarto vi o sexy vestido vermelho de festa, e imediatamente comecei a me despir. As alças finas não serviam para nada, muito menos para sustentar meus seios, mas o vestido ajustava-se muito bem ao meu corpo, e o tom fazia com que minha pele parecer mais bronzeada do que já estava.

Vincent Hacker realmente tinha muito bom gosto. Estive muito ocupada ajeitando as coisas para Natasha Heron, e nem mesmo me atentei em procurar o que deveria usar esta noite.

Entrando intempestivamente no banheiro, enxaguei os tornozelos e pés para retirar a areia da praia que grudou durante minha caminhada.

Depois, penteei meu cabelo enquanto escutava Kristen cantar Lana Del Rey na minha cabeça e apliquei uma camada de gloss nos lábios. Corri de volta para o quarto, peguei os saltos de tiras brilhosas que iam até a panturrilha e me dirigi para o corredor e escadas.

Faltam doze horas para eu ir falar com a querida Natasha Heron.

Abri as portas duplas e entrei no imenso jardim com piso de cerâmica, paredes e teto feitos de vidro, e senti imediatamente a mudança de temperatura.

Calor e umidade encharcaram o tecido do meu vestido, fazendo com que ele aderisse mais ainda ao meu corpo.

As árvores ao redor se erguiam na quietude da sala escura, iluminada apenas pela luz da lua que atravessava os vitrais do teto. Inspirei o doce perfume das palmeiras, orquídeas, lírios, violetas e hibiscos, lembrando-me do closet de mamãe e de todos aqueles perfumes que exalavam de seus casacos e cachecóis amontoados em um único espaço.

Virei à esquerda e parei em frente às portas que levavam ao terraço. Coloquei os saltos enquanto observava a multidão.

Doze horas.

Ergui meu corpo e agarrei um punhado de cabelo para colocar sobre meu ombro, de forma que cobrisse o exagerado decote.

Ao contrário da imunda da Natasha, Patrício com certeza estaria por aqui, e ele não gostava de ver a ex morta estando viva andando pela casa.

— Senhorita? — Um garçom ofereceu-me o que servia em sua bandeja. Sorri, pegando um copo de cristal que eu sabia ser um Tom Collins.

— Obrigada. — A bebida amarelo-limão era uma das favoritas de Eleonor Ferrari, logo era a que mais circulava entre os convidados.

O garçom desapareceu por entre a multidão, mas continuei parada no mesmo lugar, observando o jardim à procura de Natasha.

Nada dela.

As folhas das árvores se agitavam, a brisa suave ainda soprava os vestígios do dia quente; observei todos ao redor em seus elegantes vestidos de festa e ternos.

Tão perfeitos. Tão arrumados.
As luzes nas árvores e os empregados vestidos em seus trajes brancos. A piscina cristalina decorada com velas flutuantes. As joias brilhantes refletindo nos dedos e pescoços das mulheres.

Tudo ali era tão refinado, mas quando eu olhava para aqueles adultos e a família com quem Kristen cresceu ao redor, cheios de dinheiro e vestidos em roupas de grife, era como ver uma camada de tinta que você usa para tentar encobrir madeira apodrecida.

O que eu devo fazer? Procurar por ela como uma ninfomaníaca?
Mas era óbvio que não, ela não vai perder a festa aqui. Provavelmente. Talvez ela estivesse.

Meu coração começou a martelar no peito, e senti o calor esquentando meu pescoço. E, contra minha vontade, meus olhos começaram a percorrer o lugar.

— Octavia. — Pisquei, inclinando a cabeça para o lado ao ouvir Hacker chamar meu nome.

Ele andou por entre os convidados, o cabelo loiro recém-cortado rente à cabeça, os impacientes olhos azuis profundos, e os passos determinados.

Doze horas.

Ele deslizou a mão pelo lado direito do meu pescoço, e esfregou o polegar pela minha bochecha, o corpo agora colado ao meu. Olhei para os lados, procurando Natasha.

— Ela chegou?

— Você sabe que não. — Hacker começou a falar. — O que vai fazer com ela?

— Matar seria uma boa. — Kristen deu sua opinião e eu quase dei risada.

— Estou pensando ainda. — Falei e me afastei de seu agarre que estava super forte na minha cintura.

Ele me puxou por trás das portas de vidro, e pressionou seus quadris aos meus, ao ver que vinha um fotógrafo ao local em que estávamos.

Ele se parecia muito com o meu Liam, com aquele cabelo loiro-areia, maxilares fortes, e aquele sorriso capaz de fazer qualquer pessoa virar pudim em suas mãos. Kristen tem sorte de ter ele.

— Ela não vai vir. — Hacker falou enquanto andávamos pro lado que tinha pouca gente.

— E porque não?

— Projeto escolar. Sempre tem às quartas. E a filha do diretor tem que participar.

— E o que isso tem haver?

— Acaba super tarde esse projeto. A última vez que eu fui com Patrício chegamos em casa três da manhã.

— Então ela não vai vir?

— Provavelmente.

— Mas ela vai vir para casa não vai?

— Isso é bem óbvio.

— Então pronto. Esperamos a pirralha chegar enquanto aproveitamos a festa.

— Mas eles vão te achar parecida com a Kristen, Octavia.

— Tudo bem. Essa tal Kristen está morta e só loucos acham eu parecida com ela.

— Você é uma descarada, Octavia Kurtz.

— Vamos dançar, Vincent? — Sugeri enquanto ignorava a voz irritante de Kristen na minha cabeça.