Neil morde um pouco a língua. O maldito ainda estava vivo. Ele ficou preocupado com seus amigos e com seu namorado. Mas Riko não tinha mais poder para fazer mal a eles, e, como se Kevin estivesse lendo seu rosto, ele falou:
— Ele não se lembrava de mim.
Os outros agora o observavam, cada um com uma reação diferente.
— Então o corvo que caiu do ninho e bateu a cabeça perdeu a memória — foi Andrew o primeiro a falar, com um leve sorriso.
— Parece que nunca vamos ter sossego — diz Nicky.
— Acho que isso é mais perigoso para ele do que para nós. Ele está andando por aí sem as lembranças — comenta Aaron, enquanto lê seu livro e toma sua bebida favorita.
— Como diabos ele sobreviveu? Foi literalmente um tiro na cabeça — Neil estava indignado que aquele "corvo" tivesse sobrevivido a isso.
— Milagres acontecem — diz Andrew com um sorriso. Kevin estava inquieto, e Andrew percebeu.
— O que mais aconteceu? — pergunta.
Kevin olha para todos e continua a falar:
— A polícia diz que é um caso de desaparecimento, mas para mim... parece mais um sequestro. Quando me encontrei com ele, ele estava usando roupas novas, não as que os Moriyama lhe deram.
— Que tipo de roupa? — pergunta Nicky.
— Uma blusa branca e um short muito curto, para o meu gosto — as últimas palavras saíram quase como um murmúrio.
— Conte mais. Ele estava acompanhado de alguém? — questiona Aaron.
— Não. Mas ele tinha um lugar para onde voltar, então tem alguém cuidando dele. Como ele sairia do necrotério sozinho? Como sairia do congelador de cadáveres? Ele literalmente tinha acabado de "voltar dos mortos"; deveria estar exausto.
Kevin falava rapidamente, como se não conseguisse acreditar nas suposições dos policiais de que Riko estava apenas desaparecido, como se ele tivesse fugido de todos. Kevin viveu tempo suficiente com Riko para saber que ele preferiria morrer a ser caçado.
— Ichiro já deve saber das novidades, de que seu irmão está vivo — Neil sorri, pensando no que seu chefe faria. Será que ele tentaria matar Riko novamente ou manipularia ele? Se Riko realmente perdeu a memória, isso poderia ser usado contra ele.
— Vamos deixar as autoridades resolverem o caso — diz Andrew, surpreendentemente.
— Andrew confiando em policiais... vai chover — diz Kevin sarcasticamente, recebendo um olhar mortal de Andrew.
Riko não sabia quanto tempo passou chorando ou implorando para que Lúcifer abrisse a porta. Ele se sentia tão sozinho; agora, tinha apenas seus pensamentos como companhia. Mas sua mente era traiçoeira e vivia pregando peças. Ele começou a ouvir vozes em sua cabeça — vozes que não eram as suas, mas de outra pessoa. Mantinha a luz do quarto acesa, pois tinha medo do escuro. Mas, toda vez que apagava a luz, tinha pequenos flashes de lembranças da infância. Nessas memórias, ele sempre tinha um amigo de cabelos pretos e olhos verdes. Eles estavam sempre juntos; era sempre ele ao seu lado. Onde será que ele estava agora? Pensar nele trazia uma tristeza profunda.
Riko tinha apenas água para beber, o que ajudava um pouco. Seu corpo, mesmo fraco, não parecia reclamar tanto da falta de alimentação. Ele era alguém frágil, mas, ao mesmo tempo, havia uma força silenciosa ali.
Ficar tanto tempo sozinho naquele quarto o deixava cada vez mais triste. Quando Lúcifer viria vê-lo? Ele não sabia quanto tempo havia passado, sentia-se perdido. Aquela corrente no tornozelo só aumentava sua insegurança, mas todos os pensamentos sempre convergiam para a mesma pessoa: Lúcifer. O pulso doía menos agora, embora ainda tivesse algumas marcas roxas pelo corpo. Pelo menos seu rosto estava intacto. Ele se sentia vaidoso — seria ele sempre assim?
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A memória, a história, o esquecimento.
DragosteTodos pensam que riko está morto, que tinha se matado por não aceitar a derrota. Mas ele sobreviveu, sem suas memórias. Ele diz ser seu marido, riko não sabe em quem confiar ou chamar. Ele luta, mas está fraco de mais.