Capítulo 34

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Olímpia

   A funcionária do lar da casa dos Cameron traz uma bandeja com suco de melancia e biscoitos amanteigados. Por incrível que pareça eu não estou com fome, pois consegui fazer Cal me levar ao Mac'Donalds antes de virmos para cá.
   Nós tomamos a decisão de que agora que sabemos que está tudo bem com os bebês — quando a ficha caiu e eu percebi que tem não um, mas duas crianças crescendo em meu útero eu entrei em pânico — podemos contar ao meu pai a novidade do ano. Ele vai infartar, e não vai ser bonito.
— Então, como foi a consulta? — Pergunta Clare. — Estávamos todos ansiosos para saber o que a médica disse, não é Valérie?
— É sim, estávamos orando para que tudo esteja bem com o bebêm — Diz Valérie, com um sorriso simpático nos lábios.
— Conte logo, Cal, estou suando frio aqui. O bebê está ou não bem?
   Cal e eu nos entreolhamos, cúmplices de um segredo.
— Fala você. — O incentivo.
   Ele desliza seus lindos olhos azuis acinzentados para os pais sentados no sofá aposto. Cal sorrir, um sorriso tranquilo que lhe sobe aos olhos.
— Nós ouvimos o coração dele, está tudo bem. A médica disse que para a idade gestacional o desenvolvimento dele está perfeito. Mas...
—Mas? Mas, o quê, Cal? Meu coração não aguenta uma notícia ruim. — Dona Clare leva a mão ao peito, e sua expressão se torna temerosa.
— Não é uma notícia ruim, mãe. Mas durante a ultrassom a médica constatou que teremos dois bebês e não apenas um.
— Dois bebês? Você quer dizer que terão gêmeos!?
   Clare solta um grito fino e alto, em seguida leva as mãos a boca, tampando-a. Todos estão com uma expressão de choque e espanto. Eu entendo, também fiquei surpresa quando soube e Cal...bem, ele apagou, literalmente.
— É, nos teremos gêmeos.
— Isso é... Isso é... — Clare balança a cabeça para os lados, atordoada. — Terei que duplicar tudo na lista do enxoval. Acho que o quarto próximo ao jardim é melhor, é maior. — Clare se levanta, mas volta a sentar. Sua mão vai a cabeça e ela não parece bem.
   Me levanto do sofá para poder me sentar atrás ao lado dela. Seguro as mãos dela nas minhas e lhe ofereço um sorriso gentil. As mãos de Clare estão geladas, temo que sua pressão arterial caia e ela desmaie como Cal o fez.
— Está tudo bem, Clare. Os dois estão bem, vamos planejar tudo juntas, o que acha?
— Menina, você balançou o nosso mundo. — Ela diz,as não de uma forma ruim. — Vou ter dois netos. Dois?!
— Como isso é possível? Não temos histórico de gêmeos na família. — Pergunta Antônio, curioso.
— A minha mãe tem uma irmã gêmea. Nós não falamos com ela, a alguns anos ela se meteu em problemas e negou fazer o transplante de medula para a minha mãe mesmo sendo compatível. Acho que a última vez que eu a vi eu tinha dezoito anos.
— Poxa, isso é uma situação realmente infeliz.
— Isso me faz lembrar, Edward. Meu irmão era uma pessoa no mínimo difícil de lidar.
— Não vamos falar sobre Edward ou Chloé — Diz Cal — Vamos falar em como eu sou um homem sortudo.
— Ah, isso é realmente verdade!
   É incrível como eu me sinto a vontade com a família de Cal, eles são muito solícitos, gentis e me incluem em seus planos como uma família o faria.
   Clare me levou para o quarto em que ela planeja reformar para ser o quarto das crianças. É um cômodo amplo com duas janelas. Há um closet espaçoso e eu achei o quarto bem arejado.
— Acho que os berços ficarão nesse espaço. E aqui, uma cômoda. O que acha de por papéis de parede nas paredes?
— Acho uma ótima ideia, algo com estampa de estrelas ou mar.
— Você acha que é menino? — Ele pergunta, um tanto esperançosa.
— Não, eu não faço ideia ainda. Mas estrelas e praia são temos que Cal e eu gostamos, é o nosso reencontro, entende?
— Ah, sim. Quer colocar um pedaço da história de vocês na decoração. Mas, e se forem duas meninas? Podemos comprar duas princesas para por nessa parede aqui. — Ela aponta para a parede, e sei que em sua mente ela tem o quarto inteiro planejado em sua mente.
— Vai ficar incrível, Clare. Eu nem sei como agradecer todo carinho que você e Antônio estão nos dando.
— Ah, querida. Você é da família, e nos — Ela segura as minhas mão — quem temos que agradecer por tudo o que vem fazendo. A muito tempo eu não via Cal brilhar de alegria e agora eu o vejo sorrir feito um bobo olhando pro nada.
— Ele está feliz.
— Sim, e por isso amamos você. Tudo o que eu sempre quis era que Cal fosse genuinamente amado, que ele realizasse seus sonhos e fosse feliz e agora, ele tem tudo que sempre desejou. Você é uma Cameron agora, então não pense duas vezes em me procurar quando precisar. — Ela gira o pescoço, olhando para o closet. — E se mudassemos o closet? Acho uma banheiro amplo mais necessário do que esse closet.
   Clare e eu passamos um bom tempo arquitetando o quarto dos gêmeos. Fiquei com um sorriso bobo nos lábios, feliz por está aqui por ter todas essas pessoas incríveis ao meu lado.
   Meu pai não vai ficar feliz no primeiro momento que descobrir, mas espero que quando ele aceitar a minha nova vida, ele entenda que não poderia ser diferente e que eu estou feliz como a muito tempo não era.

{•••}

Cal

   Thomas não ficou nenhum pouco feliz quando me viu ao lado de sua filha. Sua casa está cheia de amigos e em algum lugar há uma partida de futebol americano acontecendo.
   Não seria o melhor momento para dizer o que viemos dizer, mas ele não atendia as ligações de Olímpia.
— Por que o trouxe aqui? — Questiona o Thomas.
— Porque precisamos conversar, pai. Eu liguei várias vezes e o senhor não me atendeu!
— Aquele celular que é temperamental! Não sei usa-lo, sabe disso!
— Podemos ir pro seu escritório? Nós realmente temos algo para falar com o senhor.
— Tem que ser agora?
— Pai, é importante!
— Olimpia! — Um homem mais velho com cebola grisalhos abre um sorriso enorme ao vê-la. Ele se aproxima de nós. — Estávamos nos perguntando onde estava a menina que gostava de assistir futebol com a gente!
— Eu ainda gosto de futebol, Cal, só ando muito ocupada.
— Lucas está na sala, quer que eu chame ele pra você?
   Olimpia lança um olhar para mim e então volta seus olhos para o homem. Posso jurar que vi receio nos olhos da minha mulher.
— Carlos — Olimpia me puxa pelo braço para perto dela — esse é o meu noivo, Cal. Cal, esse é o melhor amigo do meu pai, Carlos.
   Estou ficando louco ou ela me chamou de noivo? Quando ela me pediu em casamento e eu aceitei? Eu certamente não me lembro.
— Noivo?! É isso que veio me contar? Vai se casar com ele?! — Thomas diz como se fosse a pior das acusações. Me sinto um réu condenado injustamente.
— O que o senhor esperava, que o seu plano de me juntar com Lucas fosse me fazer deixar de amar Cal?! Pai, o senhor está sendo incoerente.
— Como é que é? — E a voz de Lucas. Ele está parado na soleira da entrada da sala de estar, com a expressão mais frianque que eu já vi alguém usando. — O senhor fez o quê?
— Eles estavam tramando para nós juntar porque meu pai não aceita que eu faça as minhas próprias escolhas.
— Não seja ridícula, Olimpia.
— Com todo respeito, senhor Thomas, olha como você se dirige a minha mulher.
   Thomas lança um olhar matador para mim, ele se aproxima cheio de ódio e rancor. Não sei o que fiz para ele, mas certamente Thomas não gosta nenhum pouco de mim.
— Você vem na minha casa faltar com respeito comigo!?
— O senhor quem está faltando com respeito com o pai dos seus netos!
   Thomas se vira abruptamente para Olímpia, seus rosto é uma moldura de surpresa. Nenhum de nós queria que fosse dessa forma.
— Netos?
— É, netos! Viemos aqui dizer ao senhor que estou grávida, pai. Grávida de gêmeos.
— Jesus! — Exclama o senhor Carlos.
— Como você...porque você... — Thomas balança a cabeça para os lados, confuso.
— O senhor tem que escolher, pai. Ou deixa de lado essa rejeição contra Cal ou não sei como o senhor vai fazer parte da vida dos nossos filhos. Ele é o pai dos meus filhos, pai e eu sou a sua única filha. — Olímpia vira o rosto e nossos olhos se encontram. — Vamos embora.
— Olimpia...
—... não, pai. O senhor tem que pensar, tem que limpar a mente e o coração. Até la, tenho que proteger a minha família.
   Não posso imaginar como deve ser difícil para Olímpia. Seu pai não vai mesmo com a minha cara e eu nem sei o que fiz de errado. No carro ela, ao abrigo das janelas escurecidas, Olimpia tampa o rosto com as mãos.
— Linda.
— Estou bem, Cal. Eu só...estou com tanta raiva dele.
— Ele é o seu pai, linda. Sei que apesar dele não me suportar, ele ama você. Família é uma coisa complicada as vezes.
— Nem me fale. — Ela suspira. Olimpia gira o pescoço e seus olhos encontram os meus. — Quer ir pro hotel? Podemos reservar um quarto e só relaxar.
— Tenho um ideia melhor.
— Tem?
— Humrum. Coloque o sinto, vamos nos divertir. 
   Ligo o carro e saímos dali, o nosso destino é um lugar que Olimpia nem sequer pode imaginar, e não sei como ela vai reagir, mas sei que ela vai se divertir.

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