O Poço das Fadas

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Quando Miria nasceu, os ventos sopravam fortes e violentos, e no exato momento em que ela respirou pela primeira vez, todos, não só no reino dos homens, mas também no reino inferior, sentiram um calafrio estranho no corpo.

Ela era uma garotinha de cabelos dourados que refletiam os raios do sol, vivia em uma vila afastada da capital, cercada em seus limites por um bosque muito antigo. A atmosfera naquele lugar era tranquila, mas às vezes ,em meio a brisa fresca através das copas das árvores antigas, o silêncio da floresta se tornava inquietante.

Desde pequena, Miriam ajudava seus pais nas tarefas diárias, mas sua tarefa favorita era buscar flores no bosque para sua mãe vender na cidade. Numa tarde, quando Miria completou quatorze anos, seus pais, preocupados com a proximidade da floresta, decidiram contar-lhe uma antiga história. Sua mãe, enquanto tecia uma coroa de flores, narrou a lenda do bosque que os cercava ;

"-Um dia, há muito tempo, ele abrigou um rei e uma rainha, além das criaturas místicas como fadas e duendes. No entanto, os dias de esplendor daquele reinado chegaram ao fim, e agora apenas maldade se movia naquela floresta."

Miria, fascinada pela história, ouvia atentamente enquanto sua mãe colocava delicadamente a coroa em sua cabeça.

-Esta coroa de flores te guiará e te protegerá, filha. Assim, não te perderás nos canto das fadas e voltarás para nós com segurança. Disse a mãe, sorrindo suavemente.

Com a coroa adornando seus cachos, Miria partiu em direção ao bosque, empolgada com a possibilidade de vislumbrar os resquícios da era mágica que seus pais haviam descrito. Ao adentrar a floresta. Miria foi envolvida por uma mistura de aromas frescos e mágicos. O solo fofo sob seus pés emitia um cheiro de musgo úmido, enquanto o vento trazia consigo o perfume das flores.

Os raios do sol se infiltraram entre as folhas das árvores, iluminando as flores brancas naquela parte do bosque. Mas à medida que ela penetrava mais fundo na floresta, algo na mata parecia ganhar vida, dançando ao redor dela como se fosse invisível. Enquanto Miria colhia flores, uma sensação estranha a envolveu, quase como um pressentimento, algo que jamais tivera antes.

Ela percebeu que estava longe de casa e que a luz do sol já começava a se esvair. Em um instante, a atmosfera mudou, e os sons dos pássaros foram substituídos por um completo silêncio. Miria, agora sentindo uma inquietação, notou alguma coisa se movendo entre as árvores, enquanto uma voz ecoou no ar, chamando seu nome. "Miria...Miria..."

A garota estremeceu, apertando a coroa de flores em sua cabeça. Ela se deu conta de que a voz que repetia seu nome, fazia isto como se o cantasse numa melodia suave, por um momento ela sentia-se entorpecida, algo que parecia passear despercebidamente ao redor dela, embora seus olhos só conseguissem captar um borrão, movendo-se sempre para o canto dos olhos de Miria. "Miria...Miria..."

De repente, algo tirou-lhe a coroa de flores de sua cabeça. Risadas infantis ecoavam em sua mente, e uma melodia misteriosa começou a permeá-la, fazendo com que sua visão ficasse turva. A tiara flutuava à distância, guiada por uma força invisível, e Miria, confusa, correu atrás dela em meio às galhas, e a relva da floresta que ia se densificando, deixando-a cada vez mais assustadora para a menina perseguindo a tiara que voava à sua frente.

Ela nem notou quando sua manta preta ficou para trás enquanto corria, e logo, afastava-se cada vez mais da trilha que conhecia, adentrando mais fundo na floresta ancestral. Até que, diante dela, surgiu um poço estranho e escuro, quando ela retomava pouco a pouco o controle de si, notou que já havia perdido sua tiara de vista faz tempo, e voltou sua atenção, a estrutura a sua frente.

Cercado por cogumelos vermelhos e brancos de vários tamanhos e formas que formavam um círculo quase perfeito em torno dos blocos de pedra do poço. Miria se curvou um pouco para tentar ver o fundo, mas apenas escuridão parecia preencher o buraco profundo. Intrigada, Miria se aproximou um pouco mais do poço e espiou para dentro, ela pensou ter ouvido uma voz saindo lá de dentro. Uma sensação estranha abateu sobre ela, um arrepio seguido de um toque, quando tentou virar-se algo a empurrou, e ela caiu no abismo.

O poço das Fadas (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora