Cintilação etérea [SettPhel]

2 - Segunda composição

na capa, o sett dessa fanfic :)

aviso para citação de automutilação, transfobia interna.

boa leitura

*

Aphelios não ouviu o que quer que seja que Alune respondeu à Settrigh – e, sinceramente, não queria ouvir.

Seus olhos tremeram, ardidos e inchados.

— O que você quer, Settrigh? — Aphelios esbravejou, tirando a cabeça do ombro de sua irmã, mas ainda sem olhar para trás.

Aquele era o tom mais alto de sua voz que havia usado em meses. Com a sede ocasionada pela corrida, aquilo doeu muito mais do que deveria.

A maior dor, no entanto, nem fora física. Era inexplicável o quanto seu peito doeu ao ouvir aquela voz que, em algum momento, proferiu-lhe palavras tão gentis e que trouxeram tanto conforto.

As coisas não eram mais assim, e Aphelios sabia bem disso.

Segurar a tosse não foi possível, e ele sentiu aquele amargo metálico na boca que quase o fez vomitar.

— 'Cê esqueceu sua garrafa no banco, aí eu vim devolver. — Sett respondeu, falando como quem não tinha feito nada. Como quem não tinha errado.

O olhar de Aphelios exalou julgamento, raiva e mágoa, mas foi quebrado pela vontade inevitável de tossir.

Foi Alune quem estendeu a mão e pegou o objeto das mãos de Settrigh, parecendo surpresa.

— Phel, bebe um pouco de água, vai fazer bem para sua garganta. — ela aconselhou-o, entregando a garrafa de água nas mãos do irmão.

Ainda tremendo, ele pegou o frasco e bebeu.

Foi como beber veneno de novo, o líquido rasgando a garganta, desfamiliarizado com a dor que aquilo causou. A dor que não deveria causar. Apesar de tudo, aquilo ainda era apenas água.

— Você tá bem, Aphelios? — aquela voz cortante falou novamente, trazendo um misto de desespero e confusão para seu coração. — Sua garganta 'tá machucada? — A mão dele tocou o ombro de Aphelios, que mostrou os dentes, quase como se estivesse grunhindo, muito embora o vastaya não fosse ele.

— E você se importa? — Mais um conjunto de palavras proferidas em voz alta. Mais uma vez que Aphelios tossiu.

O rosto de Settrigh tinha um olhar que Aphelios sabia que era de tristeza. Ele sempre foi bom em ler emoções, afinal.

— Eu... — o vastaya tentou falar, mas Alune o interrompeu.

— Foi bom te ver, Sett. Até depois! — ela se despediu, puxando o irmão.

Aphelios continuou olhando para trás enquanto se afastava. As orelhas dele estavam caídas para os lados, como as de um gato triste.

Sett é um gato patético.

Por conhecer sua irmã como ninguém, Aphelios sabia que as palavras dela para com Settrigh não foram sinceras, mas que ela queria encerrar aquilo sem o clima ficar pior. Honestamente, ele a apreciava muito por isso, mesmo que o estrago principal já estivesse feito.

A cabeça de Aphelios doía muito. Provavelmente uma enxaqueca sentimental, coisa que não se resolveria até que ele se acalmasse.

Alune insistiu para que ele fosse sentado no metrô, uma vez que estava preocupada com seu irmão mais velho [1] e seu estado de saúde mental.

Seus olhos estavam cansados, e foi inevitável não acabar tirando um cochilo bem ali, para relaxar a mente.

Em seus sonhos, Aphelios ainda via aquele relacionamento tão bom e benéfico para si que um dia existiu. Aphelios ainda via aquele homem que o segurava nos braços e dizia que o amava, com beijos tão doces quanto o mel. Ele ainda via esperança, amor e perseverança.