Capitulo 021 pt.2 🤍

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Seus olhos se abriram e ele me deu um pequeno sorriso.

Havia algo de melancólico nisso. Ele tinha a aparência de um homem desesperado, morrendo de fome e procurando cegamente algo, mas isso sempre escapava de seu alcance antes que pudesse se agarrar. Victor estava partindo meu coração, e não havia nada que eu pudesse fazer para acabar com esse sofrimento.

— Não estamos em um relacionamento.

Eu sabia disso, mas ainda perguntei. Talvez eu fosse masoquista.

— Então, o que somos?

Seu olhar se fixou em mim novamente, olhos tão castanhos - bonito, porém sombrio.

— Você é... mais, — sussurrou a confissão.

— Não vá, Bárbara. — Ele disse meu nome como uma oração, como se estivesse sussurrando todas as suas esperanças para o céu.

Com isso dito, fechou os olhos novamente, e desta vez, não estava mais consciente. Eu olhei para as nossas mãos e engoli minhas lágrimas.

— O que você está fazendo comigo, Victor?

Antes que eu pudesse pensar duas vezes sobre minhas ações, subi no edredom e me juntei a ele. Seu corpo ainda estava frio, mas lentamente recuperando seu calor. Sob o forte cheiro de álcool e tabaco, seu cheiro ainda permanecia.

Quente, rico e terroso... Eu não sabia quando aconteceu ou por que não havia percebido até agora, mas o cheiro familiar de Victor me trazia conforto. Eu me enrolei ao seu lado; nossos dedos ainda entrelaçados. Ele precisava de mim; precisava de sua amiga.

— Não vou embora. Promessa do dedinho.

Victor era ruim.

Houve um garoto uma vez, um garoto como ele, que me arruinou e me deixou com cicatrizes. Victor era tudo o que eu ficava longe; era tudo o que eu não precisava na minha vida.

Eu disse a mim mesma que... nunca mais. Eu nunca me deixaria ser fraca em torno de homens como Victor. Mas não importa o quanto tentei me afastar, colocar distância entre nós, de alguma forma acabar com essa amizade... ele não iria deixar que eu fosse.

Ele era mau. Ele fumava, era apressado demais com a vida, gostava de violar a lei, violava garotas como eu, deixava um rastro de corações despedaçados para trás e não se importava com nada. Eu achei... talvez fosse porque ninguém lhe ensinou como cuidar de outro ser humano.

Eu vi alguns vislumbres do Victor que ele tentou esconder de todos, o que só queria a aprovação de seus pais; o Victor que estava faminto por atenção.

Havia uma centena de razões pelas quais ele era ruim para mim. Mas todas essas razões se tornaram insignificantes quando percebi que ele não queria me machucar. No começo, estava cética. Eu estava esperando Victor fazer o que ele fazia de melhor:

partir corações.

Mas ele não fez. Semanas se passaram. Dois meses se passaram. Percebi que Victor Coulter estava um pouco arruinado, um pouco bagunçado, um pouco quebrado... Um belo desastre.

Como eu.

Todas essas razões não eram mais importantes, porque todas as manhãs ele esperava do lado de fora da casa dos meus avós, me entregava um muffin e seguia meu ônibus para a escola. Toda tarde, ele sentava comigo e estudava, algo que não fazia há anos. Ele odiava estudar, odiava abrir um livro, mas fazia assim mesmo. Por causa de um desafio, e por minha causa, ele fez isso por mim.

Era bobo, era algo tão pequeno, mas ainda...

Eu não podia desistir do meu amigo.
Ele era irritante, mas hilário. Ele era o maior imbecil do mundo, um idiota por definição. Na verdade, ele levaria esse troféu para casa. Idiota da década. Ele me irritava, me fazia querer gritar de frustração, me deixava totalmente louca, mas tanto quanto me fazia suspirar exasperada e revirar os olhos... Ele me fazia sorrir.

Victor estava fora de sua mente: muito descuidado, muito impulsivo, muito imprudente.

Mas ele era o caos para o mundo perfeito que eu havia construído ao meu redor, um mundo em que mantinha meu coração cuidadosamente guardado.

Senhorita Perfeccionista, ele gostava de dizer.

Hmm.

Victor  fazia meu mundo um pouco menos...

perfeito.

Eu estava bem com isso? Foi essa compreensão que me trouxe até aqui?

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