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-- Yumi parece ser uma pessoa boa.-- Suguru lançou o comentário  que tanto ele quanto Shoko estavam receosos em dizer. A carranca mau humorada estampada no rosto do platinado dizia o suficiente.-- Não seja tão duro com ela, Satoru.

O olhar do recém-casado perdeu-se na multidão de convidados, todos conversando educadamente  sobre a cerimônia que acabara de ocorrer. Gojo encontrava-se numa posição social nada agradável naquele momento. Onde já se viu, um dos homens mais desejados do mundo casar em uma idade tão tenra? A realidade dos fatos ainda o fazia torcer o nariz. E seus colegas não entendiam a gravidade da situação.

-- Não é você que está casado.-- retrucou, sibilando. Geto revirou os olhos.

-- Seja pelo menos respeitoso, Gojo.-- Shoko aconselhou, bebericando um pouco de champanhe enquanto tragava o cigarro a intervalos regulares.-- Sinceramente, ela sofrerá mais que você com esse casamento.

-- Vocês deveriam ficar do meu lado!-- Satoru exclamou, repentinamente ofendido.

-- E estamos. Só queremos que entenda também o lado da sua esposa.-- Suguru argumentou, o título causando calafrios desconfortáveis no corpo do feiticeiro.

Gojo calou-se, a raiva retumbando em seu peito. É tudo culpa do líder do clã, seu pai Sato Gojo. Para o velho, pareceu ser boa ideia casar o único filho de vinte e três anos com uma mulher cujo sobrenome não gera peso e é desprovida de grandes posses.

Talvez os atributos escassos de Yumi que chamaram a atenção dos feiticeiros do alto escalão são sua beleza e técnica amaldiçoada inigualáveis. Tirando isso, Ishigawa é apenas uma ninguém. Não possui nenhum parente biológico vivo e até então morava de aluguel num apartamento no subúrbio de Tóquio. Ela é decididamente um mistério, ao ver do platinado.

-- De certa forma, foi melhor assim.-- disse Ieiri, virando o resto da bebida goela abaixo.-- Imagina se casasse com outra como a Utahime? Você não passaria da cerimônia.

O pensamento trouxe divertimento para os três. Até Satoru soltou uma risada curta e baixa. Correndo os olhos pelos convidados aglomerados no salão de festas da mansão, ele se deu conta de que Yumi desapareceu. Era como mágica, o modo que aquela mulher sumia do ambiente sem ser realmente notada, mesmo sendo a noiva do casamento.

Perdido nas próprias divagações, não percebeu a aproximação de seu pai, Satou Gojo. Apenas as reverências curtas de Geto e Shoko direcionadas para o mais velho serviram de aviso.

-- Onde está a noiva?-- seu pai perguntou ríspido. Satoru odiava esse tom de voz.

-- Não faço a mínima ideia.-- respondeu dando de ombros. Bebericou o champanhe, o álcool lentamente inibindo qualquer senso comum que pudesse ter. Mais alguns goles e ficaria bêbado.

-- Pois vá achá-la. Daqui quinze minutos faremos o brinde e Fujimoto fará o discurso.-- ordenou, fazendo vista grossa para o cigarro entre os dedos da médica convidada pelo filho.-- E não se embriague.

-- Recebo ordens até no meu casamento?-- implicou, sorrindo sarcástico. Era maneira certamente eficaz de disfarçar o próprio desconforto.-- Você se supera cada dia mais, velhote!-- gargalhou.

Sato o encarou por um longo momento. Pesando os prós e contras de puni-lo ali mesmo por sua rebeldia. Satoru aos seus olhos se assemelhava á uma bomba prestes á explodir ao menor sinal de liberdade. Isso o preocupava.

No fim soltou um suspiro pesado, massageando a têmpora e saindo de perto dos três, apenas escolhendo dizer acima do ombro:

-- Caso não consiga fazer isso por si mesmo, faça pela sua mãe.

Wonder || Satoru Gojo × oc femininaOnde histórias criam vida. Descubra agora