Hades
O som dos meus saltos ecoava pelos corredores do tribunal, cada passo firme me lembrando que, apesar de tudo, eu estava de volta.
Eu precisava voltar....
Não totalmente inteira, mas mais perto disso do que pensei que estaria tão cedo. A toga preta ajustava-se ao meu corpo como um lembrete de quem eu era antes de tudo: uma advogada. Uma mulher que sabia lutar com palavras e argumentos, não com balas e sangue.Ao entrar na sala de audiências, meu coração bateu mais forte. Não era medo.
Era... expectativa. Há quanto tempo eu não sentia isso? Um caso simples, uma disputa contratual banal, algo que antes eu teria resolvido sem pensar duas vezes. Mas estar ali, de pé, enfrentando o olhar de um juiz e da oposição, me fazia sentir viva. Mesmo com a pequena cicatriz que ainda latejavam sob a roupa.Enquanto apresentava meus argumentos, senti um olhar. Não de estranhos. Era ele. Dylan. Estava sentado na última fileira, tentando parecer casual, mas o olhar... aquele olhar queimava. Era intenso, como se ele estivesse tentando decifrar cada palavra, cada gesto meu. Tentei ignorá-lo, manter o foco, mas saber que ele estava ali me fez sentir um calor estranho subindo pelo pescoço.
"Por que ele está aqui?" pensei, mas não tinha tempo para me distrair. Finalizei minha argumentação com firmeza e voltei para a mesa da defesa. Mesmo assim, podia sentir os olhos dele em mim, como uma presença constante, implacável.
Quando a audiência terminou, eu reuni meus papéis e saí da sala sem olhar para trás. Sabia que ele me seguiria. É como tem feito ultimamente. E, como esperado, enquanto passava pela biblioteca do tribunal, ouvi seus passos ecoando atrás de mim.
– Você foi bem lá dentro. – A voz dele soou grave e firme, ressoando entre as estantes.
Parei, ajustando os papéis em minhas mãos, mas não me virei de imediato.
– Achei que preferisse resolver as coisas da sua família, não debates jurídicos. – Minha voz saiu mais afiada do que pretendia. Era uma defesa, uma barreira que eu sabia que ele derrubaria com facilidade.
– Você não é só um debate jurídico, Hades. – O tom dele era sério, mas havia algo mais, algo que ele não dizia.
Desviei o olhar, focando nas lombadas dos livros. Talvez ali encontrasse alguma força, alguma saída. Mas não havia refúgio. Ele sempre soube como me alcançar, como me desarmar sem esforço.
Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Não era ameaçador, mas suficiente para que eu sentisse o calor da presença dele.
Eu finalmente me virei para encará-lo. Seus olhos estavam mais suaves do que eu lembrava, mas ainda intensos, como se ele quisesse me desvendar por completo. Fiquei imóvel, tentando encontrar as palavras certas, mas minha mente estava um caos.
– Você não precisa fazer isso, Dylan. Estou bem. Tentei soar firme, mas até eu ouvi a mentira na minha voz.
Desviei o olhar, tentando encontrar algo mais seguro para focar, mas o peso das palavras dele era palpável.
– Você tem um castelo para reconstruir, um inimigo para encontrar... – comecei, tentando redirecionar a conversa para longe de mim, para longe de nós.
– O castelo está de pé. Meus homens estão cuidando de Petrovik. – Ele inclinou ligeiramente a cabeça, como se fosse óbvio.
– Não estou aqui porque acho que você não está bem. Estou aqui porque quero estar.
Havia algo de desarmante na simplicidade das palavras dele, mas o peso emocional delas era esmagador.Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar.
– Eu... não sei o que fazer com isso.
A confissão escapou antes que eu pudesse me impedir. Era a verdade nua e crua.Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero.
– Não precisa saber. Só precisa deixar que eu esteja aqui.
As palavras dele eram simples, mas carregadas de significado. Um pedido e uma promessa, tudo ao mesmo tempo.Olhei para ele, sentindo meu coração acelerar e a barreira que eu ergui começar a rachar. Eu acho que ele sente algum tipo de culpa por mim ....pelo que eu fiz por ele .....
– Você faz parecer tão fácil... – murmurei, mais para mim do que para ele.
Ele sorriu, aquele sorriso pequeno e sincero que eu começava a reconhecer como raro.
– Não é fácil, Hades. Mas algumas coisas valem a dificuldade.
Suspirei, passando a mão pelos papéis em meus braços, como se isso pudesse me trazer algum tipo de clareza.
– E se eu não quiser você... tão perto?
Ele deu mais um passo, agora próximo o bastante para que eu sentisse sua presença como uma barreira entre mim e o resto do mundo.
– Então eu espero.
A voz dele era baixa, mas firme.
– Não estou aqui para te pressionar. Só estou dizendo que não vou a lugar nenhum.Olhei para ele, tentando decifrá-lo, mas era inútil. Ele era um enigma, mas um que parecia disposto a esperar o tempo que fosse necessário para que eu encontrasse as respostas sozinha.
– Dylan... – comecei, mas as palavras falharam.
Ele levantou a mão, interrompendo-me suavemente.
– Você não precisa dizer nada agora. Só... não me afaste.
O silêncio caiu entre nós, mas não era desconfortável. Pela primeira vez, senti que talvez, apenas talvez, eu pudesse confiar nele. Não com tudo, mas com um pedaço, pequeno que fosse.
Deixamos a biblioteca juntos, andando lado a lado. Cada passo era um lembrete de que, apesar do medo, havia algo além da dor.
Algo que me assustava, mas também me fazia sentir segura.Ter Dylan tão perto é algo com o qual ninguém se acostumaria facilmente. Eu vejo os olhares que ele recebe, os olhares carregados de desejo , os mesmo olhares que se voltam para mim com certa raiva, sempre que andamos juntos. É como se, ao me aproximar dele, eu fosse marcada com a etiqueta de puta ( mulheres podem ser cruéis as vezes !).
Ele é alto, imponente e tem aquele tipo de sedução silenciosa, como se fosse o homem mal, sombrio e distante de todas as histórias trágicas que se lê num romance moderno .
Não posso negar que ele é atraente — é impossível não ver isso. Mas, bem... ele definitivamente não é o meu tipo.Eu sempre fui mais do tipo a preferir homens menores , com uma postura mais intelectual, eu diria estudiosos , de rostos gentis e suaves. E, claro, com famílias menos... complicadas.
Talvez seja só isso. Talvez eu só tenha uma ideia muito definida do que busco em alguém. E, de certa forma, Dylan... ele é diferente....
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Os medos de Dylan - Livro Dois
RomanceDylan sempre foi um cara divertido, risonho, cheio de vida. Mas isso foi antes dela. Antes de sua partida levar tudo com ela: a felicidade, a luz, e o próprio Dylan. Agora, ele é apenas um Greyson, endurecido pela perda. A dor não diminuiu, o vazio...