Wednesday
A fumaça preta que me rodeava sumiu e percebi que estava em casa, o que me fez cair de joelhos e começar a chorar.
Eu estou condenada a esse lugarzinho por mil anos, vou perder o nascimento dos meus filhos, vou perder a mulher que amo e tudo por culpa daquela desgraçada da Esther e aquele maldito padre.
Eu sentia uma dor muito grande em meu peito e só sabia chorar como uma criança que foi tirada da sua mãe. Por falar em mãe, bem que eu queria o colo da minha no momento, mas não estou disposta a cruzar o inferno para isso.
Ouvi passos vindo de trás de mim e sabia exatamente quem era. Não podia ser outro ser.
— Vai embora.
— Wednesday, eu sinto muito. – Meu pai disse.
— Não, você não sente.
— Sim, eu sinto. – Ele tocou meu ombro. — Vamos, você deve se levantar.
— Me deixe em paz. – Rosnei para ele. — Eu não quero sair daqui. Ficarei nesse mesmo lugar durante toda minha pena.
— Não, você não ficará.
— Você não manda em mim.
— Eu mando. Eu sou o seu senhor e você me deve respeito.
— Foda-se. – Disse sem um pingo de paciência. — Eu não queria ter a deixado e nem deixado os meus filhotes.
— Você não precisa deixa-la. – Meu pai disse e me virei para encara-lo.
— Do que fala? Eu estou condenada a esse inferno por mim anos!
— Como um demônio. – Ele disse.
— Vá direto ao ponto.
— Wednesday, minha filha. – Lucífer começou com uma voz que ressoava como um trovão. — É chegada a hora de mais uma jornada na terra. Desta vez, você caminhará entre eles como humana, sentirá suas dores, alegrias e, acima de tudo, sua mortalidade. – Declarou, rindo.
— O quê?
— Estou lhe dando a chance de ser feliz ao lado de Enid. Não desperdice.
— Você vai me tornar... humana?
— Sim, sinta-se agradecida.
— Obrigada, senhor! – Me levantei e parei ao seu lado.
— Mas você deve saber que não poderá voltar para cá até o fim de sua vida terrena. Você estará propicia a pegar doenças, terá que trabalhar para manter sua família, sentirá dores e tudo de ruim que a vida humana oferece. Está disposta?
— Eu estarei ao lado da mulher que amo, nada mais me importa, senhor.
— Que assim seja feito. – Lucífer esticou sua mão e a peguei imediatamente. — Vou visitar vocês em breve, minha filha.
— Obrigada...
— Não me agradeça ainda. – Lucífer estalou os dedos duas vezes e uma luz dourada começou a me envolver. Algo bateu em meu peito, um coração humano, e uma louca vontade de respirar me atingiu. Puxei o fôlego algumas vezes. Minha respiração estava descompassada. — Até mais, criança. – Tudo ficou escuro em minha frente. Os meus olhos estavam bem fechados, mas os abri quando senti algo em minhas costas e quando o diz, notei que estava em frente a igreja e usava nada mais do que um vestido preto e uma bolsa preta estava ao meu lado.
— Enid... – Murmurei. Minha garganta estava incrivelmente seca, mas não poderia me importar menos. Me levantei e correi para dentro.
A igreja estava mergulhada em uma tranquila serenidade, a luz suave das velas dançava pelos vitrais coloridos, criando uma atmosfera etérea. Enid estava ali, sentada no último banco, nua e chorando copiosamente enquanto segurava sua barriga. Ela não percebeu minha presença, ela nem ao menos ouviu a porta se abrindo.
— Enid...
Ela se virou, seus olhos se encontraram com os meus, embora algo estivesse diferente. Onde antes havia uma aura de obscuridade, agora havia uma humanidade palpável. Eu estava ali, mas não como um demônio, e sim como uma mera humana.
— Wednesday? O que... como...? – Enid murmurou e se aproximou rapidamente de mim. Seus olhos expressando surpresa e perplexidade.
— Lucífer me enviou de volta à Terra, mas dessa vez como uma humana, Enid. – Sorri, mas não havia malícia em meu olhar.
— Humana?
— Sim, com todas as alegrias e dores que isso implica.
— Eu não acredito! – Enid pulou em meus braços e me apertou com todas as suas forças. — Você está quente, respirando e viva! – Disse.
— Eu estou. – Não pude deixar de sorrir para ela.
— Você voltou para mim! – Enid me abraçou, colocou a cabeça contra o vão do meu pescoço e chorou.
— Não chore, filhote. Eu estou aqui para você e os nossos filhotes e não vou a lugar nenhum.
— Eu estou tão feliz. Eu te amo. – Enid segurou meu rosto e colou nossos lábios.
Abracei pela cintura e aprofundei ainda mais aquele beijo. A loira aranhou meus ombros e se afastou com um sorriso bobo no rosto.
— Vamos procurar algumas peças de roupas para você e então iremos para casa.
— Por favor! – Enid pediu.
Entramos em uma salinha da igreja e lá havia uma caixa com doações de roupas. Enid pegou uma calça de moletom e uma camiseta. Deixamos a igreja em seguida e voltamos para o hotel que ficaríamos pelas próximas semanas antes de irmos para a casa que havíamos comprado.
— Vejo que meu pai pensou em tudo. – Disse ao abrir minha bolsa e encontrar as chaves do apartamento e documentos que me pertenciam. — Wednesday Addams, 20 anos, intersexual, nascida em Los Angeles, Califórnia.
— Eu amei. – Enid me abraçou por trás e beijou meu rosto.
— Vamos, vou preparar alguma coisa para você comer enquanto toma um banho; - Disse assim que abri a porta.
Enid entrou e suspirou aliviada por estarmos em um local seguro. Eu a puxei para perto e a abracei.
— Eu te amo. – Murmurei contra o seu ouvido e ela ronronou feliz.
— Eu te amo mais. – Enid me beijou e me abraçou pelo pescoço.
Nos separamos apenas quando a falta de ar nos atingiu, mas ainda ficamos próximas, ela precisava disso.
— Vá tomar o seu banho. – Disse e ela acenou positivamente antes de se dirigir ao banheiro.
Olhei em volta e suspirei aliviada. Eu estava em casa e ficaria ao lado da pessoa que amo pelos próximos anos e depois pelo infinito. No fim das contas, eu vou ver o nascimento dos meus filhotes.
— Obrigada, pai. – Agradeci em um sussurro e fui até a cozinha para preparar alguma coisa para minha garota comer.
Continua...
Notas da autora
Posso hibernar em paz agora?
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Pacto: Wenclair [G!P]
Fanfiction𝙴𝚗𝚒𝚍 𝚎𝚜𝚝𝚊𝚟𝚊 𝚍𝚎𝚌𝚒𝚍𝚒𝚍𝚊 𝚊 𝚜𝚊𝚕𝚟𝚊𝚛 𝚜𝚞𝚊 𝚖𝚊𝚎 𝚍𝚊 𝚙𝚗𝚎𝚞𝚖𝚘𝚗𝚒𝚊, 𝚎𝚕𝚊 𝚙𝚊𝚐𝚊𝚛𝚒𝚊 𝚚𝚞𝚊𝚕𝚚𝚞𝚎𝚛 𝚙𝚛𝚎ç𝚘 𝚙𝚊𝚛𝚊 𝚚𝚞𝚎 𝚒𝚜𝚜𝚘 𝚊𝚌𝚘𝚗𝚝𝚎𝚌𝚎𝚜𝚜𝚎. 𝙿𝚘𝚛 𝚎𝚜𝚜𝚎 𝚖𝚘𝚝𝚒𝚟𝚘 𝚊 𝚕𝚞𝚙𝚒𝚗𝚊 𝚍𝚎𝚌𝚒𝚍...