Capítulo 9 - Rebecca

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AGORA


Anos de terapia. Anos. E ao primeiro toque eu consegui desmoronar.

Merda.

Eu me sentia um lixo.

Já haviam se passado semanas e ainda conseguia sentir raiva. Eu caminhava pelos corredores do hospital evitando encontrar com os 4 desgraçados.

Merda, merda, merda.

Aquela situação só serviu para que eu visse o quão quebrada eu ainda estava.

Felipe não dormiu junto comigo naquela noite, ele dormiu sentado na poltrona sem querer arriscar deitar na mesma cama em que eu dormia. Ou tentava dormir. Não nos falamos muito depois daquilo, apenas trocando atualizações por mensagem de texto.

— Você não parece bem — Cora falou me entregando o tablet com a ficha da paciente.

— Mulher, 32 anos, 4ª gesta, 3 abortos, idade gestacional de 22 semanas e 5 dias — li a ficha da paciente em voz alta tentando evitar pensar no assunto.

— Ela tem útero bicorno, você já vai examiná-la? — falou entendendo a indireta.

Assenti e ela saiu, indo para o quarto preparar a paciente.

— Você fica tão sexy nesse jaleco — me segurei para não pular como  um coelho assustado, com a voz de Victor ao pé do meu ouvido — só o que eu queria nessa vida é te foder usando só ele sabia.

Continuei olhando o histórico da paciente ignorando-o quando ele se aproximou um pouco mais colocando a mão na minha cintura me apertando contra si.

— Me fale sobre a nossa paciente — me afastei torcendo o seu dedo mindinho, até que ele sentisse que eu não estava blefando — caralho garota, tá maluca? Essas são minhas ferramentas de trabalho.

— Tire as suas ferramentas de trabalho e as de diversão de perto de mim ou você vai acabar acordando com elas enfiadas na sua garganta — sorri lhe entregando o tablet.

— Se você continuar com essa atitude agressiva, vai acabar sendo demitida sabia — o loiro falou fazendo um beicinho e massageando a mão.

— Se você não parar de me assediar, é você quem vai pra rua.

Ele riu de maneira debochada, secando lágrimas imaginárias dos olhos antes de falar.

— E que vai me botar na rua? Você? Mostre as suas garras tigresa — ele se afastou em direção ao quarto da paciente com um sorriso malicioso.

Entrei um pouco depois e ele já estava examinando-a. O sorriso ardiloso estampado em seu rosto, olhando para a paciente nitidamente desconfortável, com seus pés nos apoios e as pernas abertas para o exame de toque, enquanto ele movia seus dedos dentro dela por mais tempo que  o necessário.

— Eu já havia avaliado o caso dela, talvez seja necessário fazer uma cerclagem — falei alto o suficiente para que ele percebesse que eu estava ali.

Suspirando, encerrou o exame, arrancou as luvas e descartando-as. A mulher de cabelos castanhos presos em um coque frouxo, me olhou expressando um "obrigada" silêncio enquanto ele lavava as mãos.

— Ela está com 3cm de dilatação, nós vamos fazer uma cerclagem que é uma sutura no colo do útero, para evitar que ele continue dilatando — ergui uma sobrancelha sem acreditar que ele estava me explicando o procedimento que eu mesma lhe sugeri — explique para a paciente como é feito e prepare ela para a cirurgia.

— Cirurgia? — perguntou em pânico enquanto o médico abandonava a sala.

Expliquei a ela todo o procedimento, transmitindo o máximo de calma e confiança, respondendo todas as perguntas e questionando se ela estava sozinha ou se seu acompanhante estava jantando.

A Escorpiana: Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora