Amizade?

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Johna

- Não deixa ele te colocar para baixo, linda, sabe que ele faz de propósito. Não reaja e vai ficar tudo bem - minha voz soava pelo telefone até o alvo da ligação.

Julieta vinha me contatando cada vez mais, Nathan estava pegando pesado com as ordens e só essa semana ela teve que sair do escritório 5 vezes para buscar café para ele. Nem Grace fazia isso e eu sabia bem que ele estava descontando suas frustrações nela. Ele tinha tantas coisas que não contava a ninguém, tinha tantos medos e tanta dor… mas não era justo descontar isso em alguém que não tinha nada a ver com isso.

Eu sabia que a mágoa que ele guardava ainda estava ali, viva, embora ele negasse. E sabia, em partes, que essa raiva ainda era o afeto. Afeto que ele sentia e odiava sentir, porque ela partiu o coração dele. Ele odiava sentir. E odiava não conseguir controlar isso. Justo ele que sempre tinha tudo sob controle, cada mínimo detalhe. E ultimamente, tudo vinha fugindo ao seu controle.

Os policiais ainda não haviam achado Erika, nem o detetive particular que Nathan contratou vinha dando boas notícias. Tia Marta se encontrava no mesmo estado e a cada dia que passava ele estava com mais raiva. As idas ao boxe eram diárias, ele arrebentou tantos sacos de areia que perdi as contas. Temo que logo, nada mais seja suficiente para que ele possa conter a raiva, e nesse caso, não é como se eu pudesse diagnosticá-lo

Eu era psicólogo, sim. Mas aquele era o meu irmão. Eu não sabia ser profissional, e nem podia, com ele.

- Amanhã, se quiser, podemos jantar juntos, o que acha? Levo você para conhecer meu lugar preferido de NY e você pode relaxar um pouco - ela concorda animada e eu encerro a ligação.

Mas quando me ponho de pé, disposto a tomar um banho, dou de cara com ele chegando em casa. Camisa suada, cabelo bagunçado, mãos roxas, estava no ringue.

Nathan: O papo estava bom, pelo visto. Não deixa o namoro atrapalhar sua rotina - ele é ríspido, não falou como um conselho, sim como uma advertência.

- Você viaja dentro do seu próprio planeta, cara. Somos colegas de trabalho. E amigos. Você devia tentar, para variar - arrisco passar por ele, mas o mesmo se coloca a minha frente

Nathan: Não interessa a mim amizades dentro do escritório. E nem fora dele. Tenho quem preciso. Alguém com quem possa contar quando as coisas apertam.

- Se continuar assim, logo vai ficar sozinho - o encaro nos olhos - devia permitir que as amizades renasçam

Nathan: Amizades? - ele diz com humor, dando uma gargalhada - que amizades? Ela? Acha mesmo que é sua amiga? Você esqueceu de tudo, Johna? Tudo que ela fez ou não fez?

- Cara, isso é um problema de vocês dois. Eu nunca tive nada contra a Julieta. E se vamos falar dela, devia pegar mais leve, está ficando nítido demais a perseguição

Nathan: Exijo dela o mesmo que de qualquer funcionário dentro daquele escritório. Mas você está sempre tão ocupado em ver o lado bom das coisas, que não nota que a única pessoa com quem sou corpo mole, é com você - engulo seco - porque te respeito e gosto de você. Amizade, né? Então onde estava a amizade dela quando você estava fazendo fisioterapia? Precisava de alguém para se apoiar e regrar sua alimentação? Onde ela estava quando você brigou definitivo com seus pais e correu pra cá? Quantas ligações você recebeu dela nos últimos 7 anos querendo saber ao menos como é que você estava? - sinto vontade de chorar - eu não sou uma pessoa fácil, Johna, mas eu sou leal. A minha amizade vai além das horas boas. E quando a coisa apertar, eu não vou fugir das responsabilidades. Eu não sou maluco de trocar lealdade por olhos bonitos. Está deslumbrada com você porque é o rosto amigo que ela buscava para se sentir protegida, mas quando você não for mais o que ela precisa, vai ser a primeira a te virar as costas.

Tudo ou nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora