Capítulo 24 - Rebecca

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AGORA

Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.

Um abraço caloroso, apertado e de alguém que eu confio. Foi tudo o que eu precisei para desabar. Eu não queria ser tão fraca. Resisti à tantas coisas e sabia que as coisas poderiam ficar perigosas desde o começo. Eu sabia que algo assim poderia acontecer, só não esperava me sentir tão vulnerável.

Porra.

Nos braços de Cora eu me desmanchava em lágrimas, não por medo da morte, mas por raiva. Raiva de mim mesma por ter me deixado ficar tão fragilizada e raiva por não prever quem poderia ter coragem pra tentar me matar.

Depois que as lágrimas se esgotaram e os soluços cessaram Cora pôde começar a limpeza do meu braço.

— Você quer ir pra minha casa hoje? Eu posso fazer um chocolate quente ou podemos tomar um pote de sorvete ou os dois, e podemos ficar acordadas a noite toda enquanto eu te distraio com as histórias da minha família doida.

Enquanto uma das residentes, a qual eu não lembrava o nome, aplicava a anestesia local e suturava o rombo no meu braço, Cora se sentava comigo na maca segurando a minha mão do lado oposto ao ferimento e com a outra mão espalmada nas minhas costas, desenhava círculos, como se fosse uma mãe cuidando de uma criança com medo de agulhas.

— Não, tá tudo bem, você precisa descansar também — Sentia os meus olhos pesados querendo apenas fechá-los, deitar nessa maca e dormir até sabe-se lá quando.

— Tá, certo, mas então me passa o número do dono da Bangkok, assim eu já deixo tudo cancelado e também já vou avisar a Alice — pegou seu próprio celular, abrindo a tela de adicionar contatos.

No meio de toda essa confusão eu acabei esquecendo o que tinha programado o jantar da Bárbara para hoje. Peguei meu celular, tentei ligar e soltei um palavrão ao lembrar que estava sem bateria. Droga, essa porcaria de iPhone estava sempre sem bateria quando eu mais precisava.

— Não... Vamos manter o evento de pé – Ergui os ombros e ignorei a encarada da garota que segurava a agulha com a pinça —, eu preciso de uma distração e essa festa vai ser ótima pra isso. Prefiro me divertir em uma noite das garotas do que ficar pensando em como eu quase morri.

Ela mordeu o lábio provavelmente pensando em descordar, mas aceitou com um meneio de cabeça.

— Pronto, a cicatriz vai ficar meio irregular porque as bordas estavam um pouco finas, agora só falta fazer um curativo — abriu um pacote de gaze estéril enquanto falava– eu vou te passar uma receita de ibuprofeno para a dor e em caso de inchaço e vermelhidão você...

— Sim eu já sei como funciona – cortei seu tom explicativo com deboche e antes que ela preparasse os curativos Cora a interrompeu.

— Pode deixar, eu faço — tomou a frente com um olhar frio e pegou um par de luvas.

A residente saia murmurando algo como "Puxa saco", mas eu estava cansada demais até para revirar os olhos e Cora não se importava o suficiente com gente babaca pra retrucar.

— Você pode chamar um carro de aplicativo pra mim depois? Eu meio que estou a pé e sem celular — falei ao apontar o aparelho.

— Você quer que eu te leve para a casa? — inqueriu ao terminar de colar a gaze e retirar as luvas.

— Não precisa, sério amiga, eu estou bem.

...

Cora esperou comigo no estacionamento para pacientes até que o carro chegasse e nos despedimos após ela me fazer prometer que ligaria caso precisasse de qualquer coisa.

A Escorpiana: Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora