A primeira vista de Radu Von Bistritz

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Lembro-me detalhadamente do dia em que conheci o Conde Radu. Estamos em uma joalheria retirando um presente que havíamos preparado especialmente para ele. Uma joia que representasse nosso grupo, com a beleza de pedras preciosas.
Saindo da loja completamente desanimada por estar coberta de sangue de um dia que deu muito errado nossos caminhos se cruzaram e ele sabia exatamente quem eu e meu grupo era.
Dono de uma beleza estonteante, seus cabelos loiros lhe transmitiam um ar de riqueza e serenidade. Os olhos azuis como gelo passam o sentimento de frieza porém calmaria. Os traços de seu rosto pareciam esculpidos um algum artista renomado. Trajando roupas elegantes e milimetricamente ajustadas, preto e vermelho. Minhas cores favoritas. Podia sentir seu olhar penetrante consumindo minha alma a metros de distância. E seu cheiro, não era como nada que eu já havia sentido antes. Lembro-me de ter engoli em seco pois as palavras simplesmente fugiram de minha boca. Sua beleza era para mim, uma toreadora, paralisante. E foi ali que decidi que precisava tê-lo.

Assim que entramos no seu grande e majestoso castelo tivemos uma breve reunião. O desconforto sempre presente por não estar apresentável perante uma figura tão importante e um homem com uma aparência tão linda. Tive então que pedir um favor, que me permitisse tomar banho no castelo antes que fosse embora.

Andando pelos corredores da grande mansão de Radu, meus olhos se fartam de tamanha beleza.

- Seu lar é magnífico, vislumbrando essas obras penduradas na parede me sinto dentro da sua essência, como se eu conseguisse te ler como um livro aberto. - Comento enquanto ando atrás dele no corredor.

- É uma linda casa mas é um tanto quanto solitário. Sempre tive muitas responsabilidades e nunca tive tempo livre para dividir tudo isso com alguém. Acho que até já encontrei alguém para o cargo. Mas sinto que é um fardo que preciso carregar. - Comentou Radu com uma expressão nublada em seu rosto.

Parada na porta da casa de banhos olho em sua direção por cima do ombro enquanto começo a desabotoar a parte da frente do vestido porém não expondo nada.

- Esse fardo não precisa ser suportado sozinho, você só precisa encontrar a pessoa certa para ter do seu lado. - Adentro o local deixando ele sem tempo de responder.
Saindo da casa de banhos após me certificar que meu corpo estava livre de qualquer vestígio de sangue, terra ou cheiro de cachorro molhado. Me enrolo em um lençol e me aproximo da porta.

- Gostaria de saber se posso receber outras vestimentas. Pois as minhas estão sujas de sangue e terra. - Questionei o loiro no final do corredor que percorria seus olhos por meu corpo semi úmido oculto por um lençol.

- Claro, me acompanhe. - Responde Radu  me direcionando por mais um conjunto de longos corredores com quadros, tapeçarias e joias enfeitando. Os quadros possuíam uma melancolia retratada, senti a solidão pintada nos quadros.
Entramos então em um cômodo grande e elegantemente decorado, seu quarto. Sinto minhas entranhas se contorcendo com as ideias que passam por minha cabeça.

- Aqui estão. - Pega um traje do cabide e o estende à minha frente. - Esperava um dia dar este vestido para minha futura esposa. Acho que ficará perfeito em você.
O vestido tinha um tecido de seda preto com detalhes de recortes em vermelho. Pedras de rubis bordadas ao redor da gola e decote do vestido são um ar elegante, gótico e ao mesmo tempo a impressão de que são gotas de sangue escorrido. Acredito que nunca vi um traje mais bonito com os próprios olhos.

- Já que estamos aqui, gostaria de abusar de sua boa vontade. Poderia me auxiliar a vesti-lo? - Questiono ainda segurando o nó do lençol sobre meu peito.

- Claro, seria uma honra cara Annya. - Aquelas palavras foram suficientes para que minha mão soltasse o nó e o tecido branco caísse ao redor dos meus pés no chão. Revelando meu corpo branco como porcelana completamente nu.
Seu olhar percorreu todo meu corpo me causando formigamento. Quando se aproximou e passou seus dedos delicadamente sobre a pele do meu ombro senti um arrepio subir por minha coluna.

- Seu corpo é como uma obra de arte, sua simetria perfeita, a pele delicada e pura. É belíssima. - Sussurrava as palavras perto do meu ouvido enquanto percorria os dedos por minhas costas. Permaneci imóvel apenas aproximando a carícia.

Fazia tanto tempo desde que havia experienciado um toque tão delicado em meu corpo. Em minha casa com meus companheiros de clã as coisas eram mais fortes, brutas até. Não que eu ache ruim. Amo todas as formas de amor carnal.
Me auxiliando a entrar no vestido ele apertou com firmeza o espartilho na parte posterior deixando meus seios em evidência no decote.

- Um belo vestido deve acompanhar uma bela joia. - Disse enquanto chega por trás colocando um colar preto com rubis em meu pescoço. Eu observava seus movimentos pelo espelho.

- Me sinto honrada em receber esses presentes. Isso será retribuído em breve se me permitir. - Respondo com a voz suave passando meus dedos pelas pedras que me adornavam. 

Me senti pertencente à realeza. Diferente do meu estado anterior com sangue seco grudado na pele. Recordo-me de quando nos conhecemos a algumas horas atrás e ele afirmou nunca ter visto tanta beleza em um banho de sangue. Olhou em meus olhos me cortejando como se eu fosse a criatura mais linda na qual ele já havia posto os olhos.
Ao terminar de abotoar o colar sinto seu rosto próximo ao meu pescoço e sua respiração longa sobre minha pele. Como se tentasse memorizar meu cheiro ele percorreu a ponta do seu nariz até o pé do meu ouvido.

- Tão doce. Você é extremamente cheirosa. - Sussurrou me sentindo arrepiada de novo. Era como se eu não conseguisse controlar as reações do meu corpo mesmo morto. - Não ache estranho eu te cheirar. Acredito ser uma forma de afeto. 

- Não se preocupe, não me incomoda nem um pouco. - Disse sorrindo, mostrando meus dentes brancos. Me aproximo dele quase sentindo seu peito tocar no meu. - Acredito que preciso ir mas preciso dizer que estou muito grata por tudo. Meu lar estará de portas abertas para você, espero vê-lo em breve. - Disse num tom baixo quase melodioso então me inclinei copiando seu gesto e inalando seu cheiro antes de pousar meus lábios em sua bochecha.

Minutos mais tarde ele me assiste partir pela porta principal e não deixo de notar o sorriso suave puxando o canto da sua boca seguidos do seu olhar caloroso em minha direção.
Se estivéssemos em meu lar Toreador não teríamos parado até que ele se fartasse de meu corpo e do dele. Mas como eu não estava em minhas terras teria que adotar uma postura mais delicada e elegante. E essa era a minha forma de diplomacia, criar alianças nunca foi difícil. Radu... Ele não perde por esperar.

Diário de Annya Katerina de BorgonhaOnde histórias criam vida. Descubra agora