O Oráculo, com movimentos lentos e incertos, preparava seu chá antes de dormir. Ele vestia seu pijama antigo e roto, porém confortável, com uma meia de cada cor. Um gorro simples, de tecido liso, protegia o topo de sua cabeça, evitando que perdesse calor por sua careca enrugada. Ele suspirou, um pouco triste, mas logo voltou a se animar, relembrando da longa conversa que teve com os tão aguardados Guerreiros do Destino. Por mais que ele não tivesse feito quase nenhum esforço, os acontecimentos do dia o deixaram bem cansado. Mas agora ele só tinha mais um compromisso antes de dormir.
Depois que sua infusão ficou pronta, Hakim caminhou lentamente, com passos arrastados, para seu quarto, que estava iluminado por um pequeno lampião contendo um cristal de fogo fraco. Não era possível nem distinguir a cor das paredes ou do tapete que ficava sob a cama larga. O ar estava pesado, deixando o cômodo quente, do jeito que os Reptoides gostam. O Oráculo repousou o chá sobre a mesinha ao lado de sua cama e sentou-se sobre o colchão fino. Depois de se arrumar, apoiando as costas na cabeceira e encarando a porta, ele aguardou pacientemente.
Sua espera não foi longa, no entanto. Em alguns segundos, a maçaneta da porta girou e, lenta e cautelosamente, Hiner adentrou o recinto. O Oráculo encarava o Bruxo com um sorriso nos lábios, divertindo-se ao ver a expressão de incerteza e reticência no rosto do rapaz. O Reptoide pegou uma das xícaras de chá que estavam em sua mesinha de cabeceira e, olhando para o homem à sua frente, disse:
— Boa noite, Hiner. Senti sua falta hoje mais cedo, quando os Guerreiros do Destino vieram me conhecer, — e tomou um gole da bebida morna. — Espero que o guarda que me vigiava esteja bem.
— É, acho que ainda não é a hora de me misturar com os outros, não é? E pode ficar tranquilo. Seu guarda só vai levar uma bronca por ter dormido em serviço. — Ele disse, tentando fingir naturalidade e calma, porém transparecendo seu nervosismo. — O senhor poderia me dizer o que tenho que fazer a partir de agora? Eu segui sua profecia até aqui, sem falhas. Daqui pra frente eu estou no escuro.
O Oráculo calmamente ofereceu uma segunda xícara para Hiner, que aceitou a oferta e se sentou em uma cadeira próxima à cama do velho. A bebida era amarelada, quase transparente, com um gosto tímido, mas agradável. Hakim disse, em seguida:
— Eu não posso ajudar muito no momento. Minhas visões não se manifestam mais, meus poderes já praticamente sumiram. Agora eu sou só um espectador, assim como o restante das pessoas de Kairos. Vocês são os atores desta peça de teatro de improviso, tudo depende das ações de vocês.
Hiner arqueou as sobrancelhas e cruzou uma perna sobre a outra, parecendo analisar as palavras e gestos do Oráculo. Hakim sabia, pelas visões que teve, que o Bruxo era muito desconfiado, não acreditando em tudo o que diziam a ele, sempre procurando qualquer sinal de mentira ou falsidade. Por isso, o rapaz não parecia aceitar essa resposta.
— Eu acho que o senhor sabe mais do que está dizendo, Hakim.
O senhorzinho deu de ombros e riu, bebericando seu chá novamente. Hiner ficou visivelmente irritado, controlando-se para não arremessar sua xícara na parede, tremendo sutilmente em sua cadeira. No entanto, ele só copiou a ação de Hakim, tomando sua bebida, controlando sua raiva.
— Tudo está escrito, Hiner, dependendo das suas escolhas. Você, melhor do que ninguém, sabe que todos seus atos têm consequências. Acredito que você tem sabedoria o suficiente para tomar as melhores decisões para criar uma história justa.
— Justa? O que você sabe sobre justiça? Deixando seu próprio povo sofrer por tantos anos, tendo o poder de impedir tudo isso com um estalar de dedos. Você tem é sorte dos Reptoides acreditarem cegamente em tudo o que você fala. Eu já teria me rebelado muito antes.
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Os Guerreiros do Destino
Fantasy🧙 RPG 🦖 Batalhas ✨ Magia 💥 Aventura Seis improváveis companheiros são unidos pelo destino, aventurando-se pelo planeta no que, ao início, parece ser somente uma busca por emoção e novas experiências. No entanto, conforme novas informações são des...