Elevadores são imprevisíveis

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Julieta

- Você não faz ideia do que sou capaz, senhor Torres - digo com humor e ele sorri, bebericando seu café.

Hoje, às 7h em ponto, recebi uma mensagem de Johna, me convidando para um café assim que visse a mensagem. Felizmente foi quase no mesmo instante em que ele a mandou.

Johna: Pensei que confirmar todas as presenças te deixaria exausta

- Me deixou cansada, admito, mas ele vai precisar bem mais do que isso para conseguir me derrubar

Johna: Julieta… não brinca com ele. Ele não é mais o cara que saiu de Paris, não vai baixar a guarda para você nem ter pena dos seus sentimentos. Ele é o dono da empresa. E pior, o dono furioso da empresa… não pode mais bater de frente com ele como fazia na faculdade, isso pode custar seu emprego - engulo seco por um momento - sei que todos merecemos respeito e você sabe seu limite de tolerância, mas essa empresa é benéfica em dezenas de pontos, você não vai receber em lugar nenhum proposta semelhante.

- Eu sei, Johna. Tem razão… tenho que aprender a controlar meu temperamento também. Preciso desse emprego, não posso me dar ao luxo de perdê-lo.

Johna: Você sabe que tenho um carinho enorme por você, não sabe? O que puder fazer por você, eu farei - concordo com a cabeça, sentindo o toque dele sob minha mão.

Ouço um raspar de garganta vindo da entrada e logo tiro minha mão, me levantando abruptamente. Johna se demora mais sentado, tomando outro gole do café. Acho que foi uma má ideia tomar na empresa.

Nathan: Vocês não são pagos para ficar batendo papo paralelo. Que eu saiba chegaram novas documentações para você analisar, senhorita Marshall - o jeito com que ele diz meu nome me faz tremer por dentro. Bato os olhos nele segurando para não ser invasiva demais, mas é quase impossível. Terno sob medida, gravata azul marinho, cabelo impecável e postura totalmente ereta. Parece uma obra de arte de um museu.

Johna: Só estávamos tendo uma conversa, chefinho - meus olhos se arregalam para Johna antes que eu possa sequer responder - sabe, eu sou psicólogo, sou pago para conversar.

Nathan: Que eu saiba seu departamento fica no 6° andar. Além disso, tem uma lista bem extensa de funcionários precisando conversar. Funcionários que preencheram a ficha de horários, ao contrário da senhorita Marshall

Johna: Ela só…

Nathan: Ela não precisa de um advogado, senhor Torres. Acho que pode muito bem se defender sozinha - diz, agora fitando meu rosto, seu maxilar trincado demonstra uma crescente irritação - quero a senhorita na minha sala em 10 minutos. Tic Tac. - diz estalando a língua.

Johna: Boa sorte, Julieta. Ele hoje não está nos melhores dias - diz baixo para que só eu escute.

Ele deixa a sala me deixando ali inquieta. Minhas mãos suam tanto que poderia encharcar uma toalha. Pego a prancheta e uma caneta, caso precise anotar algo e corro sob os saltos, até a porta do elevador. Me projeto para dentro, pressionando o andar dele. Eu sempre ficava tão tensa assim? Não, não ficava, mas desde que descobri que ele é meu chefe as coisas saíram do controle. A primeira coisa que pensei foi no estacionamento, na minha fala e depois no corredor do jurídico. Como eu pude ser tão imprudente? Meu futuro está nas mãos dele, porra.

O que não entendia era o porquê de ainda estar aqui.

Me assusto com o elevador indicando que cheguei. Caminho rapidamente até a recepção, mas não vejo Grace, ela estava no evento, engraçado não estar aqui. Bato na porta duas vezes, aguardando autorização para entrar. Quando a tenho, forço a porta para dentro.

Tudo ou nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora