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A att de hoje é embalada por canções de Djavan, em homenagem ao aniversário dele no sábado, e como o Spotify está bugado, montei a playlist no YouTube também, okay?https://youtube.com/playlist?list=PLdLD12Ya3X7BCjwwfZV7WxuPXYhHviTyI&si=yQxWSs9eopXv_zO2
Se quiser ouvir na ordem desse capítulo, dê play de Linha do Equador em diante 🤍
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Brasília, 07 de Novembro de 2023
Soraya
Não é à toa que o céu de Brasília tem a fama de ser um dos mais bonitos do país. Naquele dia, a tarde caía e formava uma pintura multicolorida em tons de laranja e lilás, emoldurando a paisagem no extenso gramado do Eixo Monumental. O trajeto do Edifício Principal do Senado Federal, onde fica meu gabinete, até o Bloco R da Esplanada dos Ministérios, onde fica o Ministério do Transporte, é curto, apenas alguns minutos de tráfego tranquilo, mas tempo suficiente para que a ansiedade daquela semana me fizesse cutucar os cantos das unhas das mãos.
Meu histórico impede o julgamento e compreendo que é muito mais fácil para quem está do lado de fora da política, apontar caminhos e esbravejar respostas simplistas para problemas complexos. Desde quando optei por sair da fila dos que reclamam para a fila dos que fazem – que não é bem uma fila, mas um minúsculo agrupamento, quase sempre sufocado pela ganância dos mais poderosos – entendi que havia saltado, sem equipamento de segurança, em um abismo para a minha sanidade.
Estávamos às vésperas de tomar uma decisão extremamente importante para o país e absolutamente todos pareciam ter uma opinião sobre os prós e contras da proposta de Emenda Constitucional para a Reforma Tributária. Eu mesma tinha as minhas convicções, construídas com base naquilo que eu vivenciei, estudei, no que eu acredito ser o melhor para os brasileiros.
Nos meses anteriores defendi uma proposta alternativa, que chamei de PEC do Emprego, e até angariei certo apoio de alguns empresários. No entanto, fracassei. Mais uma vez. Sem o suporte do meu partido, dos meus colegas e, claro, do governo. A postura de independência parlamentar tem seu preço e eu o pago com os juros de, no passado, ter me aliado ao lado mais sujo da velha política.
A música no rádio, sugestiva, narrava o percurso, "...céu de Brasília, traço do arquiteto, gosto tanto dela assim...", embalando meus devaneios. Enquanto contemplava, através do vidro blindado do Honda Civic preto, a beleza dos prédios de arquitetura modernista de Oscar Niemeyer, eu refletia sobre a votação do dia seguinte e, mais uma vez, me sentia entre a cruz e a espada. Simone e eu já tínhamos tratado dessa pauta dezenas de vezes e era sempre a mesma sequência: testávamos o terreno para abordar o assunto, convergíamos na necessidade de revisão da ordem tributária atual e, então, íamos nos distanciando de um ponto comum. Seria muito mais fácil ceder. Porém, eu nunca escolhi o que era fácil.
"...Esse imenso, desmedido amor, vai além de seja o que for..."
- E aí, Senadora, último compromisso do dia? – Pedro, meu motorista de anos, perguntou, fazendo contato visual pelo retrovisor.
- Graças a Deus! – Respondi. – Estou exausta e a semana mal chegou na metade.
- Imagino que a senhora esteja contando as horas para ir para casa, ter um pouco de sossego – disse ele, e me direcionou uma piscadela.
Pedro era uma das poucas pessoas que sabiam sobre minha relação com Simone, e a fala dele era um código para identificar qual o meu destino final, após a conclusão da agenda. Quando eu dizia que precisava de sossego, ele tomava a rota para o apartamento de Simone e sabia que era lá que me apanharia no dia seguinte.
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Castigo | Simoraya
Fiksi PenggemarUm país mergulhado na discussão sobre a carga de impostos, posicionamentos ideológicos em confronto. Nas entrelinhas do debate, quanto vale a lealdade a um relacionamento amoroso entre divergências? Quando a Ministra de Estado Simone Tebet se coloca...