Uma vez que você se sente devastado, é difícil voltar a se sentir bem.
Aphelios cambaleou até seu quarto, sem sentir as pernas direito. Todos os seus sentimentos ruins ardiam no estômago, como se ele estivesse queimando de dentro para fora. Talvez realmente estivesse, e talvez isso não devesse doer tanto.
Sua culpa era óbvia, é claro. Sempre foi, mas, talvez, ele tenha se negado a acreditar por muito mais tempo do que deveria.
Houve um tempo que Aphelios esteve bem e que todos aqueles pensamentos não o atormentavam diariamente. Houve um tempo em que Aphelios não tinha o desespero preso no peito, nem a dor da despedida entalada na garganta. Houve um tempo em que Aphelios se considerou feliz. Houve um tempo em que ele gostava de fazer piadas, ser engraçado.
Houve um tempo diferente deste, onde os cortes ardem ao emocional frágil e sobrecarregado. Um tempo diferente deste, em que o corpo de Aphelios grita por misericórdia. Um tempo diferente, onde este coração que ele carregava no peito não ardia tanto.
Houve um tempo onde ele não precisava sentar na cama e chorar, refletindo como sua vida desandou por culpa sua.
As vozes ecoaram, sussurrando em um tom que parecia mais alto que muitos gritos. Aphelios se encolheu, tossindo com dor, a garganta ardendo como nunca. Era tão dolorido que parecia que iria rasgar suas cordas vocais.
A dor da culpa. A dor que ele sempre carregara, mesmo odiando carregar.
Suas mãos tremiam cada vez mais, combinando com as lágrimas que saíam dos olhos marejados rapidamente, como uma cachoeira despejava água. Desta cachoeira do olhar, todavia, a única coisa derramada é a melancolia.
Foi atordoador que seu nariz tenha parado de funcionar e apenas a boca entreaberta fosse responsável pela respiração, geralmente preenchida por soluços mórbidos.
Culpa.
As vozes repetiam inúmeras vezes que era sua culpa e, muito embora fossem apenas cochichos, Aphelios sentia que ficaria surdo a qualquer momento.
Aphelios sempre teve uma personalidade complicada, onde, na maioria das vezes, preferia manter para si mesmo. Com Sett, entretanto, era inevitável não se sentir confortável o suficiente para falar.
No começo, ele só tinha vinte anos. Sett não tinha mais que vinte e três, se ele se lembrava corretamente.
Por ser mais jovem, era mais estúpido. Não conseguia passar muito tempo sem fazer uma piada ou outra, brincando com a maioria das coisas que via. Settrigh ser um homem mais velho e que, mesmo assim, fazia tantas piadas quanto, o encantou.
Três anos não era uma diferença de idade relativamente grande e, vendo agora, Aphelios sabia que também não era uma diferença de maturidade. Contudo, como alguém que sempre viu pessoas mais velhas como uma referência de maturidade e respeito, aquele vastaya era, definitivamente, algo a se pensar – de uma maneira positiva, pelo menos para aquela época.
Aphelios era – é – socialmente esquisito, e Sett não via problema em ser socialmente esquisito junto com ele.
Era mesmo sua culpa? O que exatamente ele tinha falado para ser tão ofensivo que poderia terminar um relacionamento de (quase) três anos?
Naquilo tudo, talvez o maior problema fosse a covardia em não lhe contar nada, não lhe dizer a verdade e, sobretudo, sequer mencionar para Aphelios onde ele potencialmente poderia ter errado.
Dias diferentes passavam em sua cabeça, como um livro sendo folheado rapidamente. Em um estado crítico, Phel revia cada uma de suas palavras, mesmo que não se lembrasse de todas elas.
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Cintilação etérea [SettPhel]
Fiksi PenggemarQuando o seu último pilar para se manter de pé e continuar vivendo caiu, Moon Aphelios se viu devastado, agoniado e triste, sem saber como prosseguir. Tentando viver uma nova vida, Aphelios, em sua solitude, muda-se de cidade e tenta, sem tanto suc...