7 - Última composição

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sejam bem-vindes ao ultimo capitulo de cintilação etérea

tenham uma boa leitura

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Se Aphelios pudesse fazer um pedido, seja ele qual for, este seria morrer.

Havia muito tempo em que se convencia diariamente que era uma desgraça. Quando encostava a cabeça no travesseiro, cheio de pensamentos negativos e palavras que gritavam sem parar, tudo o que pensava era em não abrir os olhos amanhã. Até porque, se não abrisse, não faria diferença.

Não havia um dia sequer que Aphelios não pensasse em quanto sua presença não impactava a vida de alguém. Quando ele finalmente pensou que o fizesse... Bem, Sett não estava mais lá agora. Ninguém mais estava.

Ele poderia olhar para si mesmo naquele espelho sujo de seu guarda-roupa e afirmar que, agora, ele tinha seus amigos de volta – e ele sempre teve sua irmã. Mas a que custo?

Phel rodopiou os dedos cansados pelo edredom que o cobria, a pulseira fazendo um barulho suave com o movimento. O relógio marcava duas e meia da manhã e, mesmo deitado desde às uma da manhã, ele sequer conseguira cochilar.

No celular, nada de interessante. O TikTok estragava seu cérebro, o Instagram era uma lembrança de que Sett não estava mais lá, seu Twitter não existia mais e, é claro, ele não tinha ninguém para conversar por mensagem.

Sendo assim, o que lhe restou foi pensar.

Era estranho como a vida de todos caminhava e a dele permanecia parada. Um novo emprego? Só conseguia pagar as contas. Um novo relacionamento? Não, obrigado. Uma nova amizade? Ele era desinteressante demais para isso.

Era estranho, também, perceber que, mesmo que tivesse seus velhos amigos de volta em sua vida, não seria a mesma coisa. Aphelios fez coisas que, se tivessem sido feitas consigo mesmo – e foram! –, ele não perdoaria. Eles sentiam saudade, e Aphelios sentia também, mas nunca mais seria a mesma coisa de antes.

Algumas coisas se tornaram chatas depois disso tudo. Phel já não tinha mais com quem passar a madrugada vendo filmes idiotas, nem para quem mandar vídeos esquisitos durante a madrugada – Alune riria desses, mas ela nunca os teria, de fato, visto –. Não tinha quem o abraçasse nos dias frios ou quem fizesse sua comida de conforto quando estava mal. Não tinha quem o acordasse estalando seus dedos da mão. Não tinha quem o tocasse.

Despejar tudo isso em cima de Alune parecia, sobretudo, irreal. Apesar de tudo, ela era sua irmã. Mesmo sendo um sentimento proveniente de seu âmago, Aphelios sentia que não poderia contar tudo a ela. Muito provavelmente porque ela é sua irmã, e isso seria esquisito.

Ele piscou lentamente, sem saber dizer se o sono estava vindo ou não.

Nos últimos dias, dormir se tornou um inferno. Tudo por conta de Aphelios não conseguir parar de pensar em Sett. Tudo por ele não conseguir parar de se culpar. Não conseguir parar de sentir tudo, mas também não conseguir sentir nada. Ele era confuso, muito confuso. Às vezes não conseguia compreender a si próprio.

Talvez fosse por isso que ninguém dure ao seu lado. Talvez fosse por isso que ele não conseguisse manter ninguém.

Quando o relógio bateu às três da manhã daquela terça-feira, Aphelios sentou-se na cama, coçando os olhos. Ouviu dizer em algum lugar que fazia mal, mas já não se importava com isso. Quanto mais dano, melhor.

Sentou-se na escrivaninha, folheando o pequeno caderno em sua bancada. Soltou um suspiro sôfrego, sabendo que quase nenhuma daquelas letras refletiam seu estado atual.

Cintilação etérea [SettPhel]Onde histórias criam vida. Descubra agora