Pós crise

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O som dos meus passos ecoava pelos corredores de pedra, e cada batida parecia pesar mais do que eu gostaria. O castelo ainda estava em reconstrução, mas já havia voltado à vida de forma caótica – gente para todos os lados, ordens gritando nos cantos, estratégias sendo murmuradas em corredores vazios. Eu tentava ignorar o cansaço que teimava em se instalar, mas era difícil. Meu corpo ainda não estava totalmente recuperado, e eu sabia disso.
   E eu percebi por um instante que senti falta disso , dos corredores dos barulhos ,foi um longo tempo em que fiquei presa à cama, lutando contra a maldita bala que quase me matou.
Quando penso naquele dia — o sangue escorrendo, manchando as pedras, o cheiro de ferro no ar — algo dentro de mim se remexe, inquieto. Fico perdida, como se ainda estivesse presa naquele instante.
Talvez, no fundo, eu quisesse aquele tiro. Naquele momento, viver não parecia fazer sentido.Eu não tinha muitas expectativas.
Não havia nada a que eu pudesse me agarrar quando senti a bala me atravessar. Foi como um fio que se desfez mas que talvez já estivesse desfeito a anos .

Mas então, eu o senti. Sua mão firme envolvendo a minha, por dias intermináveis. Segurando-a como se temesse me perder. Sua voz, baixa e insistente, sussurrava palavras que mal consegui entender, mas que me chamavam de volta. E, de alguma forma, aquilo funcionou.  Me trouxe de volta para cá, para o mundo dos vivos.

      Eu as vezes penso demais e não percebo as coisas ao meu redor (...) por isso quando virei o corredor principal e dei de cara com Dylan meu coração quase parou ,ele estava encostado em uma das paredes, de braços cruzados, me observando.
Ele tinha aquele olhar que fazia minha pele formigar – intenso e carregado de perguntas que eu não tinha certeza se conseguiria responder , talvez ate tenha me ouvido pensar alto ....

– Você já comeu hoje? – A voz dele quebrou o silêncio, casual, mas havia algo na pergunta que me deixou alerta.

Olhei para ele por um breve momento, surpresa com a pergunta.
– Ah... sim, estou bem.

Ele ergueu uma sobrancelha, claramente não satisfeito com a resposta.

 – Isso não respondeu minha pergunta.

Senti meu rosto esquentar. Ele sempre tinha esse efeito em mim, mesmo quando a conversa era algo tão simples. Apertei a pasta contra mim, como se isso pudesse me proteger da atenção dele.

– Vou jantar daqui a pouco. – Ele disse, se afastando da parede.
– Achei que talvez pudesse me acompanhar.

Olhei para ele de novo, surpresa com a sugestão. – Jantar?

– Você está me convidando para jantar?

– Estou. – Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

– Não é exatamente um banquete, mas é melhor do que você se enterrar nesses papéis a noite toda.

Minha primeira reação foi recusar. Instintivamente. Mas algo no jeito dele – casual, mas com uma insistência quase... suave – me fez reconsiderar. Ele não estava tentando me convencer. Era só... um convite

Hesitei, apertando um pouco mais a pasta contra mim.

– Eu... não sei.

Ele deu de ombros, como se não quisesse pressionar.

– Pense nisso. Estarei na sala de jantar.

E, com isso, ele se afastou. Fiquei ali, parada, sem saber o que fazer.

O convite ficou pairando no ar depois que ele se afastou, deixando-me sozinha no corredor. Meu coração batia mais rápido do que deveria, e minha mente lutava para entender por que uma simples sugestão de jantar me deixava tão inquieta.

Os medos de Dylan - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora