Desde os oito anos, Yumi nunca precisou passar noites a fio no hospital. Ela não sentia saudades da sensação.
É proibido transitar entre os corredores horrivelmente apertados durante a noite. Yumi não pode andar rápido demais, ou pelo contrário, o tecido do pulmão recentemente remendado irá abrir. De novo.
Estar no hospital é uma experiência traumatizante. A sujeira da doença já acabou com o seu cabelo, que se encontra quase opaco. Apesar de não ficar exatamente suja, se sentia como tal. Acabar enlameada por trabalhar demais no jardim nem se compara a isto.
E ainda tem o grande Satoru Gojo, que mesmo sendo uma das pessas mais ocupadas em meio ao cenário de guerra, ainda passa todas as noites com ela. Conversavam normalmente, ele trazia notícias sobre os outros, mas nada fora disso.
As vezes, quando o platinado pensa que Yumi está adormecida, ela o sente acariciar suas mãos, seus pulsos, e até o rosto. O toque era sempre leve, discreto, quase inexistente. Porém Ishigawa o sente profundamente, como se fosse algo a mais. Não conseguia lembrar-se da última vez em que fora tocada tão carinhosamente. Seu avô nunca gostara muito de abraços, jamais deu tantas brechas a alguém. Estava a fingir que nada acontecia entre ela e Satoru. A mera ideia estragaria seus planos de ir embora.
Na última noite em que esteve no hospital, Yumi acordou de madrugada. A vista para fora da janela exibia o céu estrelado, a brisa noturna instigava a morena a sair da maca pra observar as estrelas de perto.
Lentamente levantou da maca, fazendo o possível para não acordar Satoru, que dormia profundamente na poltrona. Prometeu a si mesma que não tardaria a entrar. Queria apenas ir ao terraço do hospital, cuja tranquilidade Shoko já mencionou diversas vezes em que conversaram.
Levando o suporte do soro ligado à sua veia consigo, Ishigawa saiu do quarto, abraçando mentalmente a sensação de poder caminhar novamente, sozinha, sem interrupções. A essa altura, conhecida a planta do terreno de cor, sabia bem que a escadaria que levaria ao terraço ficava na cozinha do recinto. Graças aos céus seu quarto estava perto.
A cozinha vazia não chamou sua atenção, indo diretamente para a escada sem pestanejar. Exatamente como calculou, a porta nunca estava trancada.
A maçaneta girou sob o toque desesperado da sua mão, o vento pacífico logo acalmou seus ânimos e a fez sentir-se viva. Fugir era a maneira de fingir que tinha tudo sob controle, quando novamente não possuía.
O terraço era gigantesco. Algumas trepadeiras circundeavam a antena falsa no centro, dando a impressão de um lugar abandonado para o olhar de alguém desinteressado. O chão era ligeiramente coberto por uma camada grossa de poeira, mas Yumi não se importava.
Apoiada junto ao suporte do soro, a morena sentou-se no chão, sujando a camisola de hospital no processo. De qualquer forma, ela iria embora amanhã cedo.
Perdeu a noção do tempo assim que fixou o olhar na primeira estrela, demasiada brilhante para ser ignorada. A lua cheia adotou uma luz dourada interessantíssima. Quase artística. Levando em conta tanta iluminação vinda dos astros, era impressionante o fato do céu sozinho estar escuro como um breu.
-- Perambulando sozinha de novo, hum?-- A voz a fez se sobressaltar. Antes da usual irritação invadir seu humor. Virou-se subitamente, dando de cara com o marido, que ostentava uma carranca nada convidativa.-- O seu relógio biológico precisa ser estudado.
Deixou de responder o platinado, esperando que o feiticeiro fosse embora e a mantivesse sozinha. Ou a pegasse de qualquer jeito para voltar ao quarto.
Certamente ficou surpresa quando ele sentou ao seu lado, na beira do terraço. A sola dos pés encarando firmemente o chão.
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Wonder || Satoru Gojo × oc feminina
FanficA vida de Satoru Gojo vira de cabeça para baixo quando se vê casando com uma desconhecida, por quem não nutre nenhuma simpatia, pelo bem do clã. Yumi Ishigawa é uma mulher intrigante e reservada da sua própria maneira. Sendo sempre encontrada pelos...