Parte 3

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Por mais raiva que a noxiana sentisse de Fortune, a visão de seu corpo sob sua mão, jogado ao chão violentamente daquela maneira e a risada descontrolada não deixavam sua concentração retornar. Samira não sentia atração por mulheres, nem mesmo ali com um exemplar ousado e de marcantes atributos femininos, ela se sentia atraída. Mas então o que estava sentindo?

Seu olhar desceu um pouco para a camisa branca da ruiva com alguns botões abertos, revelando um decote que deixava parte dos seios avantajados à mostra. Deveria sentir inveja, mas nem isso a alcançou. Sua visão periférica captou perfeitamente o sorriso que se abriu na face coberta por sardas leves, dentes perfeitamente alinhados em lábios emoldurando um tom sugestivo já característico da outra mulher.

"Que porra ela tá fazendo?"

Foi só o que a morena pensou, antes de baixar sua espada, deixando a ponta penetrar na superfície de madeira da mesa.

— Eu gostaria de saber o que está pensando, mas algo em seu jeito teimoso me diz que não vai me contar — disparou Sarah de uma vez.

— Estou pensando que seus seios são perfeitos, mas ainda não sinto nada, zero atração, nem mesmo consigo imaginar — Samira levantou com um sorriso, vendo a expressão alegre se dissipar do rosto da capitã.

— Bem... — com um suspiro que deixava claro sua decepção, a ruiva levantou, ajeitando os longos cabelos avermelhados antes da camisa — Nesse caso, acho que não temos muito o que conversar. É uma pena! O homem que você procura é Daneron, é ele quem desvia o armamento. Vai encontrá-lo no porto com um charuto e chapéu branco.

Sem saber muito o que concluir da fala de Fortune, a guerreira se colocou pensativa. Seria uma armadilha? Por que tinha a impressão de que a ruiva era sincera? Era mesmo capaz de trair um dos seus? Tantas perguntas sem resposta, mas a morena conseguiu apenas continuar lá, sem reação, enquanto Sarah procurava em meio à bagunça feita por Samira o livro que lia anteriormente.

— Ah, chame por Lis quando sair, quero que ela fique segura e não confio em mais ninguém. Aqueles dois idiotas quase morreram lá fora — completou Sarah.

Samira encarou a porta e a figura da mulher algumas vezes, se sentindo boba por provavelmente estar presa em outro jogo estúpido. Não seria mais fácil realmente matá-la?

Tudo o que a noxiana conseguiu fazer foi obedecer, por mais que pensasse que estava agindo por vontade própria ao deixar o quarto e trocar de lugar com a lunari novamente.

Fortune por outro lado, estava incomodada por um motivo diferente. É claro que sabia lidar com rejeição, principalmente sexual, ou romântica, sabia que não era o centro do Universo, mas aquilo ainda tinha sido inesperado, visto que fantasiou tantas coisas com a outra mulher em tão pouco tempo.

O que confortou a ruiva foi abraçar Lis, embora não tenha passado disso, como se apenas a presença de alguém naquela noite de tempestade a acalmasse o suficiente. Os dedos deslizaram pelos cabelos prateados da garota e logo ela dormiu, sem nem se importar com o barulho dos trovões.

Sem cessar, o navio balançava lento e violentamente a cada onda maior que se chocava contra o casco, mas não era isso que impedia o sono da morena no quarto em frente. Estava sozinha e a voz da capitã ecoava por sua mente com suas palavras atrevidas como uma melodia. Começava a entender que a atração física passava despercebida, mas a voz da ruiva havia se fixado em seus pensamentos de maneira entorpecente.

Samira não conseguia agir e era exatamente o que a deixava mais irritada com toda aquela situação. Agora sabia o que era: a voz dela a deixava paralisada.

No entanto, não havia o que fantasiar quando a noxiana pensou que resolveria suas questões se entregando secretamente a um desejo que era colocado à prova em seus pensamentos. Era só imaginar a mulher nua tocando seu corpo com suas palavras provocantes e saberia exatamente se a atração existia ou não. Queria saber o que era de fato, se desejava fazer tudo o que Sarah havia mencionado, mas a verdade era que as palavras sugestivas da capitã haviam alcançado além do que sua criatividade artística podia imaginar. Era mais fácil apenas lembrar.

"O que você quer? Me bater com toda a sua força? Quer deixar suas marcas em mim? Tire sua mão, eu tenho certeza de que os hematomas já estão visíveis agora."

As palavras voltavam novamente como um eco, afirmando o que a morena já sabia: não era capaz de imaginar algo melhor do que o que seus próprios sentidos captaram. Fortune tinha razão em tudo, a cena descrita daria muito prazer para a morena, mas não por atração e sim pelo ódio crescente.

Várias horas se tornaram longas com Samira se virando na cama, sem que o sono viesse. De manhã, se arrependeu de não ter tentado mais, quando sentiu o sono afetar cada um dos seus sentidos.

O barulho da tripulação andando de um lado a outro pelo navio de madeira era insuportável. A morena chegou a afundar o travesseiro por cima de sua orelha, o cobrindo com o braço para evitar que perdesse o melhor momento de seu sono, mas era impossível. Não teve outra alternativa que não levantar.

Com o mar calmo e com raios de sol entrando forte por qualquer abertura, Samira deduziu que a tempestade havia passado e se animou em pensar que poderia apressar as coisas para voltar logo para casa. Mero engano.

Ao subir as escadas, a guerreira noxiana encontrou uma grande quantidade dos homens de Fortune em movimentação, manipulando as cordas e demais mecanismos que mantinham o navio em seu perfeito funcionamento em alto mar. Olhando em volta, nada além de uma imensidão azul de água podia ser vista, mas ainda tinha esperança de não estar longe, ou talvez até a caminho de casa.

— Com licença — a frase saiu forçada e com completa ironia ao se dirigir a um moreno alto que passava — Você sabe onde está a senhorita Fortune?

— Olá! Boa tarde! Ela não pôde vir, eu lamento. Não podia comparecer a uma viagem tão longa, tinha assuntos a tratar em Águas de Sentina.

Samira sentiu suas pernas falharem na função de mantê-la em pé por um instante, mas não demorou que a raiva crescente estivesse presente outra vez. Apontando sua espada ao homem, as palavras saíram em um rosnado rouco.

— Onde nós estamos?

A guerreira sentiu que poderia matar um por um e tomar o navio para retornar, mas isso poderia provocar uma guerra. Mesmo tendo certeza de que Noxus venceria, estava longe de ser seu objetivo e isso poderia até custar sua própria vida ao voltar para casa. Ao menos uma pessoa seria jogada ao mar!

Antes que o coitado pudesse responder, uma risada alta tomou conta do lugar, levando o olhar de Samira para cima em uma estrutura alta de madeira que permitia ver o curso da embarcação e o que mais estivesse ao redor. Lá estava Sarah, debruçada sobre um guarda corpo em seu chapéu de capitã, assistindo a cena de cima e se divertindo com o que via.

— Olá, Samira! Você parece um pouco irritada, docinho — a voz irritante mais uma vez acariciava os ouvidos da morena.

— Isso não é da sua conta, capitã! Eu não sou uma das suas.

— Não é ainda.

Ficou fácil para a noxiana decidir qual seria a pessoa jogada ao mar, ao ver os enormes cabelos ruivos voando na direção do vento e sua dona em seu sorriso provocante. Tinha vontade de subir imediatamente e jogá-la lá de cima mesmo.

— Você não devia estar manobrando essa coisa?

— Eu sou a melhor atiradora, cuido de invasores, como você — a ruiva lançou um piscadinha, antes de descer de forma ágil, deixando de lado a escada vertical para deslizar pelo enorme mastro até o chão — Tem muito lugar pra descartar um corpo por aqui.

Mulher, ou abismo? Miss Fortune e SamiraOnde histórias criam vida. Descubra agora