Capítulo XX

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Nada era tão vazio quanto participar de uma loucura criada na mente de um louco. Depois de alguns dias, você começa a acreditar na realidade que ele inventou, e duvida daquilo que acreditava.

Uma semana se passou desde que eu me tornei a noiva do Príncipe Arthur. Uma semana sem notícias da minha mãe, ou da minha família. A pior semana que já tive na vida. Eu andava pelo Palácio como as plantas que habitavam nos jardins.

Sem vida.

Ele me obrigava a passear com ele todos os dias, e a tocar piano para que ele ouvisse todas as noites. Tinha sido trocada para um quarto maior, com um guarda roupas gigante e os mais luxuosos vestidos disponíveis, comprados a preço de sangue escravo.

Foi o que eu descobri, após conversar todas as noites escondido com Abigail, a serva que, agora, tinha me revelado o seu nome. Ela me contou que era o antigo nome dela, até que ela apanhasse e reconhecesse que não era ninguém e não possuía identidade, se tornando mais uma escrava do reino.

Quando a perguntei sobre o motivo de ninguém de fora saber o que acontecia aqui, ela me revelou que, quem entrasse em Dazzo, não saía. O cocheiro tinha desviado a estrada que levava ao porto, e, pela chuva, escolheu cortar caminho pela cidade. Arthur fazia ronda todas as noites com os carrascos para capturar os forasteiros que pudessem se tornar uma possível ameaça.

Eu me permitia chorar em silêncio, todas as noites, agarrada com Harry — o coelho —, enquanto pensava no homem. A cabana e o sorriso de Harry parecia ter sido uma ilusão cada vez mais distante, a cada dia que passava, como se nunca tivesse acontecido. Um sonho bom, com risadas, provocações e simplicidade.
Aqui, eu tinha tudo, e ao mesmo tempo, não tinha nada.

As comidas sofistificadas se tornavam podres ao paladar. A banheira cravada com detalhes de ouro parecia dura e fria, e os vestidos e jóias novas que me eram dadas de presente todas as manhãs pesavam o meu corpo como um fardo que eu não era mais capaz de suportar.

A tatuagem dourada em meu pulso não desapareceu, nem a sensação de estar ligada a Harry, de alguma forma, em meu interior. Quando eu não tinha pesadelos com Arthur, Harry me encontrava, em um sonho envolto por nuvens espessas.

Era sempre o mesmo padrão. Ele gritava, machucado, e perguntava onde eu estava. Eu gritava, sem voz, e nunca conseguia responder. Por mais que parecesse cada dia mais real, eu sabia que não passavam de sonhos.

Eu não sabia se era pior sonhar e ainda ter um pouco dele todas as noites, ou se era mais confortável esquecê-lo, de uma vez por todas, assim como eu imaginava que ele tivesse me esquecido.

Acordar sentindo uma dor que parecia multiplicada só não era pior do que ser beijada pelo Príncipe, um costume que ele havia adquirido a dois dias. Era sempre forçado, e machucava o meu braço, sempre que ele me puxava. Todas as vezes, como agora, eu tentava não cuspir.

— Sorria quando eu te beijo! — ele me deu um tapa na cara, fazendo o meu rosto arder. Tremi, em estado de choque.

Era a primeira vez que ele me batia.

— Me perdoe.

O rosto dele estava enfurecido.

— Eu não estou feliz com as suas atitudes, Arabella. — ele puxou um papel de dentro do casaco. — Olha o que eu encontrei. Isso é uma carta, e está escrito com a sua letra.

— Não sei o que é isso.

— Não minta para mim! — ele gritou, fechando os punhos. — Achou que os meus servos não encontrariam? Você tentou escrever para a sua mãe. Está tentando fugir de mim!

— Eu só queria saber onde ela estava. Não queria fugir. Você será o meu marido, não gostaria de estar em qualquer outro lugar que não seja ao seu lado.

Insensato AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora