Parte 2

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Alguns minutos depois o som alto do outro lado do quarto chamou a atenção da ruiva, seus dois homens que guardavam a entrada estavam no chão, mesmo sendo enormes, não impediram a passagem de Samira.

A noxiana invadiu o quarto ao primeiro sinal dos gritos da lunari, mas assim que entrou, encontrou Fortune confortavelmente sentada em uma poltrona com uma luminária que facilitava a leitura de um livro, completamente vestida com sua calça, botas e camisa branca intocada. Lis também estava confortavelmente sentada na ponta da cama com um sorriso e igualmente vestida com uma calça marrom e uma blusa mais clara bem bordada com detalhes que tornavam a peça delicada encantadora.

A morena se sentiu estúpida por invadir o quarto assim, como um touro furioso, agora os seguranças de Sarah estavam desmaiados em sua porta e a mulher se encontrava ofegante, alerta e em posição de luta sem motivo aparente. Tinha sido enganada tão facilmente, que seu sangue fervia, mas a raiva era direcionada a si mesma. Levou seu olhar até a capitã, que certamente era responsável por isso.

— O que está acontecendo aqui?

Bastou um olhar da ruiva para que a Lunari se levantasse, sendo guiada para o quarto que antes pertencia à Samira pelos dois guardas já conscientes.

Se Samira era de Noxus e carregando armas pesadas como sua enorme espada, além das armas de fogo, só podia indicar que trabalhava com os militares, talvez até fosse um deles e mais importante, ela estava lá pelas mercadorias roubadas no caminho de Piltover para Noxus, coincidentemente feito pelo mar.

Fortune sabia exatamente sobre cada transação feita nas "terras" comandadas por ela e era a responsável pelo plano perfeito que desviava armamento de Noxus antes mesmo que pudessem recebê-lo de fato já há muitos meses.

A guerreira de Shurima sabia que estava bem diante de sua adversária naquele momento, mas não tinha uma confirmação clara, sequer imaginava que uma mulher com traços tão delicados comandasse enormes piratas bêbados nojentos, talvez fosse apenas um disfarce.

— Eu te conto o que está acontecendo, basta prometer sua companhia pelo resto da noite em uma conversa amigável — a voz sedutora da capitã sugeriu, fazendo com que dessa vez fosse a noxiana a arquear uma sobrancelha.

— Tudo bem, você tem a minha palavra, mas não posso prometer que não vou matá-la até o fim da noite — Samira encarava a mais alta com certa indignação por estar presa em uma armação boba como aquela.

Sarah levantou bruscamente, se aproximando da morena de uma só vez, atitude que em nada combinava com o rosto angelical do qual a guerreira antes havia zombado.

Andou até Samira de forma tão imprevisível, que obrigou a morena a andar para trás até encostar na mesa de madeira colada à parede, onde a ruiva também apoiou uma das mãos, se inclinando levemente sobre seu corpo. Isso não impediu a morena de segurar firme no punho de sua espada, a deixando pronta para qualquer golpe que julgasse necessário.

Sem hesitar, Sarah pegou a lâmina e a direcionou para o seu estômago por cima do espartilho que usava, sem tirar os olhos do verde esmeralda da orbe da visitante.

— Você pode me atravessar com isso agora mesmo, mas nunca vai saber o destino dos armamentos do acordo entre Noxus e Piltover, se fizer isso — os olhos azulados pararam nos lábios levemente trêmulos da morena — E se não fizer, esta noite você é minha indiscutivelmente!

Samira se sentia estranha ao ser encurralada como um animal por outra mulher com seus sentidos a traindo o tempo em dolorosos arrepios. Não gostava nem um pouco que dissessem o que deveria fazer com exceção dos trabalhos que aceitava fazer por dinheiro, exigindo frequentemente suas habilidades de luta.

Finalmente a ruiva tinha cedido à vontade de deslizar os dedos pelos braços definidos de sua convidada, tocando por cima dos desenhos de suas tatuagens, sentindo o quão firmes eles eram, além de sua imaginação.

Quem ela pensava que era, afinal? Dizendo sem qualquer pudor que pertencia a ela, como se fosse uma prostituta qualquer por quem se podia pagar. Isso soou péssimo para Samira, que pouco se importava com sua missão. Teria informações de qualquer maneira, matando Miss Fortune, ou não.

Sua mão parou direto no pescoço da capitã e com um movimento, Samira a virou, jogando seu corpo com tudo contra a mesa, que com o peso da pancada, foi ao chão com tudo o que havia sobre ela, espalhando os cabelos ruivos em todo o seu comprimento pela bagunça de objetos quebrados. A morena se abaixou, mantendo sua pressão no pescoço de Sarah, apoiando um dos joelhos ao seu lado, enquanto a encarava com raiva, apontando a lâmina afiada na direção de seu rosto.

Tudo o que desejava era tirar a vida daquela criatura esnobe e provocante, mas sua mente se tornou uma completa confusão ao ouvir a risada preencher o ambiente, uma gargalhada gostosa e alta, totalmente sem sentido. Ela estava se divertindo com sua ameaça de morte?

Sem fôlego pela pressão direta em sua traqueia e com as costas doendo pela batida, Fortune sussurrou com a voz um pouco alterada, mas seu olhar provocante sobre Samira.

— O que você quer? Me bater com toda a sua força? Quer deixar suas marcas em mim? Tire sua mão, eu tenho certeza de que os hematomas já estão visíveis agora — as sobrancelhas se arquearam em surpresa, mas Sarah continuou — Ah, você não sabe? Nunca dormiu com uma mulher antes? Ou nunca dormiu com uma mulher como eu? Como eu sou capaz de vir assim, com toda a prepotência, desafiar uma deusa do combate de Shurima? Quem eu penso que sou para... — os olhos azuis se estreitaram — Espera... Desejar você? É por isso que está com raiva?

Samira não desfez o aperto em volta do pescoço da capitã, mas suas palavras certamente a faziam refletir de alguma forma. O quão insana aquela mulher podia ser com suas verdades cuspidas daquela maneira? Com o silêncio em resposta, ela continuou.

— Ou não consegue olhar pra mim por que sou bonita demais para uma pirata nessa cidade imunda com cheiro de bebida barata? Isso é demais pra você? Eu não sou digna do seu interesse?

— Cala a boca — vociferou a guerreira, sem paciência para um discurso daquele tempo, por mais que tivesse razão em alguns pontos e em outros, não fazia ideia de quem ela era para tais deduções.

— Eu sou difícil de matar — disse Fortune, com outro sussurro ainda mais baixo com sua respiração acelerada, enquanto segurava sem receio a lâmina à frente de seu rosto, a trazendo mais para perto ainda — Mas tenho certeza de que consegue.

Mulher, ou abismo? Miss Fortune e SamiraOnde histórias criam vida. Descubra agora