Parte 7

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• Miss Fortune •

O mar estava calmo, como raramente acontecia, mesmo assim não consegui ter o privilégio de um sono tranquilo naquela noite. Encarava um arranhão superficial no meu braço, lembrando do quanto Samira tinha se ferido em combate por minha causa.

Estava nua e confortável com os cabelos espalhados pelo lençol macio, que antes do amarelado, algum dia tinha sido branco, mas não deixava de exalar um cheiro bom do tecido limpo. Me virei de um lado a outro na cama, como se fosse um espaço enorme.

Considerei fortemente pedir para que a lunari me abraçasse, ou qualquer outro homem disposto me satisfazesse para que o cansaço vencesse a insônia, mas não fazia sentido.

Com os dias, tinha conseguido informações sobre Samira, que era na verdade uma artista de rua, uma dançarina em Shurima, antes de ser conquistada por Noxus. Isso explicava bastante os graciosos movimentos letais, que desviavam de projéteis no ar, ao mesmo tempo em que desferia golpes brutais nos inimigos, vários de uma vez, confusos por nenhum daqueles golpes pertencer a um estilo de luta específico. Foi inevitável me perguntar que outros movimentos difíceis aquele corpo perfeito desenvolvia com maestria.

Não bastasse meu encanto em sua forma física, personalidade e voz sedutora, ainda tinha sido surpreendida com um poema, breve, mas ousado para alguém que se mostrava distante e indiferente o tempo todo.

Ao mesmo tempo em que me deixou o maldito bilhete, Samira saiu às pressas, praticamente fugiu da minha presença, deixando coordenadas exatas para Noxus. Mas como a encontraria?

As questões eram muitas, mas minha falta de sono contribuiu para o fim do enigma dos relógios entalhados na madeira. Se as primeiras coordenadas eram de Noxus, as segundas marcações, quase imperceptíveis no verso dos objetos circulares só poderiam ser de algum lugar já dentro da grande nação.

Um sorriso me escapou e não pude deixar de rir ao pensar em todos os dias que perdi tentando incansavelmente decifrar tal coisa. Não era, de fato, a maneira de se desenhar coordenadas marítimas, mas serviu bem para seu propósito, que além de me levar ao local indicado, era me trazer uma enorme dor de cabeça.

Samira era, no fim das contas, mais inteligente do que eu teria previsto. Um conjunto perigoso na forma de uma mulher. Ainda assim, eu iria sozinha ao seu encontro, sem medo do que iria encontrar. Eu sou a Capitã Fortune em qualquer nação e isso não mudaria!

• Samira •

Não podia deixar Águas de Sentina sem colocar a capitã em um dos meus jogos e esse era o meu único propósito, ao entalhar na madeira macia as coordenadas de Noxus, que embaralhadas, dariam uma nova localização.

Esta última era praticamente impossível de ser decifrada e por mais inteligente e astuta que fosse a ruiva, não parecia ser o seu forte. Ainda que conseguisse, não viria ao meu encontro em uma nação quase desconhecida, onde havia uma porção de pessoas querendo sua cabeça.

Sim, eu já tinha ouvido falar de Sarah Fortune na periferia, em bares e principalmente em meio à noite de crimes de Noxus, entre os viajantes, mas as descrições apontavam uma pessoa completamente diferente. Uma garota pobre em busca de dinheiro e poder, matando pra sobreviver e usando seu corpo para alcançar os objetivos em nada parecia com a Comandante com tantos soldados obedientes lutando em seu nome, como se sua figura magra e pequena representasse um perigo real.

Pesquisei sobre ela por fontes mais confiáveis, estava realmente intrigada com o que a teria levado tão longe, ou tão alto. Sarah possui duas pistolas, que na verdade são canhões de mão com potência suficiente para dar inveja até na tecnologia Hextec e, segundo boatos, fabricadas por ela mesma ainda criança, já que seus pais eram os melhores artesãos de sua época. Poder de fogo e uma mente afiada em conjunto com uma determinação letal de alguém sem consciência.

Parte de mim desejou que ela conseguisse decifrar meus enigmas e viesse parar no meio da minha sala pra que então começasse a jogar o meu jogo, no meu território contra todos os riscos, mas sabia que seria só uma jóia na sua coleção de tesouros, alguém mais a comandar de um jeito ou de outro. Honestamente, esse papel não me cabe nem um pouco.

• Narrador •

— Mandou me chamar, capitã?

A voz grave, mas sutil invadiu o pequeno espaço, arrancando um sorriso da ruiva, que só então olhou na direção da porta prendendo seus olhos no volume evidente nas calças do rapaz de pele morena e impecável, como se ele já soubesse para o que estava ali naquela hora da madrugada. Fortune sorriu, indicando com um gesto que ele deveria entrar, sem disfarçar seu olhar sugestivo para as partes íntimas de seu tripulante.

— Hummmm... Parece que você já veio pronto!

— Na verdade eu ia agora tomar um banho, ainda antes de você chamar. Isso aqui... — Marcus se mexeu, inquieto, mas sem tapar o monumento que marcava o tecido — Isso é só inevitável quando penso em você!

— Banho? Pra quê? Eu prefiro você suado! Não vai deixar a sua capitã esperando, né?

O homem ainda estava parado no mesmo lugar, como se não conseguisse reagir diante do corpo da atiradora deitada sobre a cama em suas peças íntimas minúsculas e os longos cabelos avermelhados espalhados por boa parte do lençol, como se admirasse alguma espécie de alucinação momentânea e sublime, criada por seu cérebro em seus desejos mais profundos, como se não fosse real.

Prevendo o que aconteceria, Marcus pensou só por um instante em como seria trabalhar no dia seguinte ao lado de Sarah com ela se mantendo concentrada na missão e ignorando totalmente sua presença, enquanto tinha fortes lampejos de memórias sexuais que o deixariam visivelmente excitado.

Com agilidade, o guerreiro se colocou entre as pernas da ruiva, agarrando seus pulsos, que facilmente couberam em um aperto forte na mão grande, acima da cabeça da capitã, que fingiu se contorcer para escapar, enquanto um sorriso sacana mostrava o contrário. A mulher encenava uma voz manhosa, como se tivesse um manual da mente masculina pra deixar qualquer homem louco, fingindo uma vulnerabilidade que ela não tinha. Não demorou para que os risos altos e descontrolados de Sarah preenchessem a cabine.

Mulher, ou abismo? Miss Fortune e SamiraOnde histórias criam vida. Descubra agora