🥀 - 0.6

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Já era, no mínimo, a quarta vez que eu fugia do refeitório apenas para ir comer junto de Jennie, às escondidas, atrás da escola. Como isso começou? Eu não saberia ao certo responder se me perguntassem agora mesmo.

No dia seguinte ao que falei com Felix pela primeira vez em algumas semanas, conversamos sobre esse tal assunto quando a aula dela chegou ao fim e ela pediu para que eu ficasse, deixando todos saírem primeiro e depois sentando na cadeira de Rosé, cuja mesa era em frente a minha.

Depois disso, comecei a trazer lanche de casa - ou não comia nada por ter esquecido - apenas para poder conversar com Jennie sobre o que quer que fosse. Todos os dias os rumos das conversas se divergiam, sendo totalmente diferente uma da outra, e fluía como se não fôssemos aluna e professora.

Já parecíamos íntimas demais em pouco tempo.

Ontem mesmo estávamos conversando sobre coisas nojentas e estranhas que já fizemos em nossas vidas enquanto dividíamos uma porção grande de Hot Buldak. Jennie até correu para as salas dos professores apenas para pegar água fervente para prepará-lo.

Descobri que Jennie perdeu o bv da maneira mais estranha possível. E eu também descobri - ou talvez tive ainda mais certeza - que a minha própria mente me odeia e que ela sempre arranja um jeito de me fazer pensar em coisas inapropriadas envolvendo Jennie.

Pensei em como teria sido tirar o bv da pequena Jennie quando essa ainda estava no ensino médio, estudando para um dia vir a ser professora de matemática e inglês e usando aqueles óculos redondos e finos que lhe caíam muito bem. Ela fez questão de me mostrar a foto - e ainda dizer ser esquisita.

Faria bem melhor do que aquele menino.

A conversa da vez era simples enquanto comíamos um salgado de padaria, feito pelo meu pai. Nada muito profundo e intenso mas também nada muito leve e insignificante. Meio-termo, podemos dizer.

Ela tampou a boca e riu pela terceira vez enquanto contava a história de como sua mãe tinha pego ela no flagra dividindo a cama com um menino que a Kim mais velha sequer conhecia, depois explicou que não estavam fazendo nada além de ter uma conversa sobre trigonometria.

- Mas vocês estavam se beijando antes de começarem a discutir sobre a matéria - comentei, rindo da risada fofa e gostosa dela.

- Tá do lado da minha mãe? - ela perguntou, pasma e levemente indignada. Adorava quando ela fingia estar perplexa por algo sem realmente estar, o jeito como seus olhos esticavam juntos com as sobrancelhas arqueadas e a boca carnuda e rosada em um perfeito 'O'.

- Não sei. - Terminei o último pedaço do salgado recheado de frango e tentei arremessar o papel para a cesta de lixo mais próxima. Jennie riu em deboche quando errei a lata. - Duvido que consiga fazer melhor do que eu - provoquei, tão cínica quanto a risada que a mais velha deu segundos atrás.

- Consigo, sim, e vou. - Amassou o papel de seu salgado após levar o último pedacinho à boca e mirou na lixeira. - Olhe e aprenda. - Foi a última coisa que falou antes de jogar a bolinha de papel para a cesta e errar.

Eu ri. Ri muito. E ela choramingou e escondeu o rosto nas mãos depois de encostar a cabeça em meu ombro. Seu cheiro era viciante, viciante de um jeito nem um pouco saudável, e seus cabelos ainda cheiravam ao shampoo da outra vez.

A envolvi com o braço direito e a puxei mais para si, enquanto o corpo dela tremia, o choramingo falso de antes se transformando em gargalhadas sinceras e verdadeiras.

- Isso foi péssimo - disse depois de finalmente parar de rir. - Nunca fui muito boa em esportes - por fim, revelou, se aconchegando. Se aconchegando no meu ombro. Se aconchegando de verdade. - Já até quis ser jogadora de futebol quando era mais nova, mas o sonho foi por água abaixo quando, em uma partida competitiva durante o primário, eu quebrei o pé.

- Seu time ganhou? - Ela levantou o rosto para me olhar, irônica e perto de mim. Perto demais de mim. Tão perto que nossas respirações calmas se misturavam e se tornavam uma só.

- Preciso responder? - Soltei uma risada soprada. Estava começando a ficar nervosa com aquela proximidade extrema e repentina.

E o pensamento da vez foi imaginar o que aconteceria se eu diminuísse aquele espaço entre nossas bocas.

O sinal. A porra do sinal atrapalhou todo aquele momento e fez Jennie ajeitar a postura como se nada tivesse acontecido, como se aquilo que aconteceu - o que aconteceu? - não tivesse a afetado, assim como me afetou.

O que estava acontecendo?

my teacher - jenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora