Capítulo 6º

2 0 0
                                    

Me sinto fraca de mais até pra respirar.

Não sei quanto tempo tô aqui mas foi o suficiente pra que todas as minhas últimas forças fossem embora, dando espaço a uma sensação de abandono e solidão. Talvez seja só o cansaço falando mas eu realmente preferiria morrer, e apesar dessa sensação não ser de agora, a vontade nunca esteve tão presente.
O barulho de passos me despertou rápido, e então senti a porta que antes era onde eu me encostava, perder sua firmeza, fazendo com que eu caísse em um cimento úmido e gelado. O cheiro de ar úmido era melhor do que daquela caixa claustrofóbica, já conseguia respirar melhor mas não havia mais forças no meu corpo.

- Uma hora você vai ter que levantar. - Ouço uma voz feminina e crio forças só para confirmar se não era algum tipo de delírio. - Vem, eu te ajudo.

Eu não conseguia tirar os olhos dela, não entendia como ela também estava ali, não conseguia nem formular uma frase para questionar o que tava acontecendo. Ela então me ajudou, a muito custo, a subir as escadas e após alguns corredores, estávamos em uma porta com grades na frente. Um homem que nós escoltava abriu as portas e logo que cruzamos ela, ele nos trancou novamente. Lá eu apenas, me sentei desengonçada sobre meus pés e fiquei.

- Toma. - A mesma menina que me ajudou agora trazia um sanduíche e uma caneca até mim - Come, por favor, vai te ajudar. - Eu apenas obedeci sem muitas reações, muito difícil de associar tudo.

Passado algumas mordidas do sanduíche, eu começo a reparar ao redor e noto que, tem mais. Havia outras. Todas socadas em uma sala que não comportava tantas pessoas assim, com colchões espalhados, caixas e sem janelas, uma verdadeira prisão. A menina então se aproxima

- Alice. - Digo sem nem pensar - Meu nome.

- Aqui me chamam de Maitê - Ela tenta sorrir simpática porém não transborda confiança.

- O que tá acontecendo? - Uma única lágrima se desprende do meu olho enquanto o resto fica preso na garganta - Por que? - Ela apenas me direciona um olhar pesado.

- Todo mundo passou por isso aqui,  você vai sobreviver. - Tudo nessa frase me pesou ainda mais, a sensação de desesperança. - Mas agora você precisa me ouvir com atenção. - A expressão de empatia some do seu rosto sendo substituído por uma feição de medo

- Daqui a uma hora eles vão nos levar a uma sala e lá nos teremos que nos arrumar... - Ela respira fundo e pega na minha mão. - Eles vão nos levar pra um lugar e lá a gente vai ser leiloada - Eu apenas olho para as meninas que estão distribuídas em grupos conversando - Não faça nada pra tentar fugir, não machuque ninguém e por favor, em hipótese alguma, se alguém te escolher, não reaja. Independente do que acontecer

Meu corpo inteiro treme e minha respiração acelera. Ela para de falar esperando uma reação.

  - Por que eu não posso reagir? O que eles vão fazer comigo? - Ela  aperta mais minhas mãos.

-  Todas nós já tentamos de tudo, apenas não reage. Você é forte, ok? Lembra disso. - Todas as expressões dela são de puro sofrimento, é assustador de ver.

- Por que você tá me ajudando? - Ela forma um sorriso forçado.

- Porque ninguém merece sofrer esse tanto. - Ela olha para as meninas e percebo que algumas estão olhando para nós também. - Então a gente se ajuda como pode.

Durante longos minutos, o silencio prevalece e isso me irrita, me sinto apavorada

Alguns barulhos na porta nos tira daquele transe terrível dando espaço ao homem moreno, agora de terno, na mesma sala que nós.

- Façam uma fila única. - Ele ordena bem presunçoso.

Enquanto todas se direcionam para fila, ele me olha sentada ao lado de Maitê que prontamente se levanta apressada, com o olhar ainda direcionado para mim ele fala casualmente.

- Vamos começar o show.
...

Para Sempre, Alice.Onde histórias criam vida. Descubra agora