Capitulo 024 pt.2🤍

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— Não, — Victor soltou uma maldição.

— Porra, não. Babi, não. — Ele bateu os punhos contra a grama molhada e enlameada.

Eu soltei um riso seco, vazio e frio. Sim. Ele me ofereceu um milhão de dólares para ficar em silêncio. Ele disse que me daria mais se eu calasse a boca e deixasse sua família em paz.

Então eu chorei.
E chorei... E chorei.

— Nós... perdemos... o... caso, — solucei, mas eu estava apenas engasgando com minha própria saliva.

— Dinheiro, poder e muitas conexões, ele tinha tudo, e não tínhamos chance contra ele.

— Ele pagou ao juiz? — Victor rosnou, suas palavras cheias de raiva.

— Eu presumi que ele o fez ou então, não precisou. Eles eram amigos.

Eu tentei respirar, tentei me manter viva, me forcei a sobreviver. Inalar, exalar.

Eu queria gritar até desmaiar e esquecer que tudo isso aconteceu. Talvez quando eu acordasse, me encontraria em um mundo em que meus pais ainda estavam vivos, e nós estávamos vivendo felizes para sempre.

— Quando você é rico, pode pagar pelo silêncio de alguém, comprar vida e morte, brincar de Deus e vencer. Foi o que ele fez. Eu sou uma rel mortal... eu perdi.

— Eu sinto muito.

Eu também.

— Eu te odiei porque você era um lembrete do garoto que me arruinou e roubou minha vida de mim, — Resmunguei, minha capacidade de falar diminuindo.

Esfreguei meu peito, sobre minhas cicatrizes.

— Tão rico, tão mimado. Um pirralho com tanta arrogância.

Victor emitiu um som no fundo da garganta; soou quase como um grito silencioso antes que ele falasse.

— Sinto muito. — Disse novamente.

Com toda a minha força esvaindo do meu corpo, eu não conseguia mais me sentar. Meu corpo balançou e caí de costas e fechei os olhos. Eu estava exausta de tudo, toda a dor, todo o sofrimento... meu passado e todas as memórias.

Eu me sentia... vazia. E entorpecida.

Não precisei abrir os olhos para senti-lo. Victor se sentou na grama fria e se deitou ao meu lado. Senti seu hálito quente em meu pescoço. Ele estava muito perto.

Eu respirei o ar fresco, e houve um silêncio confortável entre nós. Durou muito tempo, e eu absorvi o calor de sua presença. Até Victor quebrar o silêncio.

— Conte-me sobre seus pais. Como eles se conheceram? — Ele perguntou gentilmente.

Então eu o fiz. Eu contei a ele sobre uma história de amor improvável.

— Minha mãe era a única hispânica no bairro, e todas as outras crianças a zoavam. Meu pai, aparentemente, era um dos seus agressores, até que ela o agarrou um dia e bateu os lábios nos dele, depois se afastou, o olhou nos olhos e disse: "Se você não pode calar a boca, eu vou calá-la para você". Ele disse que se apaixonou por ela naquele momento. Meu pai sempre me dizia para estar com uma pessoa que faça seu coração bater a mil quilômetros por hora. — Falei para Victor.

Nós encaramos as lápides dos meus pais, e me perguntei se eles poderiam me sentir desde que eu estava tão perto deles.

Eles estavam me vigiando?

Senti uma dor no peito, mas não tinha mais vontade de chorar. Talvez eu finalmente tenha chorado todas as minhas lágrimas; porque mesmo que doesse, a vontade de chorar se foi.

Até o ano que vem, até eu me permitir desmoronar novamente. Eu odiava estar vulnerável. A última vez que estive; eu estava em um hospital e não podia dar aos meus pais a justiça que eles mereciam.

Eu não sei por que deixei Victor me ver assim, por que permiti que ele visse minha fraqueza... Mas o que eu sabia, foi que no momento em que ele se sentou no banco ao meu lado e segurou minha mão, não queria que ele soltasse.

Eu nem chorei no funeral dos meus pais até que todos se foram, e eu estava sozinha. Exceto no momento em que Victor tocou minha mão... a represa quebrou, a gaiola ao redor do meu coração quebrou e eu não conseguia parar de chorar.

Ficamos ali por um longo tempo. O sol estava começando a se pôr, o céu ficando laranja brilhante. Eu acho que esse lugar era chamado Sunset Park por um motivo; tinha a melhor vista do pôr do sol.

— Você acredita no amor? — Victor perguntou, sua voz grossa.

Que pergunta estranha em um momento como este.

— Sim. Mas decidi há muito tempo que não é para mim. Não mais.

— Por que não?

— Porque não quero perder mais ninguém. — Sofri perdas suficientes por toda a vida e sobrevivi a ela, mas não queria testar minha sorte.

Quanta dor uma pessoa pode suportar antes de se decompor completamente?

Eu era mais forte que a magia do amor.
Coloquei meus braços em volta dos joelhos e aproximei minhas pernas do meu peito. Deitei a cabeça sobre os joelhos e me virei para olhar Victor. Ele estava olhando as lápides dos meus pais, parecendo pensativo.

— Você acredita no amor? — Eu perguntei a ele de volta.

Minhas bochechas estavam tensas pelo frio e minhas lágrimas secas. Meu rosto provavelmente estava manchado e vermelho, mas não consegui me importar no momento. 

Este era Victor, meu melhor amigo.
Ele piscou, como se não estivesse esperando a pergunta.

— Eu não sei.

Curiosa, eu empurrei por mais.

— O que você quer dizer?

— Eu pensava que o amor era falso. Que não existisse. Que era muito complicado e toda essamerda. Ninguém nunca me pertenceu antes. Eu nunca estive perto o suficiente para amar alguém ou até mesmo entender o significado disso.

Emoções selvagens entupiram minha garganta, e meu coração bateu como um pássaro enjaulado, batendo suas asas, procurando uma fuga.

— E o que você acha agora? — Eu sussurrei a pergunta.

Victor me encarou, seus olhos castanhos olhando nos meus, olhando através do meu exterior frio, empurrando através das minhas paredes e batendo no meu coração enjaulado.

Quando ele falou novamente, sua voz era profunda e áspera. Suas palavras eram uma confissão silenciosa.

— Agora, tenho alguém a perder e sei que isso vai me quebrar. Sei o que significa ter medo de perder a pessoa que mais significa para você. Essa pessoa tem o poder de me destruir.

O silêncio caiu sobre nós, e eu não consegui encontrar as palavras para transmitir o que estava sentindo. Virei minha cabeça para longe do seu olhar sondador e voltei a encarar as lápides.

Segundos se transformaram em longos minutos, mas nos sentamos lá em um silêncio confortável.

— Victor?

— Sim?

Respirei fundo e fiz minha primeira promessa a Victor.

— Você não vai me perder. Nunca.

Ele ficou quieto por um momento, e pensei que havia estragado tudo, até que a sua mão entrou na linha da minha visão, e ele me mostrou seu mindinho.

— Promete? — Ele perguntou suavemente.

Enganchei meu dedo no dele. Victor era caloroso e familiar. Era sólido e seguro. Eu queria me agarrar a ele e nunca, nunca deixar ir.

— Prometo.

Ele passou o dedo mindinho ao redor do meu e depois sorriu. Pela primeira vez hoje, eu sorri também.

Promessa de dedinho, eu e você... para sempre.

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